PESCARIA NO RIO VERMELHO II - GOIÁS





(....continuação)
- Após buscarmos todas as coisas no carro, iniciamos a organização rapidamente dos apetrechos, escolhemos o local, fizemos a limpeza, separamos os pontos de montar a barraca (aquela verde antiga do exército) e os três saíram para vasculhar o terreno, para variar eu fiquei para montar a cozinha. Com algumas pedras e galhos, logo fiz o fogo e coloquei um estrado de aço em cima da fogueira e sobrepus uma grande panela de alumínio cheia de arroz com carne seca para esquentar, irrigando com alguns copos dágua (tínhamos levado também um tambor de 40 litros).
- Agora já reconfortado, comecei a sentir o momento único que estava vivendo. O dourado do Sol refletindo na água vermelha do rio, barulhos silvestres, sons diferentes, estávamos isolados do mundo civilizado.
- Resolvi a fazer um cafezinho esperto enquanto a comida esquentava, o famoso café na cueca (brincadeirinha) mas muito esperto, terminado, provei-o, um gosto meio estranho, tinha caído uma dúzia de formigas vermelhas dentro do café e deu um sabor todo especial, iaaq!!! Mas ninguém viu.
- Eles estavam demorando, eu sentei em um tronco caído e passei a observar o ambiente, de repente do outro lado do rio observei um grande gato do mato malhado, passeando calmamente as margens, olhei para o alto diversos pássaros coloridos transitando em vôos espetaculares e libertos. Ao olhar para o rio deparei-me com uma cena incrível, um cardume de pintados a beira da praia se alimentando das pataquinhas (peixes pequenos tipo lambari), assim fiquei por umas 2:00hs, até que o grupo chegou provocando uma confusão geral, justificando:.. fomos a um rancho de um amigo uns 2 km, para pegar iscas novas (minhocas californianas), estamos morrendo de fome, sem esperar resposta atacaram as panelas e saborearam o arroz e o tomate picado com limão e de quebra umas doses de espanta mosquito(pinga de engenho), inclusive degustando o café com o gostinho de formiga cabeçuda das brabas e cada um foi dormir em seu canto.
- O tempo passou rápido, o poente começava a perder a cor dourada e a lua e as estrelas estavam aparecendo no céu.
- Começa a cair o manto noturno, o vento mudou a sua temperatura do quente escaldante para o frescor da boquinha da noite. Naquele momento me senti solitário, a turma dormindo, a noite chegando e eu ali na praia, branca como um lençol a espera de seus habitantes naturais.
- Procurei um lugar para iniciar a minha pescaria, sentei-me em uma ponta de uma pedra que não tinha formigas e outros elementos perniciosos, os mosquitos não incomodavam mais, preparei a vara com uma linha especial, anzol médio, chumbada pequena, considerando a pouca corredeira e joguei, observando a profundidade do piscoso veio. Dava uns 5 metros de profundidade no canal, então organizei tudo, e lancei a minha isca (minhoca seca de Goiânia, as melhores) que afundou rapidamente.
- Os minutos se passaram e eu tentando enxergar no escuro e reconhecer os barulhos estranhos, sapos, urros de onça, corujas e as costumeiras batidas de peixes. Distraído, senti uma beliscada forte, em seguida o peixe correu e eu fisguei o bruto, a linha chegou a zunir, duas corridas e parou. Imaginei.. era um mandi amarelo dos grandes, coloquei de lado a vara e comecei a recolher a linha com as mãos e percebi que o peixe estava muito tranqüilo e pesado, desci da pedra e fui a praia calmamente, para não raspar a linha e com a lanterna (Ray.o.vac) quatro pilhas iluminei a água e vi o Sr. Mandi Amarelo de uns 3 Quilos, retirei-o com muito cuidado respeitando os seus espinhos dosais e laterais com grande poder de infecção, quebrei-os e coloquei-o dentro de um puçá grande.
- Só de sacanagem eu dei um grito de alegria, para acordar a turma, perfeito, acordaram xingando até a minha terceira geração, faltaram pendurar-me pelos pés no alto de uma árvore espinheira, mas ficaram felizes quanto gritei que era um peixe grande para o almoço e eu que iria fazer.
- Ao acordar cada um cuidou de alguma coisa, meu avô falou que iria até o pé de pequi, para ver se tinha rastro de caça, meu pai logo foi arrumando a sua vara para pescar também e o pernicioso, ficou perto de mim puxando conversa rasteira e sem rumo. 
- Eu estava sem sono e fiquei pescando peixes pequenos durante toda a noita, nada dos butelos de 10 a 12 kg, comum na região, meu avo consegui abater um catitu pequeno e meu pai escolheu um lugar cheio de coivara e passou todo o tempo arrebentando a linha e chingando ...assim foi até quando o nascente começou a ficar dourado e as lindas e brilhantes estrelas, foram desaparecendo com a chegada de mais um dia.
- Acordamos já bem tarde, todos com muita fome, eu fingi que estava dormindo não queria nada com o rancho, meu pai cuidou de tudo, fez café, esquentou os biscoitos e fritou alguns ovos mexidos para comer com pão torrado e manteiga e desceu para o local da tranqueira. Eu levantei olhei para os lados e percebi que meu avo e o esquisito havia sumido, estava pronto para mais um dia naquele paraiso, ao começar a tomar o café percebi que o biscoito havia acabado, o ovo nem rastro, esbravejei, que meleca... não deixaram nada para mim.. comi pão seco e biscoito duro e fui dar uma voltinha....
- Quando voltei após colher as ditas frutinhas do mato, doce que nem um favo de mel, deparei-me com uma aranha gigante nem tanto, mas bem cabeluda na panela perto do fogo, devagarzinho, passo a passo peguei a tampa e tampei a aranha dentro da panela, fiquei avaliando a situação.... quando o meu lado bom resolveu a fazer uma boa ação, liberar a aranha mas o meu lado maquiavélico resolveu a passar um susto no companheiro de pescaria que já estava torrando o saco. Analisei todos os ângulos e resolvi a caranguejeira dentro da sacola de roupas do elemento, então foi feito, tudo com os mínimos detalhes.
- Com a minha porção de bondade em funcionamento, iniciei os preparativos para o almoço, limpei o peixe guardando os miudos e barrigueira, retalhei o amarelinho e passei um tempero especial que a minha mãe preparou, aqueci o fogo com madeira nova e coloquei-o na chapa e e bichinho foi assando...assando... até que ficou no posto e começou a cheirar, convocando todos para o almoço, comemos ate a cabeça do danadinho, com um resto de arroz, pescaria é assim, sem frescura. 
(continua...) eu vou dormir.....
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Kulayb
Enviado por Kulayb em 04/02/2008
Reeditado em 01/07/2008
Código do texto: T845305
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