Anna a italianinha

1974, fomos contratados por uma empresa americana para fazermos um treinamento em uma fabrica na Itália, em uma localidade nos arredores de Milão, Cassina d’ Pecchi.

Éramos todos jovens , todos homens, descobrindo o mundo e se achando ao mesmo tempo, donos dele.

Para uma melhor acomodação do grupo, ficamos alojados em um flat, de nome: Residence Concord, em uma esquina da Vialle Monza, angolo via Petrocci ( Avenida Monza, esquina com Rua Petrocci).

Primeiros dias, um mico atrás do outro; também fomos contratados e enviados a toque de caixa ao destino, sem falar o idioma e sem conhecer patavinas da cultura italiana.

A maioria, recém formados em engenharia, sem nenhuma experiência anterior.

Claro que nesse caso se formam grupos de poucos, ou porque vieram da mesma escola ou por afinidade ou por qualquer outra razão.

No meu caso, eu repartia um apartamento com um desconhecido, um cara do Maranhão, que estudou no Rio.

Pouco falávamos, pois ele gostava de coisas diferentes das minhas, e tinha um defeito que pra mim é o fim, era terrivelmente avarento.

Eu queria conhecer o mundo, ele queria economizar...não podia dar certo.

Dado essa incompatibilidade de gênios, formei com outros um grupo, dos que queriam viajar e curtir.

Na época, eu não tinha nem um passarinho para dar alpiste, vinha de uma vida de dureza extrema, era a minha vez.

Do grupo que formei, tinha também o Tigrão de Sampa, moleque como eu; o João Gordo, carioca gente fina, apesar de ter sido criado pela avó; e o Beleza...ahhh... o Beleza, também carioca, de Ipanema, também filho único, mas , daqueles paparicados como cachorro de madame, e com índole de cachorro de madame.

O tempo foi passando, nossa vida era fábrica – casa - fábrica, e nos finais de semana, viagem, afinal estávamos no centro da Europa, e Paris, Zurich, Roma, Barcelona, todas a 10 horas de trem...uma covardia ficar em Milão nos finais de semana.

Mas agora posso dizer, que nem só de trabalho e viagens vive o homem...é preciso mulher.

O frio de final de ano impossibilitava qualquer avaliação mais acurada, sobre todo o material feminino italiano... a mostra somente os rostos.

As mulheres, naquela nossa situação de penúria e celibato, já ficam normalmente mais bonitas, mas as italianas são realmente lindas...de rosto, o resto era só nossa imaginação.

O frio intenso, tirava o impulso das saídas, então sobrava somente a possibilidade de garimpar na própria fabrica, alguma “colega” disponível.

Missão difícil, porque elas eram ariscas, afinal sabiam que estávamos ali por um período, e se desse alguma coisa errada, não teria por perto o autor da arte.

Outra coisa era a tradição, pra comer tem que noivar ( fidanzare), e nós não sabíamos que se podia ficar “fidanzato” já no primeiro encontro, mera formalidade.

No setor de testes finais de produto da fabrica, tinha uma italiana, linda, tipo Sofia Loren, com olhos grandes, e boca carnuda, desinibida e se dava muito bem conosco...

Seu nome era Anna, e povoava as mentes e os sonhos solitários da maioria dos homens daquela fabrica.

Ficou meio que como questão de honra, comer aquele monumento.

Quem fosse o contemplado, seria eternizado como um “garanhão”, internacionalmente reconhecido.

Não preciso dizer que o Beleza se atirou na empreita como se fosse a ultima batalha da vida, afinal, seu apelido retratava o que ele pensava de si próprio.

Justiça seja feita, o cara até era bonitinho, andava sempre muito bem arrumado, fosse hoje seria um “mauricinho”.

De todos, ele era o único que a família ainda mandava grana no fim do mês, os outros todos conseguiam inclusive economizar uma grana, mesmo gastando a rodo.

Tanto o Beleza fez, que um dia, não sei se pela insistência , ou por mérito dele, a Anna resolveu aceitar o convite para uma tarde juntos, no fim de semana.

Aqueles dias foram de pura empolgação e arranjos, afinal alguém tiraria o pé do lodo e logo com a “gostosura” da Anna.

Mil recomendações para evitar constrangimentos, até porque o Beleza e o João Gordo, dividiam o mesmo “flat”.

Tudo arranjado, no domingo depois do almoço o João ficaria na minha casa, e deixaria o local reservado ao nosso Dom Juan carioca...

Como em turma, tem sempre um sacana, resolvi que devíamos ficar a espreita, e na chegada do casal, deixaríamos um gravador debaixo da cama, vai que possamos dar umas boas risadas depois...

Assim foi feito, quando os dois estavam a caminho do ninho de amor, ligamos o gravador e sorrateiramente deixamos o local do crime.

Umas duas horas depois, estávamos no meu flat, assistindo TV, e eis que entra o nosso herói, o comedor, o primeiro da turma a inaugurar uma italianinha...

-E ai Beleza, como foi?

-Rapaz, essa nunca mais vai querer um desses babacas daqui...

Foi uma loucura, deixei a mulher tonta, fiz isso...bla...bla...bla...é isso ai, agora vocês vão ter que me engolir (isso ele não falou, mas podia ter falado), eu sou o fodão!

Meia hora só de relato do que deveria ser um roteiro de filme pornô, daqueles que ainda não conseguiram filmar...

Enquanto ele se gabava do feito, o João foi até o quarto, e trouxe o tal gravador...e na sua frente, ligou o mesmo.

Para surpresa na gravação o discurso era bem outro...

(Vou reproduzir em português, por razões obvias)

Ela, em italiano

-Vem amor, hoje tenho a tarde todinha só pra você.

Ele, em italiano

-Anninha querida, hoje você vai conhecer o que tem de melhor no Brasil

Ela, em italiano

-Vou me trocar no banheiro...

Ele em português...

-P.Q.P...é hoje que a jurupoca vai piar...vai fundo “belezinha”...

Ela voltando do banheiro, já nua...

Ele, em português.

-P.Q.P, que é isso?

-Essa mulher parece um macaco, toda peluda, a perna tem mais pelos que a minha...

-Meu Deus, que é isso debaixo dos braços...parece um bom bril...caraca..., cheira pior que paraiba de obra...e a mata, parece a floresta amazônica.

Ela, em italiano

-Que foi amor, sou sua...

Ele, em português., falando com suas partes baixas...quase suplicando.

-Vamos lá garoto, levanta, vamos honrar a pátria...

-Pô cara , você não vai me deixar na mão logo agora, né?

Ela, em italiano meio que reclamando

-Então Marco o que esta acontecendo?

Ele, em italiano

-Não sei isso nunca me aconteceu antes...

Ela, em italiano

-Quer dizer que no Brasil vocês dão a mesma desculpa?

Ele, em italiano, quase chorando.

-Por favor não fale nada para os meus amigos, senão aqueles putos vão me tirar um sarro....

Ela, em italiano, pelo jeito já se vestindo...

-Tudo bem, então já me vou.

Ele, em italiano, meio que se desculpando..

-Te levo pra casa..

Ela, em italiano,dando um basta

-Pode deixar me viro sozinha, tem uma estação do Metrô logo ali..

O ultimo som da gravação foi o bater da porta e um sonoro...PUTA QUE PARIU ...em português.

Lune Verg
Enviado por Lune Verg em 19/02/2008
Código do texto: T866043