O MEU PRIMEIRO BEIJO

 

- Aos 14 anos, acompanhava a minha querida avô com seu costume português, em suas visitas as Comadres todos os dias a noite. Por incrível que parece nos íamos durante os trinta dias do mês sem repetir uma, êta época das Comadres.

- Mas tinha uma especial, a Dona Sofhia, amiga de longa data, descendente de árabe, fazedora de uns quitutes especiais, eu me deliciava.

- Toda vez que chegávamos a residência da Dona Sofhia, um casarão estilo sobrado, muros e janelas de ferro, com desenhos de cavalinhos nas pontas, arquitetura arte dec´o, escadas de mármore branco, móveis antigos,   linda a figura, com quintal imenso, cheio de diversas plantas, flores, arbustos, suculentas, parasitas, inclusive as orquídeas raríssimas, um tesouro. 

- Cada visita uma situação diferente, neste caso, muito especial, foi lá que conheci uma menina clara, de olhos claros, cabelos compridos, loiros, lisos, até a cintura, era sua sobrinha e estava passando às férias em sua casa.

- Ao primeiro impacto, fiquei extasiado, envergonhado, desconfiado, adormecido, anestesiado, sei lá, alguma coisa parecida. Sem palavras, com a vergonha da idade, ou da infantilidade, diante aquela fada maravilhosa.

- Logo ao chegar, olhei e percebi a mesa do carteado já armada, eles adoravam jogar um buraco, toalha vermelha, baralhos novos, um caderno em espiral já mastigado pelo tempo e uso, onde se guardava as anotações de partidas anteriores, se jogava em dupla e a minha avô e a Dona Sofhia era a dupla max, mix, sei não, mas eram as campeãs.

- Naquele dia cheguei e fui para o sofá, era um ritual, ligava a televisão preto e branco, pegava uns quibinhos fritos e os mastigavam vagarosamente , degustando aquelas preciosidades. Não me importei muito com aquela menina. Dando uma de machão, idiota não.

- Ocorre que, sem menos esperar ela chegou e me trouxe um suco de laranja, bem docinho como gostava, encorpado, em um copo de cristal bem transparente e desenhos bordados a sua volta, no primeiro gole, percebi que  estava uma delícia o sabor.

- Todos estavam na Sala  jogando e eu e aquela menina linda ao meu lado, devia ter também uns 14 anos olhando para televisão, sem assistir muito bem o que estava passando, Bonanza, RinTinTin, também não me lembro. Mas tenho a certeza que de canto de olho eu a olhava e ela brincava com os teus cabelos fio de seda.

- Perguntei a ela qual era o seu nome?

- Valquíria..

- Pensei, será uma Deusa Vicking!!!

- O meu é Kulayb...

- Que nome importante...

- Foi só.

- Passado alguns minutos, ela me chamou para olhar a lua,

- Pensei, que chatice, mas vamos lá..

- Saímos ao jardim e olhamos a lua, branca, cheia, hipnotizadora.

- Ela falou, esta lua é a lua dos namorados.

-  Olhei e perguntei, como você sabe?

- Eu não sei, eu sinto!!!

- Mas eu não sou seu namorado?

- Ela falou, não é por que você  não quer; se quiser serei sua namorada!!!

- Coitado de mim, conheci aquela Fada naquele dia  e ela já estava pensando que eu era seu namorado!!!!

- Fiquei desconfiado, não sabia nada sobre o assunto. O que fazer, um rapaz do interior, sem saber nada.

- Ela pegou em meu dedo mindinho e começamos a caminhar pelo jardim, o aroma do verde, invadia as minhas narinas, coração começou a bater acelerado e olhava para ela e ela estava normal,  fixada  na Lua, dizendo, ‘’ Lua, Lua, um dia vou ser sua, Lua Lua, um dia você vai ser minha, clareie a minha vida enquanto sua adoradora caminha...’’.

- Parecia uma oração, de uma adoradora da lua, coisa estranha, uma menina de 14 anos com uma visão intensa,  dos poderes dos elementos universais, fui perceber aquele momento muitos anos depois de escutar contos, cantos e trovas de sábios cantores de outras religiões.

- Momento, forte, cheio de transe, ela segurando a minha mão, fez eu sentir uma paz, e procurar a vida intensamente, me preparando para o futuro, procurando as manhãs e as noites como amigas eternas da grande caminhada, de uma futura história que poderia acontecer.

- Minuto que compôs de uma felicidade intensa, aproximando ela olhou para mim e disse, feche os olhos, eu fechei, quando ela colou teus lábios aos meus suavemente, como o bater asas de uma borboleta.  Fique paralisado, absorvi aquela energia de uma forma tão infantil e madura que senti a abertura  dos caminhos de uma vida sofrida que estaria por vir.

- A forma simples do beijo me deixou um gosto tão agradável que nunca mais esqueci.

- Quando eu percebi, estávamos no meio do jardim olhando para Lua, cercado de verde escuro  ao tempo  clareante  pelo intenso brilho da mágica Lua.

- Resolvemos a voltar, ela sorrindo e disse, e ai,  seremos namorados? Ficarei aqui mais 20 dias, gostaria de tê-lo ao meu lado.

- Gaguejando, respondi, claro, claro, seremos namorados, o tempo que você quiser..adoraria Valquíria Deusa Vicking.

Assim, o tempo passou, os dias passaram, dois  jovens namoraram, olharam a Lua, amaram a Lua, cantaram ao luar, recitaram poesias ao luar, durante os restantes dias.

- Diante a tanta beleza, eu escrevi uma verso para esta Deusa, que ela guardou entre os teus segredos e despediu dizendo, olhe para Lua quando sentir saudade  de mim, eu sou de um lado e você de outro, mas sob o brilho do luar estaremos sempre juntos.

- Na partida, eu chorei, arrebentou-me o peito, o coração, estava perdendo a minha Deusa, o primeiro amor, mas estava começando a entender a vida, com suas alegrias, tristezas, tudo tem o seu preço, o universo conspira a teu favor em formas estranhas e alegóricas.

- A Dona Sofhia faleceu alguns meses depois, a sua casa foi vendida,  e depois demolida, o sonho acabou, as flores secaram, o sabor do beijo se misturou com o sabor da vida, mas a Lua continua inspirando os amantes, poetas; A Valquíria- Deusa Vicking, nunca mais, como havia prometido, não era para escrever, telefonar ou chorar, apenas recordar do meu primeiro beijo.

- Percebi ali  que as energias  místicas se envolveriam  em minha vida, mostrando que o mundo é cheio de estranhos caminhos, provando que elas te ajudam a superar os problemas mais difíceis, nas diversas formas terrenas, basta você abrir o coração para Deus.

 

 

 

 

Kulayb
Enviado por Kulayb em 20/02/2008
Reeditado em 20/02/2008
Código do texto: T868369
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.