Não era dia para reunião, muito menos para festa!

NÃO ERA DIA PARA REUNIÃO, MUITO MENOS PARA FESTA!

Nasci no bairro de Jaraguá, em Maceió, na Rua Silvério Jorge, nº 14. Ali vivi até os meus oito anos de idade, quando meu pai comprou um terreno no Trapiche da Barra, Rua Dr. Paulo Neto, onde construiu a casa na qual eu passaria o final da minha infância, adolescência e o início do meu casamento, quando nasceu meu primeiro filho, o André Luiz.

Àquela época o Trapiche era um bairro promissor. Empresários, profissionais liberais e funcionários públicos construíam suas casas ali, imaginando que o crescimento da cidade também seria para aquele lado.

Acontece que, sem planejarem o futuro, acharam de implantar naquele local uma indústria química, a SALGEMA. Com isso, os imóveis do bairro despencaram de preço, chegando a menos da metade de seu valor real, fazendo com que até hoje o Trapiche não consiga se desenvolver.

Apesar disso, a minha vida lá, teve muitos momentos bons! Muita brincadeira na rua: rouba bandeira; garrafão; queimado; jogo de bola. Muita praia, pescaria, descida nas dunas de areia branca... Pegar passarinho no “Alto”, perto do “Areião”, e muitas histórias! Histórias pitorescas como a que agora eu vou lhes contar.

Havia no bairro um pequeno clube social que era freqüentado pelas pessoas simples do local. Chamava-se Riachuelo. A diretoria do clube andava às voltas com a necessidade de fazer reformas, pintar o salão de dança, enfim, melhorar o aspecto da pequena casa, sede do clube.

Marcaram uma reunião para o sábado próximo, assim, definiriam as diretrizes para resover os problemas de caixa, cobrança dos inadimplentes, aumento de mensalidade, e, logo após a reunião, fariam mais um “rela-bucho”, que era do que todos gostavam mesmo!

No dia aprazado, muitos sócios chegaram cedo para participarem da reunião. O Presidente do clube, um baixinho que ostentava um bigodão, pegou o microfone e começou a falar sobre a pauta da reunião. Discutia-se sobre as reformas, sobre os sócios caloteiros, e também sobre o aumento da mensalidade, que custava mil cruzeiros, e alguns queriam que passasse a custar cinco mil cruzeiros!

No acalorado da discussão, o presidente ergueu a voz, já alterado, e disse: “ já passou natá, carnavá, já istamo em abrí, os sócio num paga nem mí, avalí cinco mí “. Nisso, o bigode dele enganchou nas ranhuras do microfone, e na tentativa de desenroscar, ele tocava o lábio na parte metálica do referido aparelho sonoro levando pequenos choques elétricos. Desesperado, o presidente gritava para seu filho: “ dirliga Tinho, dirliga Tinho"!

Refeitos do susto e da acalorada discussão, e sem nada terem resolvido sobre as finanças do clube, resolveram dar início ao “lustra-fivelas”. Porém, não era mesmo um bom dia para festa!

Quando o forró começou a tocar e o povão começou a dançar no pequeno salão, algum pé-de-valsa que havia pisado num côcô de cachorro lá fora, ao circular no salão de cimento batido com a sua “partner”, foi deixando um rastro de catinga tão grande que incensou logo todo o ambiente, acabando de vez com o baile, e até hoje, o presidente do Riachuelo procura o “fí da peste” que acabou com o forrobodó!