Mini-conto O VELHO TROPEIRO

Mini-conto

O VELHO TROPEIRO

Por Flavio MPinto

A estância naquela noite escura era um silêncio só.

O velho Turíbio sentado na entrada do galpão conversava com seu amigo fiel, o cachorro Calú. Eram as únicas almas acordadas.

- Que noite fria, D. Calú?

O esperto cachorro de campanha olhando a porteira cheirava o ar como se vislumbrasse algo bem familiar.

Parecia também, sentir vindo do fundo da estrada, velhas lembranças.

O velho tropeiro , calejado pela lida diária, conversava com o guaipeca e os fantasmas que, dizia, se escondiam atrás das árvores. Não havia mais ninguém para prosear e não era mais hora de matear. O cachorro era seu parceiro até no sonhar acordado e parecia concordar com o velho gaúcho.

- Olhe lá, D. Calú. Lá vem o Adarauba. Lembra daquele peão resmungão e mal criado que carneou o touro premiado do patrão? Agora o touro é só uma caveira encima desse tronco nos vigiando e fantasma não leva nada, nem assusta. Acho que a alma dele vem aqui só para olhar a maldade que fez.

O guaipeca parecia entender e procurava o fantasma do Adarauba na escuridão da estância.

De repente um vento frio entrou e tomou conta do galpão, revigorando o fogo de chão e fazendo-o soltar fagulhas. No seu banquinho de campanha, Turíbio se enrolou mais ainda na capa Ideal.

- D. Calú, nestas noites escuras e frias do pago, velhos tropeiros só tem a companhia dos fantasmas da estância e do cuzco amigo.

D.Calú enrodilhou-se entre as pernas do velho amigo e assim ficaram guardando a entrada do galpão até a chegada do sono e da peonada.