A VISITA DO AMIGO TURÍBIO

CHE QUEVARA

e a

Transformação da sociedade

FLÁVIO MARTINS PINTO

Fundação BIBLIOTECA NACIONAL/MEC

Escritório de Direitos Autorais

Nº de registro: 332.524-Livro:590-Folha:184

Protocolo de registro-2004RS_332

Mais uma do QUEVARA

A VISITA DO AMIGO TURÍBIO

A loira de Bento já havia se escalado de secretária quando Quevara nem havia siquer pensado em clinicar. Consultório então, ...

- Capaz que não seria eu...capaz.....dizia.

Mas o caso é que depois do fenômeno acontecido no Sanatório, o pai da gringa deu-lhe o consultório, como a própria prometera em pagamento de sua cura.

- Mas, olha, hein, Quevara, estou precisando fazer uma nova terapia, de acompanhamento, falou logo a gringa.

- Qué pasa? Que quieres más de mi?

- Tuuudo, meu Quevaaara, sussurrava a gringa assanhada que nem lambari de sanga, dentro de um esfuziante uniforme branco de enfermeira que mal cabia de tão justo.

- Bueno, já arrumaste a sala de espera que tenho paciente daqui a dez minutos?

- Temos muito tempo, Quevaara.

- Já colocaste a minha lanterna no lugar?

- Sim, meu Quevara. Vem, agora..

- Precisavas vestir essa roupa branca toda transparente?

- Prá ti, meu Quevaara.

- Não, não e não. E estão batendo na porta, vai lá atender.

- Está bem...está bem.. mas preciso de nova terapia, Quevara.

- Quevara, tem um guascão aí que diz que te conhece e quer uma consulta urgente.

- Guas, o quê?

- Um gaúcho lá da fronteira e disse que te conhece, Quevara. Mando o hôme entrar ?

- Si, si, si, adelante.

- Como le vai senhor Quevara?

- Ah, señor Turíbio,...

- Que mal le conte, mas que gringa assanhada essa , hein....bela chinoca

- É minha secretária, Turíbio. Mas que manda?

- Tive que le procurar. Tô na unha, tinha que le procurar. Não adiantava ficar dando voltas atrás de médico que nem bolacha em boca de véio, doutor!

- Mas e o casamento?

- Não deu, senhor Quevara, se foi. A gringa era muito saracura e andava parecia que tava corcoveando. Minha santa mãezinha disse que não me servia. Queria que ficasse lá no Passo da Guarda vendendo pastel de munhata e lingüiça frita pros viajantes.

- Mas era uma gringa muito linda, por supuesto?.

- Pôs, que nem laranja de amostra, mas o que eu queria era cruzar mesmo.

- E daí?

- Bueno, uns dias adespois daquela viagem , começou a me doer a pênis.

- E dói muito?

- Sim, eu sabia que não podia pisar nas beldozas no frio, mas ...

- Si, si, si....

- Pôs é, tava de alpargatas e molharam e.......

- Mas como dói ?

- Ah, sim, dói desde quando comi aquele pastel, acho que o vento..

- Mas o que tem a ver o vento com o pastel?

- Olha, vivente, lá na fronteira não tem japonês e o pastel tem sustância, tem guisado, ovo, tempero verde, massa de morder e tudo mais.

- Mas e daí?

- Claro, o pastel do japonês era grande e quando apertei para morder só saiu vento e começou a me doer a pênis.

- Mas de novo?

- Tu não sabe que se mede a quantidade da cultura japonesa no local pelo pastel?

- Por mil merdácias..

- E agora aquela gringa...

- E o japonês?

- Foi o que fez o pastel, ora...

- Mas onde comeste o pastel?

- Lá na rodoviária, e....

- Mas o que tem a ver o pastel, o japonês e a tua dor?

- Pôs tô lê contando, Tchê!

- Ai. Ai, ai, vai começar tudo de novo.

- Bueno, já que tu te faz de desentendido, comprei um pastel lá na rodoviária de um japonês e só tinha vento. Esse vento me deu um nó nas tripa, Tchê, e quando cheguei aqui me apareceu essa gringa assanhada bem na hora que começava a me doer a pênis. E olha que tô com a chincha bem apertada. A minha santa mãezinha tinha me dito para não comer pastel de japonês, que eu tava acostumado com os daqui do Passo da Guarda e tudo mais. E deu no que deu: na hora que apareceu a gringa , o troço começou a endurecer aqui..

- Onde?

- Aqui , disse o gaúcho soltando a guaiaca.

- Não precisa mostrar..

- Mas por quê não?

- Não precisa.

- Mas a minha mãe mandou mostrar pro senhor. Ela disse que eu já tava que nem capa de gaita.

- Na capa da gaita?

- Sim, só nariz e fundilho. E daí vim lê mostrar o negócio duro.

- Mas não quero ver seu negócio duro.

- Mas agora vai ver porquê tá doendo.

- Não, não, não..

Turíbio levou a mão á cintura para soltar a barrigueira, como dizia, e caiu desmaiado, ainda abraçando a guaiaca afivelada na cintura.

Quevara sentiu que a coisa era grave e correu para chamar seu vizinho de porta, que por sinal era médico cirurgião. E , de imediato o levaram para o pronto socorro e direto a uma mesa de operações.

- Uma bela de uma apendicite quase aguda.O apêndice por minutos não supurou e levou de cabresto o teu amigo campeiro, Quevara, confidenciou o cirurgião

No dia seguinte já estava bom. A operação tinha sido um sucesso e com a modernidade do hospital, dera sorte de não pegar uns carniceiros como sempre chamava os médicos, já estava com o pé no estribo pro Passo da Guarda.

- É, amigo doutor Quevara, a côsa tava feia. A enfermeira, que é da minha terra, me disse que quando cheguei no hospital eu tava feio que nem burro que come urtiga. Mas agora tô pronto prá comer muita lingüiça frita e pastel sem japonês por perto.

- Entonces o problema era no apêndice, não é Turíbio?

- Sim, sim...pôs tava querendo le contar, Tchê.

- Ah, bom.