Comprei um cão
Do tamanho que eu queria
Grande, forte, saudável.
Quando pequeno, bola de pelo.
Foi crescendo, cada vez mais brincalhão.
Até os nove meses
Adorava sapatos ao chão
Encontrava-os depois todo mordido e babado
Comia feito um leão
O resultado da comilança era desastroso
Saquinho de mercado cheio até as tampas
Aos quatro meses, após as vacinas.
Eduquei na caminhada
Não podia ver o enforcador
Corria já pro portão
Afoito, desastrado
Se tivesse algo à frente, derrubava.
Vaso, bicicleta do filho.
Podia ser uma porta, ele passava.
Longas andadas, cada árvore.
Uma mijada
Parecia carro pipa de tanta água que punha pra fora
Aprendeu a sentar, deitar, sempre tinha o agrado.
Moleque safado
Com prendas aprende fácil
Foi ficando adulto
Mas seu temperamento sempre dócil
Teve o dia que a filha treinando vôlei na parede
A bola caiu ao chão, logo abocanhou.
Quando chego do serviço, boca travada.
Se mexesse pra tirar. Rosnava
Língua pendurada, comédia cena, não fosse à dor que sentia.
Num só chute, preciso, na bola, ela foi parar a quatro metros.
Finalmente livre da bola
Mas a língua estava maior que de costume
A filha toda solicita, dá um relaxante muscular.
E o tempo foi passando
Quando a filha estava em casa, aprontava o almoço.
Ele deitava como um rei na cozinha
Queria ver quem o tirava dali
Mas ao abrir o portão da garagem
Baixava a cabeça, e saia.
Filha tirava o sarro
Pois sabia que ali não era seu lugar
À noite, a filha ficava até mais tarde na internet.
Ele deitava sobre a soleira da porta
Aquele silencio, de repente.
Levantava correndo, fazendo aquele barulhão.
A filha levava cada susto
Mas o tempo passou
Ele foi ficando mais velho
E um dia foi morar com outros amigos
Do lado de Deus