Venha, maninha

Venha, maninha,

pro fundo desse poço.

ai, que eu não quero, não,

o poço é fundo, escuro,

não acho graça nele, não.

Então vamos, maninha,

pro meio dessa floresta.

Não posso, vamos voltar, maninha,

que eu tenho que levar o almoço

pro pai que está pra lá da estrada,

passando a encruzilhada,

no meio do cafezal.

Mas antes, maninha,

passemos no bananal,

lá não tem bicho,

assombração que assuste

menina pequena, medrosa;

lá tem é fruta gostosa

que faz dormir esse susto.

Não vê que é tarde, maninha?

Nossa mãe nos espera

debaixo da goiabeira;

quer fazer um doce

pra gente levar

pra engomadeira do vestido da noiva

que casa domingo

na capela da ribanceira,

e eu não quero perder essa festa

tão bem preparada;

vamos embora, maninha,

parece que vai chover.

Não tem nuvem nem nada, maninha,

quando o céu fica assim azulado

só chove mesmo se for lá do outro lado;

o mato está seco

e seco ainda fica até o pai dizer

da esperança dele de plantar outro café.

Mas então vamos, maninha,

vejo que você hoje

não me serve de companhia

pra nenhum medinho pequeno,

ou friozinho que dá na barriga

que nem quando a saia da gente

enrosca na cerca

e o boi magrelo

nem manso nem sosso...

maninha, aquele não é o nosso pai

esperando o almoço?

Esta ciranda é uma homenagem à minha querida irmã e companheira constante de minha infância. Um beijo, Ná.

Neusa Storti Guerra Jacintho
Enviado por Neusa Storti Guerra Jacintho em 07/12/2007
Reeditado em 11/12/2012
Código do texto: T768021
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