Adeus, Meus Sonhos

Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!

Não levo da existência uma saudade!

E tanta vida que meu peito enchia

Morreu na minha triste mocidade!

Um flash ilumina as pernas nuas de uma prostituta, de pé em uma esquina, outro flash ilumina o vulto de uma mulher em pleno ato sexual com um cliente dentro de um carro. Novo flash uma prostituta entra em um motel decadente acompanhada de um executivo. Elisa, a fotógrafa, sorri. Ela conhece o homem.

No dia seguinte Elisa aguardava tranqüilamente na sala de Jorge, seu editor, este examinava as fotografias da noite anterior, eventualmente Jorge muda seu olhar para uma pilha de papéis sobre sua mesa, sem desviar sua atenção das fotos.

Elisa: Acabei escrevendo muitas páginas. Podemos até fazer uma edição especial.

Jorge: Sim...

Elisa: Algum problema com as fotos?

Jorge: O material está ótimo, mas...

Elisa: Mas?

Jorge: Tivemos um problema com sua ultima matéria. Ela, como direi, foi muito polêmica. Sabe Elisa. A morte é tétrica, angustiante. Você até pode chama-la de terrível, mas você deve torna-la atraente. As pessoas ficaram... chocadas com sua ultima matéria.

Elisa: Acho que eu entendi.

Jorge: Não, não entendeu.

Elisa: Estou fora?

Jorge: Não, vou guardar seu material até que a poeira abaixe, até lá vou transferi-la para outra sessão de nossa revista.

Elisa estica-se na cadeira, olhando para o teto tentando engolir sua decepção imaginando a qual humilhação seria submetida.

Jorge: Podemos usar seu talento em algumas críticas.

Só agora Elisa percebe uma pilha de livros sobre uma mesinha, sem mais explicações ela trás para si a pilha de livros, lendo seus títulos, muitos de autores conhecidos, ela interrompe sua pesquisa, segurando um exemplar de capa vermelha o qual lhe chama atenção.

Jorge: Acredito que você possa ler um destes livros para o próximo mês, até lá a poeira deve ter abaixado. Tem dois títulos em especial que eu gostaria de recomendar, eles serviriam como uma luva...

Elisa: Este.

Jorge: O que?

Elisa: Eu quero este: “Adeus, Meus Sonhos”.

Jorge: Esta obra é nova de poucas edições, na verdade eu o peguei como um favor ao editor.

Elisa: Se vou ser afastada para a crítica literária, quero pelo menos escolher qual delas ler.

Jorge: Tudo bem, só não garanto a qualidade da obra.

Naquela mesma tarde Elisa dirigia seu carro em uma estrada deserta, beirando uma montanha. Rumo a uma pequena ilha onde ela mantém uma casa. A noite Elisa contempla as estrelas a bordo de uma embarcação, único meio de chegar a seu destino.

Elisa chega a sua casa com o nascer do sol, ao abrir a porta o pó do chão levanta-se formando uma nuvem. A lâmpada da sala estava queimada, Elisa acende as lamparinas, estas simulam lampiões dando um aspecto antigo a casa. Sem mais preocupações Elisa deita-se sozinha na cama contemplando sua solidão auto imposta. Agora a beira de um precipício.

Na manhã seguinte Elisa acorda cedo para limpar sua casa, o trabalho incessante a impede de entrar em contato com sua solidão. Era meio dia quando Elisa termina de limpar sua casa, toma banho, em seguida vai a cidade. Após explorar rapidamente a ilha Elisa entra em uma pequena venda, típica de cidades pequenas, ela sorri para a caixa surpreendendo-se com alguns quadros expostos. Todos tétricos com temas de túmulos, nevoeiros e sangue, dentre estes um quadro lhe chama atenção onde uma mulher estava deitada em uma cama de flores tendo os punhos cortados, ao fundo flores desabrocham.

Caixa: Eles estão a vendo.

Elisa: Como?

Caixa: Os quadros, eles estão a venda, o pintor mora na ilha.

Elisa: Muito obrigada, mas o quadro é muito triste.

Caixa: É verdade, mas é bonito, eu gosto de olha-lo.

Após o almoço Elisa deita-se em uma rede tendo em mãos o livro “Adeus, Meus Sonhos”, imediatamente ela começa sua leitura. A sinopse a desanimada descrevendo a história de dois irmãos estudantes Patrick e Carmem separados na tenra infâncias devido a uma doença genética desenvolvida pela irmã. Quando o homem começa a sentir os sintomas da doença ele procura sua irmã.

Elisa: Devo estar pagando meus pecados.

Em fim Elisa começa sua leitura.

Patrick fazia suas ultimas anotações na aula antes do sinal soar, aquele era o aviso que ele poderia ir para casa, Patrick fecha seu caderno sincronizando-o com o som do sinal. O garoto caminhava solitário pelos corredores, entrando na sala de artes, onde encontra sua amiga de infância, Paola, pintando um quadro.

Patrick: Está sozinha?

Paola: Poucas pessoas interessam-se por arte nos dias de hoje.

Sua amiga mantinha o mesmo semblante triste de sempre, de certa forma os dois combinam. A tristeza de um aplaca a do outro.

Patrick: O que você está pintando?

Paola: Natureza morta, mas não ficou muito bom. Vê? Usei muito vermelho.

Patrick: A cor da paixão.

Paola: A cor do sangue.

Patrick: De qualquer forma são parecidos. Paixão e sangue.

Paola: O morrer de amor. O sonho romântico europeu, combina com você.

Mesmo quando fazia piadas Paola não sorria, mantendo seu semblante triste a garota volta a concentrar-se na pintura, ela dá sua ultima pincelada.

Paola: Eu sabia, ela não ficou boa.

O silêncio não costuma incomodar Paola, mas desta vez ele soa estranho. Patrick estava agachado, seu rosto era tomado pelo suor, sua voz estava tremula, ele cai de joelhos.

Patrick: Está doendo.

Paola: Dor? Onde?

Patrick não consegue responder, falar aumenta a dor, Paola tenta segura-lo percebendo que seu corpo estava tomado pelo suor.

Tudo escuro, Patrick vê-se parado em uma sala negra, cercado pelo nada. O garoto reflete sua existência: meus pais se foram muito cedo, minha mãe morreu quando eu tinha dois anos. Aos quatro fui abandonado pelo meu pai e minha irmã. Ele abandonou-me com meus tios os quais me criaram. Mês passado minha tia falou algo sobre me adotar legalmente, acho que eles gostam de mim. – a imagem da casa onde ele nasceu invade sua mente – por que isto? Por que agora?

Patrick abre os olhos, seus tios estavam de pé ao lado de sua cama sorrindo pelo alívio de verem seu sobrinho-filho acordado.

Tia: Você vai ficar bem.

Patrick: Onde eu estou?

Tia: No ambulatório, não preocupe-se, descanse.

Patrick fecha os olhos entregando-se aos braços de Morfeu, o deus do sono, ouvindo uma ultima frase antes de dormir: será a mesma doença de sua mãe? – seguida por uma resposta – ele está muito velho para desenvolver sua doença, não é o caso da Carmem.

No dia seguinte Patrick recuperava-se, ele voltava do colégio de metrô, ao parar para o embarque e desembarque de passageiros Patrick observa a estação na qual o metrô estava parado. O sinal indicando que as portas seriam fechadas ecoa ao longe, repentinamente o Patrick salta do trem antes que as portas se fechem, perguntando-se por que fizera aquilo. Algo o incomodava, Patrick andava pela estação, decidindo sair da estação por uma das ruas adjacentes.

Patrick: Eu morava por aqui.

Sem entender por que de suas lembranças Patrick percorre as ruas da cidade parando a frente de uma casa.

Patrick: Era aqui.

Ele faz menção de tocar a campainha parando com o braço esticado, ponderando se deveria ou não tocar a campainha.

Carmem: Posso ajuda-lo?

Assustado Patrick gira sobre sues calcanhares dando um passo para trás.

Carmem: Quem é você?

Patrick: Desculpe, você mora aqui? Eu estou procurando por duas pessoas um homem e sua filha, eles moraram aqui a muito tempo. Eles...

Carmem: É você Patrick?

Pelo olhar de Patrick Carmem reconhece seu irmão, convidando-o para entrar. Os dois acomodam-se na sala de visitas, a casa parecia maior do que Patrick lembrava-se.

Carmem: Fique a vontade, a final a casa também é sua.

Patrick: Quando nosso pai volta?

Carmem: Ele morreu há duas semanas.

Patrick: Desculpe, eu não sabia.

Carmem: Seus tios não queriam que você sofresse.

Patrick: Será que é só isto?

Carmem: Nós não o abandonamos por querer. Após a morte de nossa mãe eu adoeci. Nosso pai decidiu dedicar seu tento para tentar me salvar... ele não agüentou tanta abnegação e sofrimento, suicidando-se há duas semanas.

Patrick: Desculpe por ter vindo.

Carmem: Não se desculpe, já era hora de nos reencontrarmos.

Patrick: Como é esta doença?

Carmem: Por que pergunta?

Ele conta os incidentes da sala de arte, Carmem senta-se preocupada, ao fim da narrativa de seu irmão ela fecha os olhos refletindo, sua atitude aumentava a ansiedade de Patrick.

Carmem: Eu entendo sua preocupação, mas nossa doença não manifesta-se tão tarde, pode ter sido apenas um incidente isolado, já aconteceu antes, mas... é raro e o ultimo registro deste incidente foi a mais de cem anos.

Patrick: Entendo.

Carmem: Porém é mais raro ainda que a doença manifeste-se na idade em que você se encontra irmão.

Ela levanta-se, indo até o armário, após refletir por um momento Carmem segura um frasco de plástico de onde retira um comprimido.

Carmem: Minha doença é rara e o remédio é fabricado especialmente para pessoas como nós. Felizmente tenho um conhecido que o fornece para mim. Caso aja outro ataque engula o medicamento.

Ela entrega a pílula para Patrick, a campainha toca. Patrick fica de pé enquanto Carmem atende a porta permitindo que um homem entrasse. Este surpreende-se com Patrick.

Carmem: Este é Patrick meu irmão. Patrick este é Emilien (leia Emiliam), meu médico e aluno de nosso pai.

Patrick sente um arrepio ao ver o médico de sua irmã, é uma sensação de desconforto provocada por ele.

Emilien: Eu vim para o exame semanal.

Patrick: Vou aproveitar para ir, meus tios devem estar preocupados.

Carmem: Adeus.

Patrick: Adeus e obrigado... irmã.

Carmem sorri, afastando uma mecha de seu cabelo, ela era a imagem da pureza e da beleza. Carmem parece um anjo, o mais belo já criado por Deus.

Elisa fecha o livro, o sol já tinha se posto e ela encontrava dificuldades para continuar sua leitura. Elisa levanta-se da rede sentindo seu cansaço. Elisa decide ir para cama sem jantar, mas demora para dormir.

Mo dia seguinte Elisa volta a venda, ela procurava ansiosa pelo quadro que viu no dia anterior, sorrindo ao constatar que ele ainda estava a venda.

Caixa: Voltou pelo quadro?

Ela estava atendendo um homem vestido de preto com o cabelo desarrumado e olheiras profundas.

Caixa: Várias pessoas que vêem estes quadros voltam atrás dele.

Elisa: Eu acordei pensando neste quadro, na verdade eu não consegui dormir pensando nele, o quadro é lindo e triste. Na verdade deveria ser triste, mas é de uma melancolia cativante, ele me enfeitiçou.

Donnie: obrigado.

Elisa: O que?

Caixa: Este é Donnie, o artista.

Um pouco envergonhada Elisa o comprimenta. Momentos depois ela voltava para casa ao lado de Donnie, ele carregava suas compras e Elisa levava seu quadro.

Elisa: Sobre o que é? Seu quadro.

Donnie: Sobre morte.

Elisa: Por que pintar sobre a morte?

Donnie: Por que não pintar sobre a morte? É um acontecimento natural, uma fase da vida.

Elisa: Existem outros eventos naturais relacionados a nossa vida.

Donnie: Para mim todos os dias são noites, esta é a maneira que eu encontrei para lidar com ela..

Elisa: Com a morte?

Donnie: Com a realidade. A vida é um buraco escuro e viver é tentar acender um fósforo fingindo que é um farol.

Os dois param em uma bifurcação, cada um deles aponta para um caminho.

Donnie: Minha casa é para lá, grande e preta não tem como errar, se você quiser ver outros trabalhos é só me procurar, será um prazer.

Elisa: Obrigada.

Donnie: Isto não foi uma cantada, apenas um convite amigável.

Elisa: Não imaginei que fosse uma cantada.

Os dois sorriem. Ao chegar em casa Elisa pendura seu quadro novo, imaginando que o pintor era muito estranho. Ela senta-se no sofá embaixo do quadro, repousa uma xícara de chá sobre a mera e retoma sua leitura.

Patrick observava silenciosamente as mãos de Paola manusearem um pincel, pintando alguns traços vermelhos, ambos envoltos em seus pensamentos. A imagem de sua irmã ainda nova abraçada por seu pai começa a ser envolvida por um nevoeiro rubro, as pinceladas cobrem o fundo da tela.

Paola: Talvez eu deva usar alguma cor mais clara desta vez.

Ela repara que Patrick contraia seu corpo, abraçando-se fortemente, aos poucos ele assumia uma posição fetal. As dores vinham em pontadas, assustada Paola abraça seu amigo, ele recupera suas forças para levantar-se.

Paola: Vou leva-lo a enfermaria.

Patrick: Não precisa, já estou melhor.

Ele tenta sorrir pensando no bem estar de sua amiga, esta desvia o olhar contraindo-se como se lutasse com todas suas forças para esconder o que sentia.

Paola (triste): Talvez seja melhor você ir para casa.

Patrick: Sim, talvez eu precise descansar.

No caminho de volta, a bordo do metrô, Patrick mantinha-se de pé tendo em mãos o frasco com o medicamento que sua irmã lhe ofereceu.

Patrick: Como vai ser se eu precisar toma-lo?

Uma imagem dele com três anos brincando a beira de um riu com sua irmã de dois anos. O pai deles observava-os a distância, os olhos de Patrick enchem-se de lágrimas – por que aquelas memórias? – o metro para na estação perto da casa de sua irmã, Patrick desce do trem.

Não foi necessário procurar muito, Patrick encontra aquele riu, descobrindo que tratava-se de um córrego, ele sorri pela deformação de suas lembranças sentando-se a beira deste onde permanece a sós com suas lembranças. No entanto sua solidão dura pouco uma sombra o encobre, era sua irmã.

Carmem: Também estava pensando neste lugar, é curioso não acha?

Patrick: Sim, nosso pai nos trazia aqui quando éramos novos.

Ela fica surpresa.

Carmem: Você se lembra?

Patrick: Muito pouco, eu tinha três anos na época e o córrego parecia um riu.

Ela senta-se ao lado de seu irmão contemplando as águas, por algum motivo os dois sentiam-se em paz, subitamente todos seus problemas, suas dores, tristezas e sofrimentos sumiram.

Carmem: Nada é para sempre.

Patrick não entende por que sua irmã disse aquilo, ele não tinha mais tempo para pensar sobre isto, uma nova crise o atinge, mais forte que a anterior. Patrick curva-se sobre si mesmo, gemendo de dor, sua irmã é rápida ao deita-lo de costas para o chão, esticando seu, acomodando a cabeça de Patrick em seu colo, acariciando-o com ternura.

Carmem: Onde está seu remédio?

Patrick: No bolso da minha mochila.

Com movimentos rápidos, porem tenros Carmem encontra a medicação, tentando aplica-la.

Patrick: Não...

Carmem: Você não vai agüentar.

Ele vira o rosto sentindo ma nova contração, seu corpo é arqueado, ele estava coberto de suor, Carmem aproveita esta nova crise para medica-lo, pedindo desculpas, o rosto de Carmem é a ultima coisa que ele vê.

Patrick acorda em uma cama de casal. A porta abre-se lentamente, Carmem trazia chá com bolachas, ela estava arrumada, penteada, como se tivesse que sair para algum lugar.

Carmem: Você está na minha casa, esta... era a cama de nosso pai.

Patrick: brigado, por me ajudar. Eu...

Carmem: Você não queria ficar dependente do remédio. Eu entendo seus sentimentos, mas acho que não poderei ajuda-lo desta vez.

Ela coloca a bandeja com o chá e as bolachas sobre o colo de Patrick. Este levanta seu dorso, aproximando-se de sua irmã. Carmem percebe sorrindo amigavelmente.

Patrick: Eu estou atrapalhando?

Carmem: Você diz isto pelas minhas roupas? Meu pai gostava de me ver assim, por isto me acostumei.

Patrick: Como ele era?

Carmem: Uma pessoa muito boa e misericordiosa. Nosso pai cuidou de mim sua vida inteira, até que não agüentou mais tanto sofrimento desistindo de sua vida. Eu não o culpo por isto. Você já está melhor, se não estiver muito cansado poderia ir para a sala, esta casa é muito solitária.

Pouco antes de sair do quarto Carmem olha pela ultima vez seu irmão, lembrando-se de como ela levava o café da manhã para seu pai. Carmem fecha a porta e suas lembranças.

Já era noite quando Elisa fecha o livro mantendo-o apoiado sobre seu peito, com os olhos abertos ela contemplava a escuridão, esta era quebrada por uma única lamparina que a iluminava parcialmente. Iluminava a ela e a seu novo quadro.

No dia seguinte, após comer um reforçado café da manhã Elisa caminhava hesitante pelo caminho feito no dia anterior. Ela para diante da mesma encruzilhada do dia anterior onde despediu-se de Donnie, recordando-se de suas palavras.

Elisa: Do jeito que é estranho é bem capaz que aquele convite tenha sido verdadeiro.

Após respirar profundamente a repórter decide seguir em frente avistando com poucos passos uma casa pintada de preto, esta crescia conforme Elisa aproximava-se. Ela logo percebe que todas as portas e janelas estavam abertas, preocupada Elisa invade a casa percebendo que esta não tinha móveis, apenas muitas telas pintadas, algumas delas ainda sem moldura. Sua atenção é voltada para uma pintura em especial, nela um homem risonho dissecava um gato ainda vivo, Elisa cruza seu olhar com o olhar do animal sentindo seu desespero.

Donnie: Este é Demócrito, um filósofo que dissecava animais tentando encontrar neles a causa da melancolia no mundo.

Elisa (assustada): Desculpe ter invadido, é que a porta estava aberta e...

Donnie: E você pensou que tivesse acontecido alguma coisa? Esta ilha é tranqüila, venha quero mostrar uma coisa.

Os dois caminham por entre mais quadros empilhados. Todos escuros, com figuras trágicas. Elisa reconhece em uma mesa isolada um frasco de lítio, mas decide não comentar.

Donnie: Aqui está: Belerofonte.

Elisa observa uma pintura onde um homem angustiado tentava subir em uma montanha íngreme. A neve, o vento e raios tentavam impedi-lo.

Donnie: Belerofonte tentou subir aos céus para encontrar o vale dos deuses e quem sabe achar a felicidade. Por isto ele foi perseguido pelos deuses até o dia de sua morte.

Elisa: Este é o seu ultimo trabalho?

Donnie: Não, apenas o mais recente.

Elisa: Que resposta otimista.

Agora os dois estavam no que deveria ser a cozinha. Esta também era cercada por quadros mas tinha duas cadeiras e um divã, Elisa percebeu que era ali que Donnie gostava de pintar. O pintor ouvia sua nova amiga atentamente, intrigado com sua narrativa.

Elisa: É basicamente a história de dois irmãos moribundos. O homem chama-se Patrick e foi abandonado pelo pai, este decide cuidar de sua irmã que tem uma doença mortal. Nos dias atuais Patrick começa a sentir os sintomas da doença e decide procurar seu pai.

Donnie: Ele não o encontra.

Elisa: Não, Patrick encontra a sua irmã, eles iniciam uma relação... estranha, ainda não compreendo.

Donnie: Não?

Elisa: Mais ou menos, parece uma mistura de morte e vida, os dois estão condenados e por isto sentem-se atraídos um pelo outro. O livro é inverosímil, ocorrem muitas coincidências e ...

Donnie: E era isto que estava te incomodando?

Elisa: Como?

Donnie: Você não veio aqui ver meus quadros, mas sim me contar sobre o livro que está lendo.

Elisa: Acho que sim, desculpe.

Donnie: Não se desculpe, as pessoas são egoístas, elas ligam-se as outras apenas para satisfazerem seus desejos.

Elisa: Eu pendurei seu quadro.

O pintor sorri sem tentar disfarçar que seu riso era derivado da mudança de assunto por parte de Elisa.

Donnie: Sabia que suicídios com perca de sangue como a do quadro são mais comuns em mulheres?

Elisa: Não.

Patrick: Suicídio por envenenamento, assim como efetuar cortes em seus punhos e saltar pela janela são comuns em mulheres. Os homens matam-se mais com tiros e enforcando-se.

Elisa: Você é sempre tão alegre?

Donnie: A melancolia foi conhecida por muito tempo como a doença da maturidade. Como pode ver, não existe muito o que fazer. Mudando de assunto você já serviu de modelo para alguém?

Ele apontava para o divã, um pouco envergonhada Elisa aceita o convite deitando-se no referido divã.

Elisa: Apenas não me pinte com os pulsos abertos.

Donnie: Eu prometo.

O pintor fazia um esboço enquanto Elisa, imóvel, lembrava-se dos últimos capítulos lidos de: Adeus, Meus Sonhos.

O sol iluminava a sala de estar onde Patrick estava sentado. sua irmã senta-se no sofá com o refinamento de uma dama, ela remexia seu cabelo com os dedos enquanto sorria.

Carmem: Você não foi há escola hoje, não é?

Patrick: Não, eu não consegui, senti muita vontade de vir aqui.

Carmem: Eu também não fui hoje. Fiquei sentada aqui o dia inteiro. O que você faria se eu não estivesse aqui?

Patrick: Eu não sei, acho que ia ficar esperando do lado de fora. Eu só queria estar aqui.

Carmem: Eu gosto de ficar com você, estou recuperando muitas lembranças que achava ter perdido.

Patrick: Eu também gosto de ficar perto de você, de conversar, ou de simplesmente ficar sem fazer nada ao seu lado.

Carmem: Então. Por que você não vem morar comigo?

Patrick: O que?

Ela levanta-se, indo sentar-se ao lado de seu irmão.

Carmem: Somos irmão. É natural que fiquemos juntos, esta casa é grande demais para uma pessoa sozinha e também é sua.

Patrick: Eu ficaria no meu antigo quarto?

Carmem: Papai o transformou em um escritório há muito tempo, mas você pode dormir onde era meu antigo quarto.

Patrick: E você?

Carmem: Desde que o abandonamos, eu passei a dormir na cama com o nosso pai, até a ultima noite. Não precisa responder agora, mas gostaria que você pensasse no assunto.

Naquela mesma hora Paola observava em silêncio a carteira vazia de Patrick.

No dia seguinte Carmem abotoava sua blusa de costas para Emilien, este fazia algumas anotações sobre a saúde de sua paciente.

Carmem: Eu estou sendo muito egoísta Emilien?

Emilien: Ele sabe da sua condição?

Carmem: Ele também está doente, mas deve conseguir viver por mais tempo com os seus cuidados.

Emilien: Na próxima vez traga-o junto, eu o examinarei.

Carmem: Obrigada. Sabe, eu acho que preciso de alguém para ajudar, como meu pai fez conosco.

Emilien: Seu pai me introduziu na medicina para que eu pudesse cuidar de você caso alguma coisa lhe acontecesse, apenas isto, ele não nutria nenhum sentimento por mim.

Carmem: Por que você continua cuidando de mim?

Emilien: Gratidão... aos dois.

Carmem: Ver alguém morrendo o faz sentir-se vivo?

Emilien: Você não está morrendo, não precisa estar morrendo, basta cuidar-se que poderá viver muito com seu irmão.

Carmem: Mentiroso.

Enquanto isto Patrick estava de pé atrás de seus tios observando-os, como se tenta-se guardar aquela cena em seu coração para sempre. Os dois assistiam televisão como sempre faziam.

Patrick: Obrigado e desculpe.

Tio: O que foi?

Tia: Por que está triste?

Patrick: Eu tenho ido visitar minha irmã Carmem estes dias.

Tio: Entendo.

Patrick: Por que não me disseram que meu pai havia se matado?

Tia: Queríamos preserva-lo.

Patrick: Eu amo vocês dois, vocês sempre foram bons para mim, tratando-me como um filho. Por isto obrigado.

Tio: E o desculpe?

Patrick: Eu decidi morar com ela, aquela casa também é minha.

Tio: Aconteceu alguma coisa?

Patrick: Não.

Tio: Foi ela que o chamou?

Patrick: Não.

Tia: A Carmem não está muito doente?

Patrick: Mais um motivo para que eu cuide dela, minha irmã está doente e sozinha.

Naquela noite os dois irmãos comemoravam sua nova vida comendo um pedaço de Pizza, eles riam e divertiam-se, mas ambos sabiam que a dor voltaria em breve.

Donnie: Chega por hoje.

Elisa olha-o curiosa. O pintor deixa suas tintas caírem no chão enquanto espreguiçava-se ainda sentado, já estava anoitecendo e a luz havia acabado.

Donnie: Você deve estar cansada, vamos continuar amanhã.

Elisa: Posso ver?

Donnie: Só quando estiver terminado.

Ela sorri despedindo-se, indo embora pensando nos dois irmãos.

Na manhã seguinte o sol brilhava, mas não para Donnie, este o via cinza. Andando de um lado para outro o ansioso tem um acesso de raiva Donnie derruba uma lata de tinta, procurando freneticamente o pintor procurando pelo seu frasco de lítio. Atirando-o contra a parede assim que o encontra. Por fim ele contempla uma obra inacabada há cinco anos, destruindo-a.

Elisa percorria o mesmo caminho de outros dias, ela já avistava a casa de Donnie, mas não era apenas isto. Ela reconhece o pintor deitado na frente de sua casa com os braços abertos em forma de cruz e camisa aberta, olhando para o sol esperando que este destrua suas retinas. A sombra de Elisa o cobre, Donnie não se importa.

Elisa: que você está fazendo?

Donnie: Morrendo. Você sabia que a cada dia que passa nos aproximamos da morte? Agora estou uma hora mais perto da morte do que antes.

Elisa: Levante.

Donnie: Não.

Elisa: Você precisa terminar o meu quadro.

Donnie: Não tenho vontade.

Elisa: É assim?

Donnie: Não, na verdade não faz sentido.

Elisa: Não importa o que eu quero?

Donnie: Não.

Ele começa a chorar, levando suas mãos ao rosto virando para o lado assumindo uma postura fetal. Elisa abre sua bolsa como se procurasse algo específico. Ela encontra uma faca retrátil utilizada para defesa pessoal. Elisa ergue a manga de sua blusa fazendo um pequeno corte em seu braço oferecendo-o para Donnie. O pintor vê o sangue escorrendo pelo braço dela. Permanecendo atônito por alguns segundos enquanto observa o sangue escorrer Donnie segura o braço dela bebendo de seu sangue.

Pouco depois Elisa ajuda Donnie a entrar em casa, ele apoiava-se em sua amiga caminhando até a cozinha.

Elisa: Você tomou seu remédio?

Donnie: Eu quero mostrar-lhe algo.

Elisa: Onde está o Lítio?

Donnie: Eu joguei naquele canto.

Elisa procura no canto apontado por Donnie, este entra em um cômodo adjacente. Assustada Elisa recolhe o pote de lítio, sua bolsa e entra no cômodo adjacente, onde Donnie estava de joelhos diante de uma pintura onde uma criatura devorava uma figura humana. Elisa entrega um comprimido para Donnie, este o toma.

Donnie: Este é Saturno, deus romano do tempo, angustiado Saturno castrou seu pai e devorou seus filhos na esperança de viver por mais tempo.

Elisa: Deve ser difícil perder tudo.

Donnie: Mais difícil é perder aquilo que você nunca teve.

Elisa: Vamos.

Donnie: Não.

Ele deita-se no chão, a repórter senta ao lado dele apoiando a cabeça de Donnie em suas pernas, este sorri, mas é um sorriso forçado.

Donnie: Desculpe.

Elisa: Tudo bem, eu estou acostumada a ajudar meus amigos. Todos dizem que eu sou uma pessoa forte...

Donnie: É mentira, sua força é apenas uma máscara.

Os dois permanecem em silêncio por alguns minutos.

Donnie: Como está o livro?

Elisa: Eu ainda estou lendo-o, agora não consigo mais me separar dele. Na verdade ele está na minha bolsa.

Donnie: Leia um pouco para mim.

Ela obedece.

Patrick e Carmem estavam sentados no chão da sala olhando para o lado de fora em silêncio, era um silêncio confortável, acolhedor. Carmem sorri.

Patrick: Eu não vou mais para a escola.

Carmem: Eu também não vou mais.

Patrick: Não tem sentido, além do mais nós somos diferentes dos demais.

Carmem: Fique comigo.

Patrick: Eu sempre estarei com você.

Carmem: Nunca mais saia do meu lado.

Os dois irmãos permaneceram na sala o resto do dia olhando-se em silêncio. A noite Carmem preparava a mesa de jantar quando ouve o barulho de pratos quebrando. Ao seguir estes ruídos Carmem depara-se com Patrick caído no chão sentindo dores, rapidamente Carmem o medica acolhendo-o em seu peito.

Patrick: Eu não agüento... eu não vou agüentar viver assim.

Carmem: Você pode fazer como nosso pai e morrer. Será mais fácil para você.

Patrick: Como você consegue?

Carmem: Por favor, não me abandone. Você prometeu...

Com lágrimas nos olhos Carmem aconchega seu irmão no seu seio. Patrick sente-se acolhido enquanto o a dor ia embora lentamente.

Elisa interrompe a narrativa, ao perceber que Donnie estava dormindo. Ela levanta-se cuidadosamente saindo daquele quarto adjacente, Elisa sobe lentamente as escadas entrando em um quarto de dormir. Não haviam quadros ou imagens. Elisa separa um par de cobertores e travesseiros, após descer as escadas Elisa cobre Donnie com um cobertor, colocando o travesseiro sob sua cabeça.

Elisa: Boa noite Patrick.

Ela envolve-se no cobertor deitando sua cabeça sobre o travesseiro sem perceber que acara de chamar Donnie de Patrick.

Na manhã seguinte Elisa acorda sozinha no quarto adjacente, ela caminha pela casa encontrando Donnie no jardim olhando a pintura de Elisa iniciada dois dias antes e ainda inacabada.

Donnie: Não sinto nada. Eu sei que deveria, mas não consigo. Nem o vento soprando em meus cabelos, nem a terra sob meus pés, nem a alegria que senti pintando você.

Elisa: Donnie...

Donnie: Não é por que nunca aconteceu, que não existiu nada.

Elisa (com lágrimas nos olhos): Eu sei...

Donnie: Estou com inveja daqueles dois irmãos... eles podem decidir a qualquer momento quando partir.

Elisa (com lágrimas nos olhos): Não...

Donnie: A vida é para ser vivida, ela é linda. Não existe outra palavra para a vida, ela é linda, viver é maravilhoso – ele sorri amargamente – mas chega uma hora que o encanto desaparece. O que nos resta são lembranças, nada é mais cruel do que viver de lembranças.

Ele fecha os olhos de cabeça baixa quando o abraço de Elisa, esta apoia sua cabeça no ombro do pintor olhando para ele.

Elisa: É isto que você quer?

Donnie: Pensar nisto é o único consolo que me resta. Estes pensamentos me mantém vivo. Amanhã você será apenas uma lembrança.

Elisa: Isto depende de você.

Ela solta Donnie, indo embora rapidamente, antes de sair uma promessa – eu volto amanhã, independente de sua decisão – ela vai embora deixando o pintor com seus pensamentos.

Ao chegar em casa Elisa liga seu computador iniciando sua crítica sobre Adeus, Meus Sonhos. Enquanto escreve ela lembra-se do último capítulo do livro.

Carmem estava deitada na cama de casal, ao lado de Emilien que termina o preparo de uma solução em soro, a qual é colocada na veia da garota.

Carmem: Desculpe tê-lo chamado aqui.

Emilien: Foi bom eu ter vindo... não quero mais que você se esforce.

Carmem: Eu não entendi.

Emilien: Você está muito fraca, a partir de agora eu virei mais dias.

Carmem: Você não precisa...

Emilien: É necessário, pelo menos por enquanto. Se fizermos tudo certo você voltará ficar boa.

Ao sair do quarto de Carmem o médico encontra Patrick. Os dois concordam sair para uma volta, eles afastam-se um pouco da casa por um excesso de precaução por parte do médico.

Emilien: Eu virei mais dias daqui para frente, você está bem, sua doença está no início, a pesar das dores você poderá ter uma vida normal.

Patrick: O problema é com a minha irmã?

Emilien: Sim, Carmem está morrendo. Você deve ajuda-la em tudo o que puder, não permita que ela se canse. Assim poderemos prolongar sua vida.

Patrick: Quanto tempo ela tem?

Emilien: Dois meses, se tivermos sorte. Eu volto amanhã.

Voltando para casa Patrick vê a silhueta de uma pessoa parada no portão, ao aproximar-se o garoto reconhece Paola. Esta não sabe o que fazer ao ver Patrick.

Patrick: Isto é uma surpresa.

Paola: Desculpe, eu peguei seu endereço com seus tios.

Patrick: O que foi?

Paola: Você não foi mais a escola, eu vim ver como você está.

Patrick: Eu estou bem, agora tenho que cuidar da minha irmã. Tome cuidado pois está anoitecendo.

Ele entra pelo portão dando suas costas para Paola que permanece imóvel enquanto observava seu antigo colega sumir nas trevas.

Paola: Seus tios estão com saudades, eles pediram para você telefonar.

Patrick acena com as mãos sem olhar para Paola. Carmem observava a cena da janela em silêncio. Patrick entra em casa deparando-se com sua irmã na janela, rapidamente ele vai em sua direção.

Patrick: Você não deveria estar de pé.

Carmem: Tudo bem, eu estou descansada. Você foi até lá fora com Emilien?

Patrick: Eu o acompanhei até seu carro.

Carmem: E aquela garota?

Patrick: Paola era da minha antiga escola, eu a mandei embora. Minha vida agora é você.

Ele pega sua irmã no colo levando-a até seu quarto, após cobri-la Patrick dá um beijo de boa noite em sua testa, indo para seu quarto em seguida.

No dia seguinte Patrick estava no telefone com seus tios, omitindo a situação crítica de sua irmã e dizendo que ele estava bem. Carmem acabara de acordar e ficou ouvindo a conversa de Patrick. Ela tenta levantar-se mas não tem forças. Ela lembra-se de como seu pai cuidava dela após uma crise de dor. No dia seguinte ele montou um escritório para trabalhar em casa dizendo que passaria o máximo de tempo em casa com ela. Uma lágrima brota do olho de Carmem, escorrendo por seu rosto.

O telefone é desligado, Carmem ouve os passos de Patrick pela casa, ele estava na cozinha, o som fica abafado. A garota não reconhece os sons, novos passos. Patrick entra no quarto dela com o café da manhã.

Carmem: obrigada.

Patrick: Decidi surpreende-la, mas acho que você já estava acordada.

Ela senta-se enquanto Patrick organiza o desjejum no colo de Carmem, ela comia em silêncio, sendo observada com muito carinho por seu irmão.

Carmem: Eu sei por que você está me tratando assim.

Eles permanecem em silêncio, no final da tarde Emilien termina de examina-la, no lado de fora do quarto o médico entrega os medicamentos para Patrick. Este coloca os remédios sobre a mesa, indo com o médico até o lado de fora da casa.

Emilien: Dê para ela apenas em emergências. Eu voltarei amanhã.

Patrick: Por que você dedica-se tanto a nossa família?

Emilien: O pai de vocês me ajudou. Nunca mais repita esta pergunta.

Carmem estava sozinha, de pé na sala escura, ela encontra o pacote de remédios abrindo um deles. Carmem despeja o conteúdo em sua mão concheada ingerindo todos de uma vez.

Patrick via a distância o carro de Emilien indo embora, ao entrar em casa ele encontra Carmem de pé apresentando sonolência.

Patrick (sorrindo): Como você é teimosa, eu já não disse...

Ele encontra os remédios caídos no chão.

Carmem: Tudo bem, eu só tomei um.

Em silêncio Patrick leva sua irmã para o quarto acomodando-o na cama.

Carmem: obrigada, eu já estou bem.

Patrick: Eu quero ficar com você até que você durma.

Carmem: Não precisa.

Patrick (com lágrimas nos olhos): Eu não consigo viver sem você.

Carmem: Você sabia que eu estava doente quando veio.

Patrick: Não é isto, eu não consigo mais ficar sem você. Se você for, eu morrerei junto.

Carmem: Não, por favor, se realmente me ama Patrick você irá viver, me esqueça, volte para a casa de nossos tios e tenha uma vida normal. Não tenha o mesmo destino de nosso pai. Eu fui muito egoísta, me perdoe.

Patrick: Eu nunca irei esquece-la.

Carmem: Este é meu ultimo pedido.

Patrick sente a mão de sua irmã ficar mais fraca, ela vira seu rosto fechando seus olhos para nunca mais abri-los. Patrick permanecia ajoelhado ao lado da cama de sua irmã. Após alguns minutos ele levanta-se deixando o corpo de Carmem sozinho. Patrick retorna com uma faca em suas mãos. Após deitar-se na cama ele beija suavemente os lábios dela apunhalando-se no estômago. Patrick deita-se de frente para Carmem sentindo seu sangue esvair-se lentamente. Ele fecha os olhos guardando o rosto de Carmem aguardando pela morte.

Fim

O sol estava em riste quando Elisa acordou. Ela andava apressada pelo caminho que levava a casa de Donnie, a porta estava aberta como sempre, ela entra lentamente com medo do que pudesse encontrar. Elisa não surpreende-se ao encontrar o corpo de Donnie enforcado no corrimão do segundo andar. Sua sombra envolvia toda a sala.

Ela desvia da sombra indo até a cozinha onde seu quadro incompleta estava coberto por um lençol branco sujo de tinta. Elisa menciona levantar o lençol, desistindo no ultimo instante fazendo um ultimo favor para Donnie. Ela afasta-se ligando para a polícia avisando do suicídio.

Elisa: Não se preocupe, não irei traí-lo meu amor.

Jorge estava em seu escritório, ao ligar seu computador o jornalista percebe ter um e-mail de Elisa, era a crítica do livro. O e-mail também pedia para que Jorge destruísse as fotos das prostitutas.

Elisa ainda estava na ilha, perto das rochas da praia. A água do mar batia em seu peito, sua expressão era serena. Elisa fecha os olhos um pouco antes de uma onda acerta-la.

FIM

Adeus, meus sonhos!

Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!

Não levo da existência uma saudade!

E tanta vida que meu peito enchia

Morreu na minha triste mocidade!

Misérrimo! Votei meus pobres dias

À sina doida de um amor sem fruto,

E minh'alma na treva agora dorme

Como um olhar que a morte envolve em luto.

Que me resta, meu Deus?

Morra comigo

A estrela de meus cândidos amores,

Já não vejo no meu peito morto

Um punhado sequer de murchas flores!

Álvares de Azevedo