Esperança /2º Capítulo



  Faltavam apenas duas semanas para o casamento quando o fato ocorreu há exatamente três anos atrás.
    Jorge notou uma pequena sombra de tristeza no rosto lindo de Lia, mas preferiu nada comentar, afinal mal se conheciam e nem era de sua conta o que quer que fosse. Jorge perguntou sobre a cidade, e se Lia poderia lhe dar algumas informações já que ele não conhecia nada ali.
    -Se quiser podemos dar uma volta após meu expediente e terei prazer em mostrar nossa pequena, mas bela e hospitaleira cidade, disse ela.
    -Se não for atrapalhar eu gostaria muito, disse Jorge, e combinaram de se encontrar na saída do trabalho de Lia.
   Era a primeira vez que Lia saia com alguém do sexo oposto desde o acidente do seu noivo Pedro, e mesmo sendo apenas um mero conhecido ela não estava se sentindo muito a vontade, mas com o passar do tempo percebeu que Jorge podia ser uma ótima companhia e sua preocupação deu espaço ao prazer da boa conversa que fluía entre os dois.
    De repente ela se descobriu feliz ao lado daquele quase desconhecido tão encantador aos olhos dela. -Vamos entrar agora na Rua da Luz, disse-lhe Lia, mais à frente chegaram a uma linda Pracinha de nome “Poesia” e Lia explicou que nessa cidade todas as ruas e também a praça tinham nomes poéticos.
    Enquanto ela falava, chegaram a Rua da Ilusão a mais bonita de todas, onde estavam construídas as mais lindas casas e alguns comércios mais sofisticados. Estavam passando perto de um bar e Jorge a convidou para beber algo enquanto conversavam. Ele estacionou o carro junto ao meio fio, desceu e contornou o carro abrindo gentilmente a porta para Lia. Sentaram-se em uma mesa posta na calçada e um garçom apareceu para atendê-los de pronto.
   -Olá Srta Lia, há tempos não a via por aqui. -Como vai? -Tudo bem Luiz, esse é nosso mais novo morador de Esperança, - Jorge esse é o Luiz, o melhor barman da região- espero que o aprove e sorriu. -E essa é a moça mais bonita e simpática da região; brincou Luiz, e Jorge a viu corar levemente, não sabia que ainda existiam moças assim no mundo e ficou admirado com aquele rubor encantador.
    Falaram sobre vários assuntos gerais sem entrar na intimidade de nenhum dos dois, até porque nem um, nem outro, tinha nada que gostasse de falar naquele instante.
    Depois de algum tempo resolveram ir embora, passearam mais um pouco, mas a cidadezinha era muito pequena e além de uma linda paisagem, não sobrava muita coisa para se ver.
    Jorge levou Lia até sua casa e depois de agradecer pela companhia foi embora.
    Foi muito bom encontrar uma casa mobiliada e até com uma pessoa para trabalhar para ele pensou Jorge. Segundo o corretor, o casal nem chegou a se mudar na casa nova, e que Marina uma conhecida sua podia ir cuidar da casa pra ele três vezes por semana se ele desejasse.
    Agora, sozinho na casa vazia, lembrava com saudade de um tempo em que tinha sido tudo diferente em sua vida, quando ele não sabia ainda o que era sentir essa dor dilacerante no coração. Cansado de sofrer dia após dia, esse tormento sem trégua depois de ter perdido sua esposa naquele trágico acidente, e que nunca ninguém soube explicar como aconteceu aquela tragédia.
    Por quê?- E com quem Laura estava naquele dia, Jorge se perguntava?
    Eles eram tão felizes, tinham tudo para dar certo, ele um arquiteto promissor e ela residente de medicina, estava especializando-se em pediatria profissão que ela sempre desejou desde muito pequena.
    Agora só restaram saudades e dores, por não saber a causa desse estranho e trágico acidente Seria muito bom dormir sem sonhar, sem acordar em sobressalto, a procura de sua esposa na cama vazia, sem seus braços a lhe envolver docemente, a procura de segurança que ela sempre encontrava ao lado dele... E agora quem a protegeria?
Deitado na cama olhando para o teto Jorge desejava acordar e ver Laura a seu lado sorridente como antes... Mas ele sabia que ao acordar acabava o sonho, e ela simplesmente desapareceria como sempre...
    Muitas vezes teve ímpetos de gritar seu nome no meio da noite em que passava insone, a chorar sua tristeza e impotência perante essa triste perda...
    Por tudo isso ele deixou sua cidade e veio se refugiar em Esperança, tentando assim fugir das dores do passado que não conseguia esquecer.
    Lia também não dormia, pensava em Pedro, em tudo o que sonharam juntos e que de repente se perdeu no meio do nada, deixando-a triste e desesperada com a morte prematura do noivo.
    Naquele dia fatídico em que Pedro viajou para São Paulo, em busca do seu diploma de pós em medicina ortopédica.

Continua...