Roda-Gigante

RODA GIGANTE

Noite estrelada. Uma leve brisa soprava fazendo com que os cabelos dela balançassem e pousassem no ombro do rapaz ao seu lado. Ele sentindo o aroma leve e suave sorri, e se sente feliz por está-la conduzindo a algo tão amedrontador, pra ela é claro. Ele não podia ver como uma roda - gigante pudesse causar calafrios e tremedeiras.

Os dois estavam parados na fila, e conforme esta seguia seu curso, ele com os braços em volta dos ombros dela, a movia para frente. Uma vez ou outra percebia que ao tentar movê-la havia certa rigidez, foi quando começou a rir abertamente:

- Pode rir o quanto quiser, sempre há a oportunidade de jogar pessoas lá de cima.

E apontou para o carrinho mais alto.

Ele não estava rindo por ela estar com medo de um brinquedo do parque, mas por gostar da sensação de poder protegê-la, e de saber que se algo de ruim fosse acontecer ele iria fazer de tudo para impedir.

- Hei, não fique irritada é quase um prazer te ver assustada, e não engraçado.

Então a abraçou e beijou o topo de sua cabeça. Não sabia como tinha convencido ela de sequer vir para fila. E sorriu novamente mediante a possibilidade de conseguir convencê-la, talvez ele tivesse mais crédito do que pensava.

Enquanto a fila avançava, pedrinhas de gelo foram se acumulando no estômago da garota. E para aliviar a tensão segura à mão do rapaz que está ao redor do seu ombro, enquanto observa as luzes do circulo gigante rodar com suas vítimas. Tinha algo errado com aquelas pessoas, pensou ela, como alguém em sã consciência conseguia ficar girando e girando cada vez mais alto? Todas loucas.

Lembrou-se que estava segurando a maçã-do-amor na mão direita, e começou a morder para disfarçar o nervosismo. Sentiu-se grata pelo açúcar fazer um efeito tão agradável em sua boca. Pôde até perceber o quanto se sentia feliz ao lado dele, e como era bom sentir o perfume misturado com seu cheiro sendo carregado pela brisa. A mesma que continuava balançando seus cabelos.

Olhou em volta e viu crianças correndo de seus pais, outras gritando de prazer em seus brinquedos, e os pais satisfeitos por verem seus filhos dirigindo os caminhões, carros e foguetes sonhadoramente como se as crianças pudessem realmente fazer isso. Podia ouvir a música do parque, e também pôde ouvir algo familiar, estranho. Jurava que ouviu sua irmã chamando seu nome.

- Vamos, nossa vez.

Novamente ele a encoraja e levemente coloca a mão esquerda em suas costas incentivando a subir as escadas. Ela segurando firme o palito que restou da maçã o encara, olha para os degraus em começa a subir. Senta no carrinho e com uma mão segura firme de um lado e com a outra segura firme o palitinho. Ele novamente ri, e passa o braço em volta do seu ombro.

-Vamos, não há o que temer. Quando você vir às luzes da cidade vai ficar tão fascinada que irá esquecer da altura.

Alisa então seus cabelos e a observa enquanto lentamente a Roda gigante começa a se mover. Vê que ela treme, e aperta mais o braço em volta do seu ombro. Aos poucos o brinquedo gigante toma seu curso e chega ao topo. Ele ainda com sua atenção focada no rosto dela percebe que está de olhos fechados firmemente, e até faz beicinho.

-Ah não, eu não vou observar as luzes sozinho. Vamos, não tem o que temer.

Vira o rosto dela para si e pede docemente para que abra os olhos. Ela balança a cabeça com firmeza e aperta mais a mão esquerda no carrinho.

- Você acha que eu iria te trazer aqui pra cima se algo de ruim fosse acontecer? Por favor, você não vai querer perder a parada no alto. É realmente muito bonito.

Aos poucos ela vai abrindo seus olhos, e por fim desprende a mão do carrinho. Ela tem razão, pensa consigo, ele não iria trazer ela pro alto se algo de ruim pudesse acontecer. Afinal de contas, ele sempre cuidou dela, e em momento algum a deixou desprotegida.

Soltou as mãos, menos a do palitinho, queria alguma recordação da noite. Encostou bem as costas e sentiu o vento da noite cálida bater em seu rosto.

-Tudo bem, vamos ver as luzes então, mas se o carrinho balançar sequer uma vez eu nunca mais venho a um parque.

Dramática, pensou ela, ele não merecia tudo isso. E então acariciou o rosto dele.

A roda foi girando, até que finalmente os dois chegaram ao topo pela quinta vez. E como se o controlador do brinquedo lesse os pensamentos dele, fez a esperada parada.

O rapaz respirou fundo e apontou para paisagem a frente deles. As Luzes brilhantes, tão brilhantes que realmente a fizeram esquecer o medo de altura. E ela só podia pensar em como poderia ter perdido aquilo.

Olhou para o céu, oh o céu, ele disse das luzes, mas não havia mencionado as estrelas. Tão brilhante, nunca tinha reparado bem nelas antes, tão belas. Ela sorriu largamente, e olhou pra ele. Sentiu-se tão bem ao vê-lo sorrindo, e reparou em como ele era doce e gentil.

- Realmente, é muito lindo aqui. Disse ela. E acariciou com o polegar sua bochecha, já que o palitinho ainda estava firme em sua mão.

Ele se aproximando confirmou com a cabeça, e segurando seu rosto com a mão direita e lhe deu um terno beijo. Suave, pensou ela, e afirmou consigo mesma que não poderia existir naquele momento nada mais perfeito.

Foi quando escutou seu celular tocando e com um susto se afastou do rapaz.

- Me desculpe. E tateando os bolsos tentou encontrar o intruso. Estranho, devia ser o celular dele, o dela não estava com ela. E então olhou para o lado e que baita susto, sua irmã estava sentada ao seu lado com uma expressão zangada dizendo para ela se apressar. Virou novamente para o rapaz e ele fez também assustado diz que é melhor escutar ela.

É quando escuta o bater de uma porta, e quando se vira para sua irmã esta sumiu, e no lugar dela está uma parede, olha pra frente e vê seu guarda-roupa. O que é isso pensa ela, e então se percebe deitada em sua cama, vira para o lado e vê sua irmã com um olhar mal humorado. – Anda logo, você vai se atrasar.

Que droga, com a música do parque ainda em sua cabeça, e o frescor do perfume dele em seu nariz, percebe que foi um sonho. E então tristemente levanta, alisa os cabelos com uma mão, mas quando tenta se apoiar com a outra percebe que há algo nela, e com uma grande surpresa vislumbra: ali, em perfeito estado, o palitinho.

Juliana Letícia
Enviado por Juliana Letícia em 10/01/2009
Código do texto: T1377668
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.