Antes de fechar a porta do quarto

Como se relata uma saudade? Inicialmente se fala do processo mental (...). Não! É mais interessante a mim, narrar da noite enluarada em que estive nos braços de meu amor. O que se passa em minha cabeça confunde-se com o que me corre pelo restante do corpo. No entanto, tudo me soa como uma viagem sem destino. Ele me é uma figura que entre beijos disse-me: “Adeus...”.

Insinuo ter sido o “fim!”? Ah! Se eu fechar os olhos...

_Chamo-me Flor. Sou tua namorada de infância, tua musa, tua inspiração nas noites de serenatas...

Ao ouvir minhas palavras, Marcos recuou um pouco, sobressaltado por meu atrevimento. A imagem dele produzindo um efeito em minha pele jamais sentido. Meus olhos recebiam uma silhueta bela a sucumbir-me a alma.

_ Não há perigo em me olhar_ disse eu_ minha flor é embriagante? Que vale mais a um beijo de pétalas silvestres? _ ele riu.

_ Nada. E sendo poeta eu conheço esses perfumes. Suspendo-te no ar, doce Flor,_ Murmurou, na noite enluarada_ deixe-me, então, beijar essas pétalas e tu saberás o que é amar.

Olhou-me profundamente no castanho dos olhos, banhados pela lua, canto das estrelas, noite de fantasia. Estendeu as mãos, segurou-me o rosto e com os dedos, em carícias de algodão, desenhou minha boca. Então, pude sentir meus lábios chamando os dele. A varanda da casa toda quieta. A brisa do vento não conta; ela era a expressão da felicidade de meu coração; amiga da lua e das estrelas; um perfume das flores de meu jardim.

Investiguei-lhe o rosto, que era gentil. Brilhantes olhos de bálsamos sutis que me ferviam nas veias! Nesse rosto de uma expressão ardente, havia um ar de jovialidade terna, mesclado com os cabelos grisalhos, diante do qual eu me sentia frágil e mulher amada ao mesmo tempo.

_ Viste que te desejo?_ Sussurrou já quase a meu ouvido, no fim de minha contemplação.

_ Sim_ ofeguei_, e ao que vi, já estou a sonhar ou penso enlouquecer nesta noite de estrelas. Alienado está meu coração_ Ele agora é uma parte ausente da minha razão não podendo esta negar meu palpitar no corpo. Desejos? A parte de mim que eu conhecia era uma calma mulher de sonhos tecidos ao luar. Nada tinha desta atrevida flor a provocar Marcos tão logo o vira sorriso aberto em minha varanda. Por que Marcos viera ao luar e não ao raiar do sol?

Ele tinha, a meu ser, naquela hora, a beleza plácida dos grandes deuses semeando amores. E lembro... aqui de minha janela, sonhando à tarde, ouvindo o canto dos pássaros na amendoeira. Há, nesse momento, uma súplica pela voz dele a adocicar-me a saudade.

Fiquei com as mãos nervosas e uma trêmula mudez apossou-se de mim ao ouvi-lo falar-me de desejos. E uma sensação de querer bem, avançando... Avançando em mim... Fugiu-me o ar? Voei pelas estrelas? Ah, não sei?! Conto que os lábios de meu amado deslizaram nos meus... Entre palavras suaves de amores sentidos! E bebi daquela boca solvendo rios e mares afogando-me em oceanos de línguas! Invadindo todo o meu ser; o próprio céu de minha alma; umas mãos dançando sobre mim. Uma palavra somente escapou-me da boca: “Amo!”.

Quando essa palavra rompeu na noite, rasgou um trovão naquele corpo viril entregue a meus braços. Jamais esperei um deus da noite, a ternura da tarde, o calor do dia em um homem só. Ele foi a taça repleta de um sonho que eu não conhecia. Todas as partes de meu corpo entregues àquelas mãos. Uma mulher febril por amor desabrochou dentro de mim. A pedir a lua, as estrelas ou o clarão do sol dentro de meus olhos. Arrebatei-me ao espírito das flores que ascendem em noites enluaradas e vão falar às estrelas. Senti o romper do chão a meus pés; sonora canção da noite e lá longe um pranto de violão.

A história de homens e mulheres amando-se, eu não entendia; pois julgo tê-la sentido apenas ontem entre delírios de meu corpo; o amor dos beijos dele levando-me além... A alma a festejar: ”Vem! Estou aqui. É só chamar-me amor!”

Marcos evaporando másculo perfume a descer as mãos em meu corpo-já alucinado de desejos, tanto embriagado de beijos...

Aí vieram murmúrios de amor, afagos de amantes, pétalas de flores sobre a cama.

E eu? Ah! Que fique comigo toda a lembrança da noite que tive após a porta do quarto se fechar.

Teresa Cristina flordecaju
Enviado por Teresa Cristina flordecaju em 14/01/2009
Reeditado em 14/05/2009
Código do texto: T1383924
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