O doce prazer do amargor - Cap. II

Continuação...

Achei engraçado me ganhar uma maçã do amor quando ele próprio também as fazia. Disse-me que era pra eu comparar quando provasse a dele, apesar de não haver comparação, segundo ele mesmo. Isso me fez rir. Francisco era muito seguro de si, e nada modesto. Sua história me comoveu. Era um homem vitorioso de vitórias invisíveis a olhos nus.

Francisco era muito envolvente. Não era esteticamente bonito, mas lhe sobrava charme e carisma. Encantou-me seu jeito de ser e falar, de me olhar e sorrir. Fez-me sentir a mais bela e interessante das mulheres. Senti-me embriagada, tão fascinada que nem me dei conta de que estávamos então num cantinho afastado onde já não se ouvia os sons do parque tão altos como antes. Ele então parou, chegou bem pertinho e me roubou um beijo, na boca.

Nem sei descrever o turbilhão de sensações dentro de mim naquela hora. Eu havia tido poucos namorados e nenhum beijo na boca. Fui criada no interior, debaixo do braço de ferro do meu pai. O beijo me fez sentir livre e cativa ao mesmo tempo. Entretanto, tudo o que me ensinaram na adolescência a respeito das mulheres fáceis e que se dão ao desfrute vieram à minha mente como um banho de lucidez gelada.

Como pude permitir que Francisco me beijasse logo da primeira vez? O que ele pensaria de mim? Fui dramática, eu sei, mas naquele tempo eu era assim, muito ingênua e inexperiente. Minha mãe e irmãs mais velhas nunca me falaram dos detalhes íntimos de um relacionamento. Devo ter pensado que engravidaria.

Francisco tentou me tranqüilizar e me segurou para evitar que eu fugisse. Caminhamos até um lugar mais claro e ele percebeu que eu estava à beira das lágrimas. Pegou meu queixo e, delicadamente, forçou-me a olhar seus olhos. Eu estava envergonhada e ele me disse que eu não devia ficar assim, que estava encantado com meu jeito e queria que namorássemos.

Minha vida não era propriamente feliz pelo vazio inexplicável que eu sentia dentro de mim. Estava longe de minha família e sentia falta de alguém que se importasse comigo. Eu era tola o bastante para crer que a minha felicidade se encontrava nas mãos de alguém. Um cavaleiro de armadura brilhante.

Francisco me disse que apesar do pouquíssimo tempo juntos, sentia que poderia ser eu a mulher que ele esperava e com quem viveria por toda a vida. Meu coração pulou no peito. Entretanto, disse-me que havia um teste e assim se certificaria de ser eu essa pessoa. Quando perguntei do que se tratava o tal teste, Francisco disse que seria a minha reação diante de algo que precisava me mostrar. Mesmo sem querer demonstrar, era nítido o seu nervosismo.

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Maria Buluca
Enviado por Maria Buluca em 14/02/2009
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