quando a corrida acaba.

Ela, a muito, vinha correndo feito louca por aquela estrada aparentemente familiar, mas totalmente desconhecida. Algumas vezes parava para admirar as paisagens, e numa dessas paradas encontrou uma outra menina que vinha correndo pela estrada ao lado.

Elas deram as mãos e começaram a correr juntas, mas as duas juntas não sentiam necessidade de admirar a paisagem, o que tinha lá na frente era o que queriam alcançar. E corriam cada vez mais rápido. De vez em quando uma e às vezes outra tropeçava, mas se davam a mão de novo e voltavam a correr. Quando uma cansava da corrida a outra a carregava ou puxava mesmo e vice-versa. Até que em uma bifurcação no caminho sem nem perceberem soltaram suas mãos e correram cada uma para um lado.

Olharam-se. Cada uma em uma estrada e com um sorriso no rosto e um forte aperto no peito pararam de correr por poucos minutos e se despediram à distância mesmo. Uma delas começou então a caminhar com mais calma. A outra continuou a correr e depois de poucos metros esbarrou numa outra menina que estava cantando embaixo de uma árvore.

Então parou e por um tempo ficou só observando, sem se deixar ser vista. A menina que cantava tinha uma voz doce e suave, seu sorriso era de uma luz imensa. As palavras que saíam de sua boca tocavam o ouvido da outra e lhe penetravam como a muito nada lhe penetrara. Os cabelos encaracolados lhe davam um toque angelical. Os olhos da que cantava, então, se viraram para a que corria e ali perceberam que deviam se conhecer.

A que corria chegou perto da que cantava, se apresentou e lhe estendeu a mão. A que cantava pegou na sua mão, levantou-se e sem falar nada uma pra outra se puseram a correr. A que cantava não era muito de correr, e muitas vezes conseguia desacelerar os passos da outra. Mas ela só queria correr e toda vez puxava a menor para irem cada vez mais rápido. E em pouco tempo a que corria continuou correndo, a que cantava deixou sua mão escorregar e caiu no chão.

Nesse momento a que corria parou, mas já era muito tarde. A outra havia machucado a perna e não poderia mais correr. Chorou. Choraram. Olharam-se e chegando perto, a que corria abraçou a que cantava e sentiu que estava mesmo muito cansada de tanto correr. Queria ficar e cantar com a outra, mas não sabia cantar e a que cantava também tinha perdido o jeito, depois de tanta correria. Despediram-se.

A que corria, começou então a andar devagar. Não queria mais tropeçar em ninguém, nem puxar ninguém e além disso percebeu que deveria mesmo ter cuidado já que era uma estrada desconhecida. Olhou pra trás e viu que a outra menina já esboçava alguns novos sons. Sentiu saudades, sorriu e continuou andando.

Graças às músicas da outra, sentiu, pela primeira vez, vontade de realmente conhecer a estrada, admirar mais as paisagens e parar de correr. Sabe que vai ser difícil e que a estrada é cheia de bifurcações e galhos, mas agora vai poder desviar e escolher melhor os caminhos, mesmo porque sem correr podemos ver melhor o que tem na frente.

Ela hoje tenta cantar também, e espera que uma dia seu canto chegue ao ouvido da que cantava e que dessa vez possam juntas cantar e correr também, mas só um pouquinho para não perderem o tom da música.