A DOR DE UMA SAUDADE

A chuva batia na vidraça da janela e escorria como lágrimas. Parecia que a natureza chorava as mágoas do mundo.

Tudo era solidão no interior daquela sala. Estava na penumbra. Só havia uma fraca luz de uma pequena luminária sobre a escrivaninha.

Jonas pensava nos acontecimentos dolorosos daqueles últimos meses com a cabeça entre as mãos. As lágrimas rolavam em sua face, imitando a chuva que caia copiosamente.

Por que tudo aquilo teve que acontecer de modo tão trágico e agora estava ali, tão só e com uma dor do tamanho do mundo.

Estava tão feliz, cheio de planos com a mulher que amava. E agora?Como ia sobreviver?

Beatriz era uma jovem linda!Chamava atenção, pois era uma beleza natural. Já tinha sido convidada para ser modelo, mas amava a sua carreira de Psicóloga. Fazia um trabalho incrível junto aos seus pacientes. Cheia de vida e de sonhos, estava sempre de bom humor.

Jonas e Bia amaram-se desde o instante que se encontraram numa festa de final de ano, na Praia de Copacabana.

Era um amor intenso e com muita cumplicidade.

Só tinha uma coisa que incomodava o rapaz. A imprudência dela ao volante.

A moça era afoita . Dirigia como se voasse. Não tinha limites. A velocidade era uma constante.

Em uma noite chuvosa,quando voltava do trabalho, Bia com a sua pressa, fez uma ultrapassagem indevida e perdendo a direção bateu de frente em outro carro que vinha no sentido contrário. Foi um acidente horrível.

A moça ficou gravemente ferida. O motorista do outro carro também. O Choque foi muito violento.

Foi assim que começou o tormento de Jonas.

Bia ficou alguns meses no hospital, entre CTI e cirurgias plásticas.

Até que recebeu alta.

Tudo parecia estar melhorando... Ledo engano.

Começaram então outros tipos de problemas.

Bia não aceitava a sua aparência. Seu rosto estava desfigurado e mais tarde teria que fazer outras cirurgias. Ela não acreditava que fosse melhorar e entrou numa depressão profunda. Não aceitava ser visitada por ninguém, nem por Jonas. Dizia que não queria a piedade de ninguém.

Os dias foram se arrastando e a moça cada vez mais introspectiva e difícil de lidar.

Numa fria manhã de junho,quando sua mãe foi chamá-la para o café, encontrou-a caída no chão. Chamou-a sem conseguir despertá-la e aos prantos gritou por ajuda,mas já era muito tarde.Bia estava morta.Suicidara-se.

Não conseguiu conviver com a sua aparência e desistiu da vida.

Jonas tinha acabado de receber a notícia. Estava em choque, inerte. Não acreditava no que estava acontecendo. Sua cabeça era um turbilhão de pensamentos.

Estava na mesma sala, onde tantas vezes tivera momentos de intensa felicidade e agora,eram só lembranças e uma sufocante saudade.