Diário Amoroso Retrospectivo (13-03-09)

Tinha tudo para ser uma festa comum; fui sem combinar com ninguém e acabei conhecendo dois ou três amigos que me acompanhariam pelo resto da noite. Mas o mais incrível viria pelo meio da festa. Eram quatro garotas, e nós estávamos em dois. Me preocupei um pouco, pois só vislumbrei a fita indicativa de “maior de 18 anos” em uma delas, mas eu e meu amigo achamos que poderíamos arriscar nos aproximarmos.

Sou desajeitado e medroso, então a aproximação foi deveras cômica. Enquanto meu amigo só dançava próximo, eu fui me incluindo na roda de dança das garotas, e optei por me apresentar quando somente duas delas estavam ali. Mais cômico ainda foi o fato de eu não ter guardado o nome dessas duas; só da terceira, que estava sentada próxima às caixas de som e parecia um tanto deslocada.

“Prazer! Lucas!”

“Hein?”

“Disse: Prazer, meu nome é Lucas!”

“Ah, prazer! Fulana!”

“Beltrana!”

Mas eu tinha me aproximado delas pensando em realmente me aproximar da que estava sentada. Ela havia dispensado um cara esquisito, com uma peruca que mais parecia ter saído de um abismo, após comer um descuidado e fofinho mamífero, e minha insegurança gritou nos meus ouvidos: “Nem pensar! Ela é demais pro teu caminhão, cara.” E eu não fui me apresentar a ela naquele momento.

Não foi muito tempo depois que a quarta garota, baixinha de óculos, que parecia “liderar” o grupo naquela festa de gênero alternativo, apareceu e chamou as demais pra sentarem-se (ou foi a terceira, minha “escolhida”, que chamou? Juro que não me lembro, e juro também que não bebi muito naquela festa). Àquela altura meu amigo também tomara coragem e se apresentara para as garotas, então fomos com elas. Sentaram-se, a que mais tarde (tipo, bem, bem mais tarde... Só mais de um mês depois) eu descobriria se chamar Greice, e a morena alta de pele bem branca que eu havia elegido como minha musa inalcançável naquela festa, que se chama Daiane. Sentei-me ao lado delas e, de pé, ficaram meu amigo e a outra garota, que se chamava Luiza (ou Luisa?).

No momento fiquei mordido, pois meu amigo me deixou para conversar com duas das garotas, enquanto ele tentava conversar com a Luisa. Já devem saber que conversar numa festa é uma coisa difícil, cheia de distúrbios na comunicação e gritos de “HEIN?!”. Fazer isso com duas pessoas é uma missao um tanto enlouquecedora. Ainda mais quando você só quer sentar e conversar com uma delas, em especial. Mas consegui levar, descobrindo que Daiane era bixo de jornalismo na UFRGS e tinha 19 anos, enquanto Greice fazia Japonês. Luisa, por sinal, me surpreendeu, dizendo que era filha do diretor do meu curso . Daiane realmente estava deslocada na festa; fora quase arrastada para lá pelas amigas. Não que não gostasse do estilo de música, mas não gostava de dançá-lo.

Novamente nos dirigimos para a pista de dança, mas Daiane não ficou muito tempo com o grupo, decidindo-se por se sentar. Uma parte para não deixá-la sozinha enquanto todos se divertiam, outra por estar interessado nela, convidei-a para dançar comigo. A dança também não durou muito tempo, pois ela estava cansada e queria mesmo sentar-se, então, me sentindo um ser um tanto inconveniente, até, pedi para sentar-me com ela também. A tentativa de conversar na pista de dança foi um fracasso, logo chamei-a para conversar na área do bar da festa, onde a movimentação era bem menor (e onde estavam passando alguns filmes trash-gore-japoneses terríveis).

Não posso especificar o tempo com total certeza, mas acho que foram uma ou uma hora e meia de conversa quase ininterrupta. E cada vez mais eu me convencia de que não desejava tentar ficar com ela na festa. De que ela era uma garota especial, em quem eu deveria, com certeza, investir. Cada nova descoberta sobre ela me fazia querer chamá-la para sair fora daquele ambiente da “ficada-de-uma-noite”. Mas minha amarga insegurança continuava salientando momentos em que ela parecia querer me aproximar de alguma das amigas. De fato aquilo foi algo que não esperava que acontecesse em uma festa, e ela era uma pessoa que eu não esperava encontrar em uma festa. Descobri, naquele instante, que queria conhecê-la, e, portanto, conversar mais ainda com ela. Ficar se tornara algo bem secundário pra mim, naquela sexta-feira 13.

Permanecemos todos no mesmo grupo até o final da festa. Decidi que iria levá-las até o táxi ou ônibus – queria vê-la ao raiar do dia, queria passar mais tempo com ela, acredito. E assim foi; deixei meu amigo no lugar da festa e segui com ela e as amigas durante todo o caminho que iriam percorrer até o local onde pegariam um ônibus. No final optaram por ocupar um táxi, e ali me despedi de cada uma delas, individualmente, e esperei que o táxi cruzasse a rua e fosse embora (gesto que, descubro, mantenho mesmo agora, que já se passou mais de um mês desse início de história, quando me despeço da morena alta de pele alva, chamada Daiane).

Naquela manhã eu me senti grande e forte, realmente. Me senti inteiro, me senti bem. Mesmo que a aguda e determinada voz da minha insegurança continuasse a torrar meu saco, meu ego havia tomado as rédeas de forma natural (essa é uma palavra que vou usar muito, aliás) e saudável. Eu me sentia bem. Realmente bem. A noite havia sido melhor do que eu imaginara, com toda certeza.