Rabiscos de um soneto

A agonia era tanta que escrevera uma carta de amor, pensando apenas em ódio. Este sentimento talvez o transformasse no mais melancólico dos poetas, e como era bom ler sobre a melancolia alheia.

Com uma caneta velha e um papel de rascunho na mão, ele pensou em um soneto:

Das lembranças resta um sorriso

Do amor, um abrigo

Da tolice, um riso

E da vida, um amigo...

Já fui capaz de tudo, só para voltar

Mas agora já esqueci

Não quero mais seu lar

E, então, da sua vida sumi!

Seu veneno me transformou em pedra

Uma rocha, dura e fria

E parece que ninguém a quebra

Minha alma se tornou sombria

Sem luz, fiquei

Seu rosto se apagou da minha mente

Uma nova vida inaugurei

E o coração finge que nem sente...

Depois de escrever estes clichês em versos, quase um soneto, ele tomou uma taça de vinho, fumou um cigarro e sentiu o vento gelado alisar seu rosto através da janela aberta.

Olhou para o que denominara, automaticamente, Rabiscos de um soneto e fez questão de rasgar e queimar linha por linha. Desejou que cada palavra ali registrada pelo seu próprio cerne fosse falaciosa.

Malluco Beleza
Enviado por Malluco Beleza em 06/05/2009
Código do texto: T1578849
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