Uma Carta Apaixonada

(Vamos começar!)

“Meu chuchu,” (Não, ele não gosta de chuchu. Apaga)

“Minha berinjela à milanesa,” (Isso eu sei que ele gosta!)(Ops, mas berinjela é mulher. Apaga)

“Meu repolho cozido ao molho de gergelim,” (Agora sim! Ele deve estar com água na boca, hum)

“Meu repolhão, eu te amo muito,”...

“... muito, muito, muito”...

“Você é o amor que” (Não, espere)...

“Você é a fruta” (Melhor!)

“Você é a maçã e eu a Eva” (Mas, calma, eu vou comer ele? Não, é ele que me come)

“Você é a Eva e eu a maçã”...

“Me coma!”... (Não! Está muito apelativo. Apaga)

“Pra você me comer”...

“Me coma!”... (aí, melhorou!)

(Pula uma linha)

“Desde que eu te vi, eu”... (eu o quê?)

“eu te amei pra” (Não, isso já está muito manjado, apaga)

“eu me entreguei completamente pra você” (na verdade eu vomitei nele de tão beuda que eu tava)

“depois do vômito, lembra?” (Isso! Arrumei)

“(desculpe se sujou tua camisa)”

(Não, não gostei. Apaga tudo!)

“Desde que eu vomitei na tua camisa”...

“eu me enlouqueci por você” (Eu fiquei louca de raiva por ter vomitado, aff)

“e então eu me entreguei completamente pra você” (Na verdade, eu desmaiei depois do vômito e ele que me pegou)

(Hum, pula linha e muda de assunto)

“Você é minha vida” (não, muito meloso, apaga)

“Você é meu tudo,”...

“tudo que eu preciso pra viver” (pronto, agora vem a apelação!)

“me ame, me adore, me cultue...”

“que eu te amarei, adorarei, cultuarei...”

“meu lindo”

“totoso”... (Não, aff, isso é muito meloso e infantil, apaga correndo)

“meu Brad Pitt misturado com Tom Cruise” (agora uma enrolação básica)

“Tô te escrevendo pra você ter a confirmação da certeza que eu te amo, meu baby”...

“Me escreva, ouviu? Me conte as novidades daí. Como que é aí? Frio demais? Calor demais? Não tem nada demais? E de menos?” (Vixe, enrolei demais)

“E as pessoas aí, são leais” (Oops, errei)

“E as pessoas aí, são legais?”... (Hum, volta o erro!)

“E leais? Leais com suas namoradas que estão distantes que nem você?”... (Apaga, melhor)

“... que nem você é comigo?”

(Tá muito apelativa essa parte. Pula uma linha e troca de assunto, põe as novidades daqui)

“Bem, aqui tudo está normal” (Não, acho que ele já deve ter visto os noticiários na televisão. Arruma a frase)

“Bem, aqui está, depois que o avião caiu e destruiu todo o centro da cidade, tudo normal”... (Não, não está normal!)

“... tudo está uma loucura”...

“Tiveram mais de mil e poucos mortos” (Eu falo já ou deixo pra dar a notícia mais tarde?)

“E dentre os mortos estão seus pais” (Não, não! Está muito chocante assim, apaga. Troca a frase inteira)

“E tem mais jornalistas, bombeiros, policiais, na cidade do que toda a população antes do acidente”...

“Ah, mas você deve ter visto tudo isso pela televisão” (Tomara que sim!)

“Então, além disso, está tudo como antes, normal” (Tirando os enterros diários, a tristeza que assolou a cidade... Mas eu estou feliz. Meu chefe morreu!)

(Pula outra linha e termina)

“Estou com muitas saudades, meu chuchu” (Mas que coisa! Chuchu não!)

“Estou com muitas saudades, meu repolhão”...

“Eu não liguei pra você, porque o avião detonou com as linhas telefônicas, até com a energia da cidade. Apesar que mesmo assim, o McDonald’s tá funcionando” (Liquidando com a comida estocada, semi-cozida. E o povo comendo mesmo assim)

“Te amo, muitos beijos”

“Ass: Seu chuchuzinho... Eu”

(Pula)

(Pula)

(Três linhas, isso, tá bom)

“Obs: Seus pais não estão nada bem” (Melhor ir direto ao assunto)

“Obs: Seus pais estão mortos” (Não, de novo)

“Obs: Seus pais foram atropelados” (Pelo avião)

“Obs: Seus pais te mandam um abraço e um beijo” (Melhor ele saber só depois que voltar, se é que voltar. Eu é que vou pra lá!)