Tinha alguma coisa em seus olhos que não conseguira ler naquele dia. Também sua voz havia mudado assim como seu comportamento. Eu não havia percebido, ou não queria perceber tal mudança. Ele não mais me tratava como antes. Por vezes esquecia-me em algum lugar e por diversas noites não mais me encontrava ou procurava.

     Nem mesmo o prazer dos corpos o interessava...Senti essas mudanças todas, uma por uma, sofrendo calada...Já sabendo do final e querendo de alguma forma regastar o que já havia perdido nem sei como, nem sei quando.

     Seu tratamento das últimas lembranças foram tão desgastantes para minha alma que até hoje lembro de cada palavra e maldade sofrida.
     A lembrança desses detalhes horrendos e divagantes levaram-me a odiar o ser humano por algum tempo. Não entendia como tudo poderia acabar...Talvez o tudo não fosse nada naquele causo. Todos aqueles dizeres malditos e os acontecimentos todos tomaram conta de minha imaginação, formando-se uma importância circunstancial, devido à minha relação como mulher apaixonada e enfraquecida por frases jamais esquecidas.
Até quando se precisa acabar algo, quando se perde o interesse precisa-se ser humano e possuir virtudes que não mais existem.

     A adoração e o desprezo tornaram-me silenciosa e descrente de tudo e de todos. Com o desfecho do esperado tornei-me excessivamente minunciosa e detalhista, ávida de lembranças presentes. Certa de que a cada segundo perco algo que não mais poderei recuperar...Quando se tem essa constatação horrenda, não mais se vive livremente... registra-se algo a cada piscada de olho, a cada segundo sinto que perco o mundo e nada posso fazer...A palavra escrita corre e a cada letra à esquerda já passara-se um mundo que não vivi e não poderei voltar atrás.

      Dorme em paz meu amor, dorme que a cada segundo eu registro os teus encantos e os aprisiono em minhas lembranças passadas...inevitavelmente, já condenadas.