A CARONA

A CARONA

Quando Luciana desceu as escadas do seu prédio para ir ao encontro do seu namorado Nelson, ela tinha uma grande preocupação, fazer com que ele acreditasse no seu amor. Acontece que Luciana com seu trejeito ainda adolescente foi ingênua ao permitir que Marcos, um amigo de Nelson, desse a ela uma carona até a Academia de Música, parando antes de conduzi-la ao seu destino, num posto de gasolina para abastecimento do carro e lá encontram Nelson que também tinha ido abastecer a sua motocicleta. O encontro inesperado causou um certo constrangimento e Nelson sem muito compreender aquela situação perguntou: - Posso saber para onde vão? Marcos de pronto respondeu que encontrara Luciana que ia para a academia de música, onde estudava e como era seu caminho ofereceu-lhe uma carona e ela aceitou. Num lampejo de olhar fuzilante de homem enciumado, Nelson apostou que havia algo combinado entre eles, isso gerou um conflito de entendimento que separara Luciana de Nelson por algumas semanas, até que foi dado um sinal de vida pela própria Luciana que pediu para que Nelson a encontrasse naquela tarde, em frente à Academia de Música, Nelson concordou desde que ela o convencesse de que realmente Marcos não a estava cortejando e que ela não se envaidecera desse seu gesto cortês. A questão agora era como fazer com que Nelson acreditasse.

No percurso até a academia de música, onde marcara o encontro, várias foram às considerações pensadas por Luciana de como relataria, ou melhor, provaria o seu amor. Ao chegar no local, qual foi a sua surpresa; Marcos é que se fazia presente. Perguntando a ele o porque da sua estada ali, e se havia visto Nelson, Marcos respondeu: -Porque Nelson deveria estar aqui? Você não me convidou, dizendo que precisa falar comigo? Nesse momento Luciana perplexa pela confusão ali constatada, resolve ligar para Nelson e saber a finalidade dessa situação. Nelson fazendo-se de inocente faz crer que de nada estava sabendo e que não recebeu nenhum telefonema dela para com ela encontrar-se. Desesperada pela crítica situação, Luciana pede desculpas a Marcos e sai procurando entender qual foi o seu erro para tamanha confusão, e o porque de Nelson agir dessa forma, se ela falou com ele, e ele confirmou o encontro, desde que ela fosse convincente em sua explicação e lhe desse prova de amor.

Luciana então decide não mais ir a academia de música naquela tarde, e sai a passos largos buscando compreensão numa retrospectiva de quando com Nelson falou. Seus pensamentos ora galopes, ora lentos, vão pouco a pouco juntando detalhes na formação do inteiro vexatório. Lembra Luciana que ao ligar para Nelson e convidá-lo para com ela encontrar-se, houve uma interferência em sua linha telefônica, que prejudicava o audível da comunicação, mais que ficou bem claro a insistente indagação debochada de Nelson em querer saber se ela estava ligando corretamente, se era realmente com ele que ela queria falar Com isso aflorou a sua memória, que ao responder a Nelson, ela usou de um tom irônico e disse:

- ah! Não é Marcos que está falando?

Ao que Nelson respondeu:

- Não é Marcos, mas eu lhe darei o recado. Pode esperá-lo! E exclamou:- convença-me! E desligou.

Achando que essa ironia fora apenas brincadeira, Luciana agora garante a certeza de que foi Nelson que ainda muito enciumado fez o convite a Marcos como se ela tivesse pedido para ele ser o intermediário. Tudo não passara de uma grande armação. Desiludida Luciana resolve não mais ditar sua própria verdade, dando por encerrada as amizades com Nelson e Marcos.

Passaram-se alguns meses, até que a cortina do tempo abre-se sobre o horizonte brilhante de um dia feliz para Luciana. Na pracinha do seu bairro, haveria uma apresentação da Academia de Música a qual ela faz parte. A música sempre fora para Luciana uma aliança com a sua alma, como o seu violão celo a sua paixão de cordas afinadas, vibrando juntas, embora somente uma seja tocada.

Dia festivo, a pracinha enfeitada, convites na rua. Hora da apresentação. O palco iluminado, os músicos posicionados. Abraçada com o seu violão celo, Luciana longe estava de pensar que alguém na multidão a observava. A orquestra foi convidada a apresentar o seu primeiro número, e harmoniosamente tocou “Pour Elise (Betethoven)” para encantamento de todos, seguidos dos números “Grande valse brilhante (Chopin)”, “Choros nº 1 (Villas Lobos)” e “Danúbio Azul”. Com a platéia visivelmente emocionada, Luciana corre seu olhar a multidão e se apercebe que Nelson estivera ali por todo o tempo apreciando o sublimato daquele momento musical. Seus olhos encontram-se, e ela logo lembrou de suas palavras “Convença-me!”

A verdade aflora.Luciano nunca deixou de amar Nelson, ela apenas acreditava e esperava que o tempo lhe desse uma oportunidade Ela devia a ele a prova do seu amor. Todo o corpo de Luciana acendia-se com a preposição de um renovo para o seu coração. Pela oportunidade do momento, ocorreu-lhe um pensamento; Se Nelson estava ali, tão pertinho dela algo teria que fazer para provar-lhe o seu amor. Foi então que pensou:... Após a apresentação vou ligar pra ele e convidá-lo a permanecer na pracinha e assim conversaremos.

Terminado o show, a orquestra e seus componentes saíram. Guardando o seu violão Celso para ser transportado por ajudantes, qual foi sopesa, o seu celular toca e o visor indica que Nelson a chama; pasma, Luciana responde “alô” e Nelson do outro lado parabeniza-lhe pelo espetáculo musical assistido, e por ela tão bem acompanhado e logo lhe pergunta com certa insegurança, será que tem um tempinho pra mim ainda hoje? Ela lhe responde:- Nossos pensamentos se comunicaram...Eu estava me preparando para ligar para você e combinarmos de conversar um pouco. Eu o vi, e muito me alegrei com o prestigio da sua presença. Marcaram ali mesmo na pracinha e forma conversar.

Ao se olharem tão pertinhos, os seus aceleramentos cardíacos eram fortemente pulsantes. Havia algo inebriado entre os dois. Luciana mais destemida iniciou a conversa falando de sua possível viagem com o grupo numa turnê pelo litoral nordestino, levando a música clássica aos que não tem a oportunidade de ouvi-la de pertinho, tocada por orquestra ao vivo.Ao falar em viagem, Nelson surpreendeu-se e de logo perguntou: Você vai demorar muito? E Luciana lhe respondeu que sim, a turnê deverá passar mais ou menos uns quatro meses viajando. E Nelson lhe indaga: Como vou eu ficar, mais quatro meses sozinho? Luciana sem se conter de emoção grita de espanto: - Não entendi, como sozinho?... Ao que responde Nelson:- Sem ter você ao meu lado. E continua... -Desde aquela estúpida ciumeira que senti com você e o Marcos, eu fui muito cruel com o nosso amor. Esses meses de nossa separação só tem me feito sentir que a sua ausência é uma presença constante da saudade que tenho de você. Ao ouvir aquelas palavras soadas com as notas da sinceridade, Luciana diz:- Nelson eu ainda não consegui lhe dar a prova do meu amor, que você tanto pediu. E Nelson levando suas mãos aos cabelos de Luciana, e acariciando-os diz; - Eu não preciso que você me prove nada. Você é a própria prova desse amor, em nenhum momento quisesses com a força do egoísmo fazer-me entender, o que somente se entende com o coração. Um beijo devido e tão desejado de meses atrás, foi selado nos lábios ardentes de paixão daqueles dois jovens.

Luciana e Nelson acordaram na estrada percorrida pelo veículo amor, onde “caronas” não existem.

Jair Martins 09/09/07 17:39