" A grande alegria é inexpressiva "
"As pessoas mais felizes não
têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das
oportunidades que aparecem
em seus caminhos".
(Clarice Lispector)
Era noite de São João, do lado de fora pessoas dançando pela rua, com suas vestimentas em ritmo típico de festa junina, animação, cheiro de pamonha, pipoca, milho verde, e todas as outras coisas que insistem em chegar no mês de junho, bandeirinhas pela rua, um colorido bonito animando as vielas cinzas de São Paulo, porém nada tão bonito se comparado ao lado de dentro do apartamento, localizado no maior edifício do centro da cidade. Na sala um sofá vermelho, e uma parede com um mural de fotos gigante contendo pequenos e memoráveis pedaços de uma história repleta de fragmentos, fotos contendo o inicio e o meio de um romance (que deveria virar filme), porém com um fim imprevisto, um fim que nunca será retratado, já que pela primeira vez na vida se pensou em eternidade.
Ainda na sala pode-se ver uma grande biblioteca com alguns livros nunca lidos, e alguns que nem saíram do plástico, talvez eles só estivessem ali para simbolizar um ar intelectual, ou para fazer de conta que existiam coisas além daquele amor exposto em cada canto do apartamento, em cada vaso, em cada carta, cartas que foram guardadas em uma caixa bem grande que o tempo não perdoou, fazendo questão de envelhecer cada segredo que aquelas cartas continham,segredos que nem em outras vidas serão envelhecidos, cartas perdidas de amor, de talento e de loucura. Pela estante incensos, dragões, carpas, coisas místicas, diferenças gritantes, porém tão iguais, diferenças que se completam e que sozinhas não fariam nenhum sentido, como diria o brilhante Caio Fernando de Abreu "coisas claras, panos brancos, incensos e flores." , alguns cd’s contendo a trilha sonora de toda a perfeição, alguns vinhos bem doces para serem consumidos durante as noites frias, vinhos que trazem lembranças, bons risos, e a certeza de que todo este encontro não foi simples acaso, mais sim destino, obra dos Deuses, sincronicidade, algo que não se explica, apenas se sente, se vive, se sonha, um apartamento, localizado no maior edifício no centro da cidade, no último andar, um apartamento onde não é permitido telefones, e o difícil acesso não faz questão de ser modificado, um apartamento usado como refugio do mundo externo, perfeito em cada detalhe, e delas, somente delas, onde cada parede é capaz de implorar que seja eterno, e se os anjos disserem amém, será, aliáis, já está sendo.