APRISIONADO POR UM ANEL

APRISIONADO POR UM ANEL

Danúbio e Pedro são grandes amigos e confidentes. Pedro na sua ultima conversa com Danúbio, contara a ele um episódio vivido com sua namorada Marta, quando dela tomou o seu anel e o quanto ela ficara brava pelo seu gesto impulsivo, mas, ele estava muito feliz, e ingenuamente decidido a não mais devolver-lhe. Para ele essa era uma forma de sempre estarem juntos, quando o físico de ambos conduziam-se a distância. Porém numa certa tarde Danúbio foi surpreendido com a notícia de que Pedro tinha sido indiciado a comparecer a delegacia para responder sobre uma queixa do roubo de um anel e que ele já encontrava-se na delegacia. Sem muito pensar, Danúbio dirige-se com pressa ao local. Lá chegando encontrou um tumulto de amigos e curiosos daquele pequeno vilarejo, Danúbio apreensivo procura passar entre as pessoas para adentrar a porta da delegacia. Pedro seu melhor amigo, realmente para muitos, cometera um delito e fora pego no flagra – roubara de sua própria namorada um anel. Chegando a frente do delegado, ofereceu-se por testemunhar a favor de Pedro. O delegado por sua vez pediu para que ele expusesse sua defesa ao que Danúbio falou: - Senhor delegado, a falta cometida pelo meu amigo, tem relevância numa causa chamada de “desordem do amor”. Explico-lhe melhor: - Pedro faz parte de um grupo de pessoas que quando o coração tem comando pela emoção de um outro coração, o raciocínio não obedece ao comando ético. Ao se sentir longe de sua amada, teve a péssima idéia de possuir dela um pertence, para que ao tocá-lo sentisse-a tão perto como o objeto em suas mãos. Nesse pensar intrigante, resolveu pedir-lhe o anel que ela usava frequentemente, o que de imediato lhe foi negado, acometido de um súbito o tomou grosseiramente. Sua namorada também atorduada, sentiu-se agredida ao ponto de buscar defesa prestando queixa desse fato testemunhado à dois. Peço-lhe que não dê a ele a devida atenção policial, porque o coração amante de um outro coração será sempre um ladrão, pela simples verdade de que o amor é arrebatador, ele rouba inocentemente e ousa sem consciência a tomada de um espaço e denomina-o dele. Nesse momento chega Marta visivelmente de face caída, triste, arrependida, e dirige-se ao delegado com voz entrecortada dizendo: - Vim reparar meu erro. A ignorância me fez agir egoisticamente com o Pedro, provando pra ele um contrário do que o meu coração sente. Foi preciso um anel, um círculo sem começo nem fim para que eu entendesse o quanto representa as vidas presas na circumferência de uma aliança. Disfarçando ter sido atingindo pela sensibilidade das palavras de Marisa, o delegado pediu ao escrivão, usando um tom de voz austero, para que tornasse sem efeito aquela queixa de “desordem do amor” como dissera a testemunha Danúbio. Pedro foi liberado da acusação e encontrando-se com Marta ainda na sala do delegado, o brilho de seus olhares refletia um manuscrito de uma frase lida somente pela alma amante – “O amor é uma prisão de porta aberta para com a compreensão e o perdão”. Os dois sairam do recinto com a certeza de que suas vidas pertecem a uma esfera sem porteira, confinados as juras eternas.

Jair Martins – 25/01/07 - 23h33