O Segredo

O Segredo

O dia amanheceu radiante,a rua silenciosa aos poucos era ocupada por feirantes vindos de lugares variados,carroças e bicicletas surgiam lentamente de diversos locais ocupando a ruazinha.O Sol iluminando aos poucos as janelas dos casarios e um lindo azul surgia a cima do vilarejo anunciando mais um dia quente de verão.

Na casa que ficava no final da rua, cercada por cinamomos,as janelas já estavam abertas,no andar de cima havia uma intensa movimentação entre um cômodo e outro,ao fundo de um largo corredor uma porta levava a um quarto rosado.Ali dormia Vicenta,a filha mais velha do médico da vila,estava fazendo quinze anos e nesta noite teria uma festa como presente de aniversário.A porta do quarto abriu-se e dela surgiu uma senhora alta,magra de cabelos curtos,escuros,falando em voz alta e firme:

_Vamos dorminhoca!É hora de acordar!Precisas experimentar mais uma vez o vestido.

Da cama ouviu-se um resmungo e um leve movimento dos lençóis,deixando a mostra braços finos de uma pele rosada. Dos travesseiros uma longa cabeleira loira ergueu-se e dela um rosto fino,leve e bonito apareceu.Dele um sorriso irradiou o quarto e dos olhos castanhos um brilho surgiu._Mamãe tive um sonho tão bonito,sonhei com papai e você num jardim enorme! Dizendo isto levantou-se e foi em direção a janela ,observando a rua,os feirantes em suas barraquinhas coloridas organizando os produtos para o comércio.Espreguiçou-se toda.Logo tirou a camisola e vestiu uma saia marrom e uma blusa branca com fitas escuras.Olhou-se no espelho ajeitando os cachos loiros e sorrindo saiu cantarolando pelo corredor em direção a escada.Lá em baixo havia uma sala enorme onde estavam num canto vários arranjos de flores ,fitas e tecidos na cor de salmão,a decoração da festa . Duas empregadas estavam ali arrumando tudo para mais a noite.Da cozinha sentia-se odores saborosos .

Vicenta correu até o consultório do pai,batendo na porta antes de entrar,pois ele poderia estar atendendo algum paciente,ela sabia que seu pai era muito exigente com sua família em relação a seu trabalho.Ouviu de dentro um "pode entrar" e penetrou no ambiente.Era uma sala mediana na cor cinza ,com uma estante envernizada ao fundo,uma pequena mesa e uma cadeira no meio e ao canto uma poltrona.Atrás da mesa um homem calvo,de seus 56 anos aproximadamente,usando óculos e, por trás destes ,olhos cinzentos e observadores a esperavam._Papai ! Bom dia! Sonhei com você e mamãe naquele jardim lindo que fomos ano passado. Dando-lhe um forte abraço e um beijo._Filha, logo você irá conhecer outros mais lindos,agora meu bem vá tomar seu café e ajude sua mãe com os preparativos ,pois hoje é um dia muito especial, não?Vicenta pegou uma caneta e ficou a brincar com ela no tinteiro,fazendo pinguinhos numa folha de papel de um bloco de receitas médicas.Queria ficar mais um pouco com ele ,mas como sempre, era afastada ,pois o trabalho dele a fazia sempre ficar distante, apenas aproveitando os poucos momentos de folga entre um cliente e outro.Seu pai era um dos dois médicos do vilarejo e como era o mais antigo ,tinha muitos pacientes.Uma campainha tocou na frente da casa ,vozes se ouviram ,mais um paciente havia chegado.Vicenta foi se afastando acenando ao pai.

Na salinha ao lado estava uma mesa pronta para o café .Nela estava um menino bonito,loiro ,deveria ter uns doze anos,mordiscava um bolinho de cenoura e com a outra mão tentava equilibrar palitinhos em cima da mesa._Bom dia Gustavo!Pronto para me ajudar?Perguntou-lhe faceira sentando ao seu lado,roubando-lhe um bolinho._Papai me pediu para ir com ele até o riacho,ele vai visitar a família Pires,ele vai ver a velha bruxa.Os Pires eram uma família de pescadores ,e a velha bruxa era a anciã .Tinha reumatismo e não podia comparecer ao consultório.Além disto o doutor sempre passava por lá para pescar e conversar com o Seu Juvenal,velho pescador e contador de causos do vilarejo.Gustavo pegou mais um bolinho e correu para o quintal.Lá um menino negro o aguardava para brincar .Era o filho da empregada Ema.

Vicenta terminou seu café e seguiu para um cômodo que ficava ao lado do consultório.Ali estavam sua mãe e uma mulher gorda muito falante e agitada,a costureira da vila.Sabia muito bem coser assim como discutir os assuntos do lugarejo._A senhora não sabia? Pois a filha do verdureiro fugiu com aquele rapazinho vendedor de porcos,fugiram durante a noite ,aproveitaram o último trem.Falava rapidamente , sacudindo-se e agitando as gordas mãos.Ao verem Vicenta,interromperam o assunto .Dona Acácia,mãe da menina tirou de dentro de uma caixa grande um vestido de broderi na cor salmão,bordado com pequeninas pérolas róseas,de mangas curtas e fitas na cor branca contornando a cintura e decote.

Vicenta foi logo experimentando ,dando opiniões aqui e ali.As duas mulheres analisavam tudo. Discutindo o alinhamento.Tudo estava correto.Vicenta naquele vestido estava uma linda moça de seus quinze anos.

Lá fora ,na ruazinha,entre as barraquinhas de feirantes,um rapaz,conversava animadamente com outros,Leonardo era o seu nome.Tinha dezoito anos e era o filho mais velho de seu Manoel ,o peixeiro.Entre risadas e brincadeiras os rapazes se divertiam mexendo com as moças que ali passavam.Leonardo era um belo rapaz.Moreno,cabelos curtos emoldurando o rosto firme,possuía olhos na cor de mel,seu sorriso cativava qualquer moça que por ali passasse.

_Então ontem a noite você teve que sair as pressas pela janela do vidraceiro ,Miguel? Ah! Há! Há! Há! Se fosse comigo a história seria diferente.Comentava o rapaz a um amigo.O vidraceiro tinha uma esposa muito fogosa e quando este ia fazer algum serviço extra ela recebia rapazes em seu quarto.Miguel teria sido um destes. A barraca do pai de Leonardo ficava em frente a casa de Vicenta.Leonardo sabia que o médico tinha uma filha a qual estaria recebendo convidados a noite e seu pai vendia seus peixes algumas vezes ao médico ,assim como também consultava com ele sempre que sua perna doía.Naquela manhã o assunto não era outro senão o da festa da menina Vicenta.Os dois jovens haviam se visto algumas vezes,mas nunca o suficiente para se conhecerem ou mesmo conversarem ,até ,porque Leonardo passava a maior parte do tempo ajudando seu pai na peixaria ou ajudando os Pires lá no riacho,o filho caçula deles era amigo do rapaz.Vicenta quando não estava trancada em casa fazendo as lições ,visitava uma tia idosa,já doente em outra vila,portanto ela não tinha tempo nem ocasião para conhecer alguns jovens de sua vila.Mas aquele dia os rapazes estavam combinando um jeito de poderem entrar na festa nem que fosse rapidamente para espionarem as moças filhas dos ricos convidados do médico.Leonardo iria apenas por diversão,afinal logo ele iria morar com seu tio na cidade e lá iria conhecer outras belas moças.Ele queria montar uma grande peixaria no centro da cidade,sempre fora bom comerciante,queria continuar com o negócio de seu pai ,mas não ali no vilarejo.

A porta da casa do médico abriu-se e dela surgiu Gustavo e o seu companheiro Lilico.Os dois meninos correram em direção aos rapazes,queriam escutar e participar das brincadeiras destes.Miguel perguntou sobre a festa e se poderiam dar uma espiadinha.Gustavo disse-lhes que a noitinha iria abrir o portão dos fundos do jardim e por ali poderiam entrar.Quando tudo ficou acertado cada um voltou aos seus afazeres,os dois meninos foram brincar na praça junto com outras crianças.Da janela de seu quarto Vicenta havia observado tudo.Percebera o rapaz bonito do cabelo brilhoso e gestos sensuais,com sua camisa branca aberta no peito,deixando a mostra a pele sedosa e âmbar.Sabia que ele era o filho do peixeiro,mas nunca ouvira seu nome a não ser nesta manhã.Voltou-se para a cama e deitando-se fechou os olhos e ficou imaginando logo mais a noite se por alguma conveniência aquele belo rapaz comparecesse a festa,pois seria maravilhoso dançar com ele a valsa ,ouvir a sua voz, tê-lo por perto.

A tarde todos descansavam.Os feirantes já haviam limpado a rua ,guardado suas caixas,suas carroças já haviam retornado a seus locais.Apenas alguns derradeiros ainda terminavam suas limpezas.Vicenta sem sono ,perambulava pelo jardim que ficava no fundo da casa.Ouviu vozes que vinham do outro lado do portão.Eram Miguel e Gustavo,os dois combinavam o horário para entrarem.Vicenta abriu o portão ,olhou o rapaz e sorriu. Este lhe comprimentou e afastou-se,sendo seguido por ela e Gustavo até a rua.Ali em frente Leonardo terminava de carregar a carroça.Ao virar-se encontrou a moça,sorrindo-lhe comprimentou-a tirando o boné._Boa tarde menina Vicenta!Parabéns pelo seu aniversário!Como não tenho flores posso lhe dar um peixinho?Disse-lhe matreiramente. Vicenta alegre respondeu-lhe que seu presente seria a sua presença em sua festa logo a noite,o que o rapaz prontamente respondeu com um gracejo,subindo na carroça e partindo assobiando uma cantiga .Vicenta e Gustavo retornaram ao jardim e cúmplices em seu plano subiram ao quarto dela e ali ficaram até a tardinha.

A noite chegou,o vilarejo todo voltou-se para a festa.Alguns habitantes foram convidados ,outros não ,mas permaneceram atentos aos movimentos da casa do médico.Os primeiros convidados foram chegando na casa iluminada,com seus adereços para a festa.

Vicenta desceu as escadas em seu lindo vestido,seu cabelo preso num penteado que lhe dava a graça de uma princesa em seu castelo.Seus pais a receberam e apresentaram-na as pessoas que ali estavam,a festa iniciava-se.Vicenta circulava entre os convidados conversando,ouvindo ou apenas sorrindo como resposta a algum comentário,fazia tudo como sua mãe havia lhe orientado.Seu pai a acompanhava admirado e de vez em quando vinha e lhe dava um abraço ,o que deixava a moça sensível ,pois nem sempre tinha este momento com ele.

Lá fora ,junto ao portãozinho do jardim os rapazes esperavam ansiosos Gustavo abrir o portão.Mas este estava tão entretido em prender os laços das meninas nas cadeiras que nem se lembrara do combinado.Lilico seu amigo ,é que foi até o jardim e assim possibilitou aos jovens entrarem na festa,cada um silenciosamente foi aos poucos penetrando na casa de Vicenta.

Leonardo estava com eles.Seguiu em direção a sala principal,estava usando a sua melhor roupa e levava consigo um pacotinho,procurava atento por Vicenta .Acabou encontrando-a perto do piano com uma senhora que insistia em lhe contar uma história enfadonha.Ao se perceberem,os dois jovens sorriram e juntos foram a um canto.De longe o médico observava a tudo.-Trouxe para você,espero que gostes?Disse-lhe o rapaz entregando-lhe o pacote,que logo foi aberto e dele saindo um livro de poesias._Adorei! Como você sabia que eu gosto de poemas?Assim ficaram a conversar distraídos até que alguém interrompeu .Era o médico anunciando a valsa.Pai e filha iniciaram a dança,observados pelos convidados,aplaudidos ,admirados.Vicenta beijou o pai agradecendo-lhe pela noite:_"Adoro você paizinho! "Deixando-lhe rapidamente e procurando pelo rapaz.O médico atento a tudo ,voltou-se a Dona Acácia fazendo-lhe um sinal.

Enquanto os dois jovens dançavam e divirtiam-se na festa,o médico e a mãe conversavam no consultório,discutiam seriamente,chegando a elevarem as vozes.

A festa seguiu normal .Ao final todos os convidados se despediram.Vicenta agradeceu a todos e logo que o último convidado partiu ,ela seguiu para o jardim lá encontrando Leonardo e seus amigos.Deu-lhe um bilhete e voltou para a casa,pois seus pais a aguardavam.

No outro dia,Leonardo em sua casa ,atentamente observa o bilhete .Ali dizia que Vicenta queria se encontrar com ele na Igreja após a missa,o que lhe despertara o desejo de rever a moça,pois gostara muito dela ,além de lhe achar muito bonita,embora soubesse muito bem que o médico não veria isto com bons olhos,pois todos no vilarejo sabiam que o destino de Vicenta era um bom casamento com algum rapaz rico da cidade ,o que ele como filho do peixeiro estaria fora da questão.Mesmo assim decidiu ver a moça no local e hora marcados.

A missa transcorreu como sempre ,os moradores fervorosos em seu cânticos e rezas,o padre com seu sermão entusiástico,as crianças fazendo artes por trás dos olhares severos de seus pais.Vicenta sentada a frente junto com seus familiares,ora desviava o olhar para o fundo da igreja com esperança de rever o filho do peixeiro.Ao terminar a missa,os moradores foram se afastando,alguns conversavam com o padre,Dona Acácia resolveu procurar o padre,precisava muito conversar com ele.Em seu rosto havia um olhar preocupado.O médico sisudo aguardava filha e esposa em seu carro.

Leonardo esperou o médico entrar no carro e num pulo surgiu na frente da moça.Esta com um sobressalto,deu um gritinho e logo sorriu _Você me assustou!

Vamos ali para perto da cerejeira! Falou Leonardo,puxando-a .Ali rapidamente ele falou-lhe que estaria indo de vez para cidade morar com seu tio e lá abriria uma peixaria onde junto com seu tio iriam trabalhar muito.Vicenta ouvia tudo .Disse-lhe que seus pais a enviariam para um internato e ficaria por lá até completar vinte anos.Os dois jovens começaram a trocar juras de amor mas foram interrompidos por Gustavo,seus pais a procuravam.Despediram-se ,combinando de se verem mais a noite no portãozinho do jardim.

No jantar , Vicenta comia devagar ,pensativa.Dona Acácia com os olhos inchados mal mastigava,e o médico sério observava por trás dos óculos a jovem.Percebera que estava corada e havia um brilho,estava radiante.Seria a presença do rapaz naquela festa?Naquela noite no escritório havia combinado com sua esposa enviá-la o quanto antes para o internato,pois o tempo fazia-se urgente,ele não poderia arriscar tudo ,logo agora que haviam investido tanto,pois ao completar vinte anos ,Vicenta se casaria com o filho de um rico comerciante da cidade e lá iria morar.Seu futuro estava garantido,não seria o filho de um peixeiro que iria impedir seus planos.O que ele não sabia é que Dona Acácia estava sofrendo com tudo aquilo,pois somente ela tinha conhecimento o quanto perigoso era o fato de Vicenta e Leonardo se conhecerem e manterem um relacionamento,pois ela há alguns anos descobrira que não poderia ter filhos.Seu marido como médico a havia examinado ,após constatarem tal fato o casamento entrou num período de crises,nas quais o médico se ausentava de casa as noites indo a cidade deitando em diferentes leitos.Uma dessas mulheres engravidou do médico,dando a luz uma menina.Dona Acácia quando descobriu resolveu ficar com a criança,pois o médico sempre sonhara em ter uma,motivo pelo qual a repudiara ao saber de sua infertilidade.Com o tempo o casal voltou a se acertar até que uma tarde ela descobriu que a filha mais velha dos Pires estava para ganhar um bebê ,após fugir de casa com um caixeiro viajante que havia chegado no vilarejo e ali se instalara.O bebê era um menino .Sendo assim o casal após muito conversarem decidiram chamá-lo de Gustavo.Mas o que o médico nunca soubera é que antes de Vicenta, a mesma mulher com quem se deitara havia tido um menino,que fora adotado pelo peixeiro,seu Manoel ,a quem deu o nome de Leonardo,pois ficara com pena da criança em suas idas a cidade onde conhecera a mulher. Sua esposa era muito amiga da costureira e acabou por contar da adoção da criança na época, fato que mais tarde fora relatado a Dona Acácia pela costureira numa de suas visitas a residência do médico .Sendo assim a mãe de Vicenta percebera que o menino era irmão de sua filha e este segredo somente ela sabia e o guardaria para sempre.Portanto era preocupante o fato de Vicenta e Leonardo se encontrarem na festa.

Eram nove horas da noite e Vicenta lentamente abriu o portãozinho do jardim,encontrando Leonardo a espera,correndo para seus braços ,dando-lhe um longo beijo.Queria permanecer assim por muito tempo,estava apaixonada pelo rapaz._Vamos fugir Vicenta!Quando fores a cidade no trem te pegarei na estação e iremos para outro lugar assim viveremos juntos longe de quem nos quer separar.Espere até que junte dinheiro o suficiente e então viveremos bem meu amor.Planejava o rapaz sobre a luz do luar acariciando a moça.Permaneceram ali por mais duas horas até que a luz do consultório apagou-se e Vicenta entrou correndo para a casa.Leonardo voltou a sua bicicleta e decidido a iniciar seu plano pedalou com força subindo a rua em direção a sua casa .Tinha muito o que organizar pois logo estaria na cidade .

Vicenta deitou-se .Não conseguia dormir,estava muito ansiosa ,pois queria estar com Leonardo.Não poderia aguardar até o mês que vem para vê-lo na estação quando fosse para o internato,recisava logo resolver esta situação.Resolveu descer e caminhar no jardim.Quando tinha algum problema sempre andava por ali,e a noite estava boa ,poderia ficar ali pensando.Ao passar pelo consultório ouviu vozes vindo dele .Parou na porta e lá de dentro ouviu seu pai dizer algo que a fez abrir um pouco a porta.-Você está louca!Como pode?Quem mais sabe disto?Gritava seu pai. Seus olhos cinzentos estavam avermelhados,seus lábios roxos,as mãos contraídas.Ao fundo da sala sua mãe, ereta,pronunciava calmamente palavras que fizeram com que Vicenta se aproximasse mais da entrada._Ele também é seu filho Osvaldo.Aquela mulher lhe deu dois filhos,e você é o responsável por eles,Vicenta e Leonardo possuem o mesmo sangue, o seu!

Ao ouvir a frase tão clara,Vicenta sentiu-se tonta,tropeçando e caindo ao chão.Seu estômago embrulhou-se .Uma dor latejante nas têmporas iniciou-se.Levantando-se trôpega subiu as escadas,fechando-se no quarto escuro.Agachou-se atrás da porta.Seus olhos vertiam lágrimas ,suas unhas cravavam seu rosto.Vicenta estava em choque.As palavras soavam em sua cabeça,a imagem de seus pais ali no escritório e a visão de Leonardo rodovam em sua mente.Tudo girava em sua frente.A escuridão foi tomando conta de si.

Eram oito horas,uma chuvinha caia suave no vilarejo.Aos poucos os moradores iam iniciando suas lidas.Os feirantes já estavam organizados na ruazinha,crianças brincavam com seus carrinhos de madeira,levando latinhas de água ,trazendo sacos de legumes a senhoras idosas.Na casa do médico aos poucos a casa acordava.Dona Acácia abria algumas janelas dos cômodos ,arrumando flores nos vasos,endireitando cortinas._Querida!Acorde!Precisamos arrumar tudo para a tardinha!Falava firme a senhora entrando no quarto de Vicenta,em direção a janela correndo as cortinas._Vamos dorminhoca!O dia não vai te esperar viu princesa!Chegando a cama e puxando as cobertas. Como não recebesse resposta ergueu com mais força a coberta, dando um grito.Vicenta não estava na cama! Havia um bilhete nela e ali escrito uma mensagem na qual a moça afirmava que havia fugido com Leonardo e que se resolvessem impedi-la ela iria contar a todos do vilarejo o segredo de seu pai, sabia que ela e Leonardo eram irmãos ,mesmo assim resolvera viver com ele ,sem contar-lhe o fato de terem o mesmo sangue,proibia-a de avisá-lo, rogava por seu coração._Mamãe você teve o seu segredo ,agora eu terei o meu,deixe-nos viver em paz.

O trem apitara,a estação não estava repleta de muitos passageiros,a chuva caia lentamente.Vicenta sentada aguardava a chegada dele.Levava consigo uma maleta com poucos pertences,na mão o livro de poesias que havia ganho dele em seu aniversário.Olhava o relógio da estação,ainda faltavam alguns minutos.Erguendo a cabeça pode ver ao fundo a rua principal,alguns carros ,carroças e bicicletas circulando num ritmo lento.Voltando-se o avistou de longe.Subia ele os degraus da estação,carregava uma maleta escura e um ramalhete de flores.Sorria e seus olhos brilhavam maravilhosamente.Abraçaram-se e subiram no trem.A máquina apitou e iniciou sua marcha,os jovens olharam por sobre a janela do vagão acenando para a cidade em rumo ao seu futuro.

Violetta

Violetta
Enviado por Violetta em 19/07/2009
Código do texto: T1707180
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