JUNTOS PARA SEMPRE

A VIDA COMO ELA É!



Logo que chega ao Rio de Janeiro, Ana cada vez mais apaixonada dá início a sua mudança para São Paulo. Avisa na Clínica onde trabalhava que ficaria por lá, por no máximo mais três meses. Agradece o carinho de todos e explica que por motivos pessoais, precisava ir morar em São Paulo. Imediatamente anuncia a venda das quatro garagens, que possuía junto ao ex-marido, pois, precisaria de dinheiro vivo, de quando se tornasse sócia de Marcelo na sua nova loja.

Ana sentia-se ansiosa, mas também, feliz e esperançosa. Não via a hora, de saber dos detalhes de seu novo negócio. Era fevereiro de 2007, em conversa (MSN) com Marcelo, ela indaga: Dia dezessete deste mês é carnaval, o terceiro que passaremos juntos, só não sei ainda aonde iremos.

Marcelo diz ter duas notícias para lhe dar e brinca.. Uma boa outra nem tanto, qual vai querer primeiro? A boa é claro! Marcelo ri e conta que havia telefonado para a empresa franqueadora (Empresa de Perfumes e Cosméticos) em Porto Alegre, a qual ele era um franqueado e por lá, avisaram-lhe: A cidade mais próxima de Atibaia onde a empresa estava disponibilizando franquias era Bragança Paulista.

Imagina amor, essa cidade fica apenas vinte sete quilômetros de Atibaia. É o tipo de cidade que gostamos. Uma Estância Climática entre montanhas, cerca de oitocentos metros do nível do mar.  A cidade é muito conhecida pelo seu maravilhoso clima, cachoeiras, rios, lagoas, uma represa fantástica e o que é melhor, duzentos e cinquenta mil pessoas para comprar nossos produtos.

Ana fica encantada, depois vou procurar na NET, mais detalhes de Bragança Paulista, até do nome eu gostei amor. Agora vamos lá, qual a má noticia? Avisaram-me também que por motivos estruturais, só iniciariam os contratos de franquias aos interessados em julho de 2007. De qualquer forma, por já possuir uma franquia com eles, deixaram guardada nossa vaga para (Bragança Paulista), para qual a empresa disponibilizará apenas dois pontos de venda.

Por isso amor, seria interessante que no carnaval, viesse conhecer Bragança Paulista, eu já conheço e vou logo avisando, RRSR, Bonita viu? Ana digita uma gargalhada na tela do computador de Marcelo, se lembra da primeira vez que conversaram na sala de bate papo, quando ao perguntar sua idade, Marcelo respondeu: Quarenta e nove e vou logo avisando... BONITO VIU? Lembrou-se também que eram apenas três anos de convivência e quanta coisa havia aprendido com ele... E quanta coisa sofreu por ele... Quantas saudades... Quantos choros... Quantas alegrias!

Dia dezesseis de fevereiro de 2007. Amor, agora que estou financeiramente melhor, vou encontrá-lo no aeroporto por que por aqui, quem não gosta de avião é você não é? Eu, muito pelo contrário sempre dei preferência, então amanhã de manhã pegarei um vôo para São Paulo.

Era carnaval, a cidade estava cheia, a alegria pousava em toda parte
com Ana e Marcelo correndo atrás daquele (Trem de alegria). Marcelo havia reservado um hotel na cidade, sabia que a cidade era conhecida pelo seu belíssimo carnaval e recebia milhares de pessoas de outras cidades vizinhas, assim, tratou de reservar uma pousada com antecedência. Ana ficara surpresa de como era linda aquela cidade, quanta gente, quanta alegria e sem dúvida ali seria, um lugar excelente para começar com Marcelo outra etapa de sua vida.

Marcelo faz com a namorada uma visita rápida aos pontos turísticos, as cachoeiras, os rios, mas foi na represa que Ana, se mostrou boquiaberta, tanto que era a quantidade das águas. Isso aqui parece um mar e ele confirma, a represa é conhecida como ”O mar de Bragança Paulista”
. No centro da cidade observou o número de lojas, bancos e um shopping muito charmoso e foi logo perguntando pra ele: Será amor, que vai ser nesse shopping que escolherão o local para nossa loja?

Calma amor! Primeiro temos de amadurecer as negociações, por ser bem perto da minha cidade, virei aqui com mais frequencia, em dias não festivos, dias comuns, para sentir a força do comércio local, mas, pelo que me recordo Bragança Paulista, sempre teve fama de ser lugar de bons negócios.

Ana pede que quando voltasse à cidade, desse uma olhada
em alguma casa ou algum apartamento, Marcelo ri, com ansiedade da namorada e diz, tudo bem amor, vejo sim... Mas, agora vamos cair na folia.

Domingo de Carnaval assistem com Ana fascinada o desfile
das Escolas de Samba do Primeiro Grupo. Amor sinceramente... Parece até com os desfiles das Escolas de Samba Carioca. Quanta criatividade, quanto gingado, jamais poderia imaginar que encontraria em São Paulo um carnaval assim. Ana se empolga, dança e grita o nome de uma escola que para ela, fora a mais bonita “Dragão Imperial”.

Segunda-feira de Carnaval, o casal se distancia da agitação da cidade e procuram numa cachoeira, refúgio para suas brincadeiras de amor. Mas mesmo por lá, sentiram alguma dificuldade em ficar à vontade, volta e meia um ou outro casal, passava pelas trilhas que levavam àquela cachoeira linda.

Terça-feira de carnaval, Marcelo pergunta quando seria que ela teria de voltar a trabalhar. Na quinta-feira às quatorze horas, amor porque?  Então, vamos para Atibaia, você ficará comigo no meu novo apartamento, aproveito e mostro para você, como sou bom na cozinha da mesma forma que no sexo. Ana ri... Você não para de ser convencido e brinca... Não ta com essa bola toda não, viu?
                                                                

Em Atibaia, o namorado prepara seu prato “carro chefe.” Linguado
ao molho de maçãs e conta para a namorada que, aquele prato lhe fora ensinado por incrível que lhe pudesse parecer, por um “mendigo”
.

Ana apenas diz, como assim?

Certa vez, estava almoçando numa lanchonete-restaurante próxima a minha loja, quando entrou um senhor magro, de pele negra, já de cabelos brancos. Aproximou-se de mim, pediu a gentileza de pagar-lhe algo para comer e assim o fiz.

Ao perceber que me interessava em saber de como se fazia um determinado prato servido no restaurante, virou-se simplesmente para mim, e disse: Já fui chefe de cozinha de navios mercantes, andei por esse mundo a fora. Sei falar quatro línguas e fiz há muito tempo, um curso de culinária na França. A bebida e os dissabores familiares me trouxeram para essa vida que o senhor agora está conhecendo, mas, já fui uma pessoa bastante respeitada nesse ramo e por vê que o senhor gosta de cozinhar anota aí, por favor.

Tempere quatro postas de linguado somente com sal e vinho branco, descanse por uma hora. Em frigideira antiaderente doure as postas na manteiga e reserve. Frite também na manteiga alguns camarões médios descascados, reserve junto às postas do peixe.
.
Numa panela coloque a manteiga e doure meia cebola ralada, junte a ela, uma maçã descascada e também ralada. Dissolva em ½ copo de vinho branco, uma colher das de chá rasa de farinha de trigo “frisando o rasa” e uma pitada de açúcar. Adicione à panela, mexa homogeneizando bem a mistura, até que fique suavemente consistente, coloque os camarões, misturando-os bem e uma pitada de Pimenta do Reino. Arrume as postas, coloque sobre elas o molho bem aquecido depois dizia o mendigo, é só servir com arroz branco e vinho, que sua noite não tem como não ser boa. E foi pensando nisso que tratei de servir-lhe o meu prato preferido.

Ana levanta-se e bate palmas para o namorado. Que história fantástica é essa que está me contando amor, agora fiquei até com água na boca, olha... Vou tomar um banho, vai fazendo aí seu linguado que eu já estou doidinha para comê-lo.

No jantar se deliciam com o prato com Ana dizendo: Bem dita à hora que aquele mendigo apareceu em sua frente. Marcelo ainda brinca, vai vê que não era só um mendigo e Ana complementa, e não era mesmo!

Quinta feira logo ao amanhecer Marcelo conduz a namorada até o aeroporto. Essa hora era sempre difícil para os dois. Ana agradece por ele existir e diz que, às vezes, tinha até medo de tanta felicidade!

Julho de 2007 é chegada à data em que Marcelo se certificaria dos detalhes da compra da nova loja que em sociedade com Ana, queria implantar em Bragança Paulista.

No (MSN) como era de costume, conversam. Marcelo diz que recebeu uma carta de Porto Alegre, marcando com ele, uma reunião
para acerto de detalhes e que iria sondar e negociar, depois notificaria que a implantação, até mesmo por motivos administrativos,
aconteceria através de uma sociedade com pessoa de sua confiança e
que num segundo encontro a levaria para apresentá-los a sua cara metade... RSRSR, ou melhor, a sua sócia.

Ana ri, poxa queria ir com você, me deixa ir amor, fico escondidinha lá no hotel. Marcelo aconselha que não, pois seria um encontro rápido, para darem ciência do custo do empreendimento e acertos burocráticos se tudo estivesse em de acordo aí sim, levaria Ana que inclusive, teria que se comprometer a cursar durante um mês, o curso ministrado pela empresa de modo aprender as normas e condutas administrativas, implantadas por ela.

Tudo bem amor ficarei aqui no Rio torcendo por nós dois. Sabe lindo estou muito tranquila, tenho certeza que no fim, tudo vai dar certo. E Marcelo brinca de novo... O bom de tudo linda é que se não der certo, não será o nosso fim... E riem!

Marcelo continua, vou pra Porto Alegre na segunda-feira dia dezesseis
à noite, de modo estar por lá, na terça feira pela manhã bem cedo, dia que firmaremos uma nova etapa de vida pra nós dois.

Dia dezessete de julho de 2007, por volta das dezesseis horas, Marcelo telefona para sua namorada e da para ela a notícia. Amor! Acabei de sair da reunião e pode fazer suas malas, por que aqui já deixei tudo acertado, só falta mesmo virmos na semana que vem para assinarmos o contrato de nossa nova loja.

Ana pula de alegria e usa para comemorar, um termo bastante carioca. “ Caramba, esse é o meu cara!” Marcelo ri e diz estar
igualmente contente, vou correr para o Aeroporto para pegar o vôo das dezessete horas e quinze minutos. Ok amor, mas, logo que chegue a São Paulo me liga, só mais uma coisinha... Te amo, viu? E Marcelo apenas responde: Também te amo... Linda!

Era uma tarde chuvosa em São Paulo, às dezoito horas e cinquenta minutos pousa em Congonhas, o avião vindo de Porto Alegre trazendo Marcelo e mais cento e oitenta e seis pessoas. O Piloto tem dificuldades na frenagem da aeronave, segue atravessando toda pista em velocidade, falha também a tentativa de arremeter o vôo, como última manobra o piloto tenta... Mas, não há mais tempo para nada. O avião choca-se a um prédio na cabeceira da pista, explode... Não há sobreviventes!

Por volta das dezenove horas, os Telejornais anunciam. Acaba de ocorrer em Congonhas - São Paulo, um acidente com o avião que vinha de Porto Alegre... Ana da um pulo da cama, seu coração dispara, presta atenção no locutor que continua... O avião explode ao bater num prédio, não há sinais de sobreviventes. Esse é maior acidente da história da aviação brasileira.

Ana se desespera, nem conseguia achar o nome do namorado em seu celular, por fim, quando consegue, o telefone da como estivesse fora de área ou desligado. Ana grita se lembrou de quando acontecera o mesmo por ocasião da morte de sua filha, se veste rapidamente e vai para o aeroporto Galeão no Rio de Janeiro de modo obter da companhia alguma informação.

As informações eram escassas, Ana tenta por mais de mil vezes falar com Marcelo sem algum êxito, no aeroporto ela chora... Não é possível meu Deus, por favor, agora não! Não tire de mim, a pessoa que mais amo na vida. Outras pessoas querendo notícias se aglomeram no balcão da empresa, Ana não podia ficar ali parada e compra uma passagem para São Paulo com chegada em Guarulhos.

Ás vinte e uma horas chega a Guarulhos Ana, no Aeroporto todos horrorizados com o acidente em Congonhas. Ana não sabia ao certo se Marcelo desceria em Congonhas ou em Guarulhos, mas, se veio para Guarulhos também já devia ter me ligado e o desespero mais uma vez toma conta de seus pensamentos.

De táxi, Ana vai para Congonhas cerca de trinta e cinco quilômetros
de distância de Guarulhos e faltando vinte minutos para as vinte e duas horas, ela desembarca em Congonhas.

Por lá, ninguém se entendia. Aeroporto fechado para pousos e decolagens, entretanto, a quantidade de gente no saguão era impressionante. Ana não consegue orientar-se, liga para a loja de Marcelo e ninguém atente, em seguida, liga para o seu apartamento, mais uma vez tudo em vão.

Ana encosta numa das paredes do saguão do Aeroporto desolada, abatida, sem mais o que fazer liga para o seu filho em Sevilha.
O telefone de Gustavo demora a atender, quando atende Ana vai logo dizendo meu filho... Que foi mãe, que aconteceu porque ta me ligando há essa hora (03h10min.), aconteceu algo com o pai?

Não meu filho foi o Marcelo, que foi mãe? Ah! Meu filho! Marcelo
Morreu num acidente aéreo no Aeroporto de São Paulo, eu sei que ele estava nesse vôo filho e agora? Que eu vou fazer da minha vida?

Calma mãe, como sabe que ele estava no avião? Ele me ligou de
Porto Alegre dizendo que tinha de se apressar para pegar esse avião Gustavo e o telefone dele não atende desde as dezenove horas, calma mãe, onde a senhora está? Estou no aeroporto de São Paulo, mas, isso aqui ta uma loucura ninguém informa nada pra ninguém.

Mãe tente se acalmar, ficar do jeito que a senhora está em nada vai adiantar. Mãe me liga me dando qualquer notícia. Ana tenta comer algo, mas, não consegue e fica perambulando no Aeroporto para cima e pra baixo, em busca de informações.

Na madrugada da quarta-feira, a empresa aérea divulga a lista dos
passageiros. Funcionários da empresa fixam em vários pontos do Aeroporto a lista com os nomes. Uma lista fora fixada bem próximo de onde Ana se encontrava. Ela corre vai direto à letra (M), não encontra nenhum Marcelo, seu coração dispara (Meu Deus), Ana percorre a lista de cima pra baixo a procura de algum nome conhecido,  quando se depara com: Jorge Henrique Castanheira. No alto falante o nome de cada passageiro era anunciado e a cada nome ouviam-se gritos de desespero, até que o alto-falante anuncia Jorge Henrique... Naquele momento Ana não chorou. Tranquilamente sai do Aeroporto, retorna para Guarulhos e volta para o Rio de Janeiro.

No Rio Ana, telefona de volta ao filho já meio que anestesiada para dizer-lhe que tudo havia acabado. Guto, era mesmo o Marcelo que estava naquele vôo e ali meu filho, acabou toda e qualquer vontade em permanecer-me viva. Que isso mãe? Mãe faz o seguinte, sei que não é hora para decidir nada, mas analise e venha passar uns dias aqui comigo em Sevilha. Ana chora baixinho... E despede-se do filho.




O REENCONTRO


 Do mesmo modo de quando perdera sua filha, Ana não conseguira dormir, lembrava de Marcelo o tempo todo. Parecia que um filme se passava a sua frente, com ela reconstruindo em sua mente tudo de novo.

Lembrou do (D U V I D O), que Marcelo havia digitado na tela do seu computador e que dera início a tudo aquilo, lembrou das brigas descabidas, das alegrias e das promessas e foi nelas que Ana, se deparou com a maior das coincidências de sua vida.
 
Em Fernando de Noronha quando lá estavam Marcelo, ela e seu filho, depois de nadarem com os golfinhos, deitam-se nas areias, quando Marcelo diz que havia chegado o momento de fazer para ela “Uma proposta indecente.” Após convidá-la para sócia, comenta também que nele, volta e meia aparecia à necessidade de andar pelos caminhos de Santiago e que gostaria de um dia, entrar com ela naquele santuário.
 
Dia seguinte Ana, não perde tempo, telefona para o filho, comenta a coincidência de o filho morar bem próximo da rota que ela e Marcelo prometeram um dia juntos fazer. E sem por menores diz que ia aceitar o convite que lhe fizera, de passar algum tempo em Sevilha. Teria apenas, que organizar algumas coisas no Rio de Janeiro e no tempo máximo de um mês iria para Espanha fazer, se não todo ao menos parte dessa caminhada.
 
Gustavo diz que seria ótimo tê-la com ele, mas lembra que, para fazer esse caminho ou mesmo que parte dele, a pessoa tem de estar muito bem preparada. Ana diz que isso não seria problema.
 
Ana começa a substituir seu desânimo, por caminhadas nos calçadões das praias cariocas e a cada dia que se passava, ia mais longe. Logo passou caminhar nas areias das praias exercitando cada vez mais a musculatura de suas pernas, ganhando mais resistência em todo seu corpo. De outro modo, Ana ocupava-se o máximo que podia para desvencilhar-se da falta que aquela separação lhe empunha. Começa juntar pela internet, tudo que podia sobre “O Caminho de Santiago de Compostela.”

 
Nos sites de pesquisa ficou sabendo que logo após a crucificação de Cristo, os apóstolos seguiram para vários locais da Europa. Tiago chega à Espanha para pregar o evangelho. Anos depois volta à Palestina, onde fora decapitado, sendo o primeiro apóstolo martirizado por conta de sua fé. Seus discípulos embarcaram seu corpo e navegaram até a Galícia, sepultando-o meio a mata.

Certa vez, um Eremita passando próximo ao local, vê cair do céu uma chuva de estrelas, seguindo as estrelas o Eremita chega ao túmulo de Tiago e ali, constrói um minúsculo templo. Mais tarde São Tiago se torna
o Padroeiro da Espanha e no local ergue-se a Basílica.
 
Ao longo do Caminho encontram-se cerca de mil e oitocentos prédios tanto religiosos como seculares, de grande valor histórico e todo percurso tem aproximadamente oitocentos e cinquenta quilômetros.

Ana não pensava percorrê-los todos. Na verdade o que ela queria era
caminhar e de uma forma levar consigo, o caminhar da vontade do seu grande amor. Para tanto Ana traçou uma rota, saindo de Sevilha de avião até Lavacolla, onze quilômetros de Santiago e de lá, retornar até Ribadeo, cerca de duzentos quilômetros de Santiago. Mesmo depois de estar tão perto de Santiago Ana, precisava ao menos conhecer os lugarejos, as paisagens do lugar, precisava se sentir parte daquela natureza mágica e assim quem sabe reencontrasse o seu amado.
 
Final de agosto de 2007 chega a Sevilha a mãe de Gustavo, se abraçam, se choram e se lamentam pela perda de Marcelo.
Ana fica em Sevilha por dez dias complementando os detalhes de sua
Viagem e parte para Lavacolla para de lá, ir para Ribadeo.
 
Dia 17 de setembro, exatamente dois meses após a morte de Marcelo
Ana começa sua peregrinação. Mas, não estava sozinha!

Em Ribadeo Ana, aluga uma bicicleta e estranha à insistência do Senhor da loja, para que levasse uma de (Dois lugares) dizia-lhe o Senhor, para que ela usasse o outro assento como bagageiro isso, tornaria mais cômodo à viagem e assim ela o fez. Afinal, Ana teria de percorrer cerca de vinte e oito quilômetros até Lourenzá onde pernoitaria. Ana vai escrevendo tudo que ia acontecendo num diário. Anotou que demorou cerca de quatro horas pedalando até Lourenzá, aonde chegou exausta e onde fora muito bem acolhida.
 
 Na cidade Ana, mesmo com todo cansaço não conseguiu dormir lembrando-se cada vez mais de Marcelo e de certa forma, se sentiu feliz por estar ali, tentando completar aquilo que haviam prometido um ao outro.
 
Dia seguinte logo cedo, depois de um reforçado café da manhã,
segue para Abadin, cerca de vinte cinco quilômetros, embora, tendo menos quilômetros a percorrer do que aos do dia anterior, ela
só chega a Abadin, por volta das dezesseis horas, isto porque, além do percurso ser bastante íngreme, vários pequenos lugarejos foi visitados e fotografados.

Em Abadin Ana, tem um pesadelo, revivendo em sonhos, parte do acidente que levará de si, o seu grande amor. Acorda sobre-saltada para no mesmo tempo sentir uma (Brisa suave)
em seu rosto que lhe parecia amenizar a sudorese de seu corpo.
 
Levanta-se da cama, deixa o abrigo e vai conversar com algumas pessoas da cidade. Ficou impressionada com a variedade das raças e lugares e por ali, permanece mais um dia. Ana não tinha pressa de acabar aquela viagem.
 
No terceiro dia de estrada, descansada, consegue chegar já anoitecendo em Baamonde, cerca de 40 quilômetros de Abadin. Certa irritação ela deixava transparecer ao chegar nessa cidade, pois, estava próximo da metade do caminho e ainda não havia sentido em nenhum momento a presença de Marcelo.

Em Baamonde se manteve calada, escondida em si. Ana chama por Marcelo, queria que ele aparecesse de alguma forma para ela. Por favor, meu amor, faça esse caminho comigo.
 
No quinto dia, Ana segue para Sobrado com mais quarenta quilômetros a percorrer. Essa estrada, bem mais plana que a anterior e existiam muitas flores, uma em especial chamou sua atenção, no meio do nada, uma (Rosa) de cor rosa solitária meio às Acácias.

Ana não se sentia bem, mesmo assim, telefona ao filho de um telefone público e para ele, diz que a viagem estava ótima, que não se preocupasse, pois, estava indo de vagar sem pressa, diz também que nem sempre tinha oportunidade de ligar pra ele, mas, que estivesse certo que ela estava se sentindo mais aliviada com a viagem, a cada dia que se aproximava de Santiago.
 
Na verdade Ana esperava ter algum sinal, sentir alguma coisa
que pudesse lhe dar a certeza que Marcelo estivesse presente.
Ana fica por duas noites em Sobrado, conhece o artesanato local, conversa com as pessoas, visita alguns prédios centenários e sente que as angústias, as tristezas vão se afastando dela.

No seu sétimo dia de viagem ela decide fazer o restante do caminho
à pé. Segue para Arzúa, naquele dia Ana, teria de andar por vinte e dois quilômetros e vai observando mais detalhadamente as coisas.

Ao caminhar beirando um rio encachoeirado, uma lágrima corre,
segura em suas mãos (A semente) que dera para Marcelo andando com ele, numa estrada no seu primeiro encontro e depois de alguns meses ele a devolve sob a forma de colar. Ana coloca o colar e segue em frente...

Daquele dia em diante coisas estranhas aconteceram. Ana não se sentia sozinha e como ali estivesse, ia conversando com Marcelo. Por vezes, em seu pensamento vinham palavras como respostas fossem àquilo que estava pensando.
 
E pensou em sua vida, sentou próximo ao córrego e ouviu a voz serena de sua filha. Oi mãe, desculpa por não ter avisado, (Estamos bem!) Ana não chora, não se assusta apenas, responde - Que saudade minha filha, te amo tanto!
Ana parecia em êxtase, levanta-se e continua a caminhar, agora
Mais ainda não se sentia só, entretanto, Marcelo ainda não esboçara
nenhum tipo de contato. Ao caminhar e bem próximo de Arzúa,
avista uma caverna enorme, escura, olha para trás, não vê ninguém
mas, algo lhe puxa para dentro da caverna. Logo na entrada meio ao terreno úmido uma (Flor lilás) em cima da pedra, alguém teria esquecido por ali,  Ana carrega a flor consigo, por uns minutos a coloca em seus (Cabelos).

 
Arzúa era uma cidade linda de prédios seculares, da culinária local Ana, já havia ouvido falar que era maravilhosa e fome é o que não lhe faltava. Ana janta em Arzúa, e saboreia um peixe típico dos rios que cortavam à cidade. O peixe lhe é servido por um senhor franzino de pele negra e de vestimentas (Muito humildes), mas, muito sorridente e se expressava muito bem. Após o jantar, passeia meio ao comércio, se delicia com alguns doces e dorme um sono tranquilo.

Pela manhã, antes de deixar a cidade, percebe uma florista e a ela, pede que a fotografe junto aquelas flores tão lindas. A senhora bate por engano duas fotos. Ao verificar em sua máquina as fotos, observa a duplicação, olha atentamente para perceber que na segunda foto, havia um (Reflexo luminoso) por de trás das flores. Ana achou aquilo estranho, mas, não apagou a foto e seguiu para Santa Irene, aproximadamente a quinze quilômetros de onde estava.
 
Ana chega a Santa Irene ansiosa, pois aquela seria a sua última parada antes de chegar a Santiago de Compostela. De repente em Santa Irene, sente certo medo, talvez por terminar aquela peregrinação, sem a certeza que Marcelo, estivesse ao menos por uma vez ao seu lado.

  Por puro receio Ana, prefere adiar sua ida para Santiago e é lá em Santa Irene, permanece por alguns dias pensando mais uma vez, em tudo que lhe ocorrera. Em sua mente vieram pensamentos, que jamais imaginaria  tê-los. Procurar meu ex-marido? Porque estou pensando isso? Deve ser a viagem, o misticismo, mas como um martelo, aquilo bateu novamente em sua mente. Deves (Procurar seu ex-marido) e Ana se desvencilha rapidamente dos seus pensamentos.

 
Trinta de setembro de 2007, chega em Santiago de Compustela Ana, mas, ela não chega sozinha! Antes de  entrar na Basílica avista num arbusto um passarinho. Ana segue vagarosamente em direção à igreja, segura numa das mãos (A semente), noutra uma (Foto) do seu namorado, pretendia deixá-la, o máximo que pudesse mais próximo da imagem de São Tiago. Novamente pressente algo, lhe veio o arrepio, se emociona se abraça com a (Foto) e reza o Pai Nosso. Seu coração se acalma, sua alma se ilumina, seu corpo flutua na imensidão de tanta energia.
 

 Ao deixar a igreja, senta-se numa pequena mesa, para avaliar as fotos tiradas de São Tiago. Impressionantemente o passarinho, ainda encontrava-se no mesmo galho. De repente o bichinho pousa em sua mesa, ela se assusta, olha para o pássaro, lembra que havia comentado e somente com Marcelo,  um acontecimento semelhante e olha mais atentamente para o pássaro. Meu Deus parece o mesmo pássaro, e ficam paralisados por uns três segundos quando bichinho pia, faz cocô em sua mesa, bate as asas e vai se embora.
 
Ana chora, um choro de alegria, aquele seria o sinal que precisava. Finalmente percebeu que o seu amor, esteve de alguma maneira presente.

Retorna à igreja, recosta-se próximo ao altar e em sua mente aparece a sequencia dos fatos: A bicicleta de dois lugares, a brisa suave, a semente, o estamos bem que ouvira de sua filha; a flor lilás nos cabelos; aquele reflexo na foto, o mendigo e por fim, o passarinho fazendo cocô de novo em sua mesa. Certificou-se então, que Marcelo esteve com ela o tempo todo, como ela queria que estivesse e do jeito que haviam prometido um ao outro.




                                
                                               Fim...

 

Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 20/08/2009
Reeditado em 22/08/2011
Código do texto: T1764392
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