DESTINOS ENTRELAÇADOS

Sentindo no corpo um leve calor, Pietra vira-se na cama.

Os lençois de cetim escorregam por seu corpo deixando sua nudez a mostra ...

Sente os primeiros raios do sol na sua pele alva.

Abre seus grandes olhos azuis e fita a janela aberta, cortinas esvoaçantes e ao fundo a maravilhosa tela pintada pela natureza, lindo jardim dividindo espaço com árvores frutiferas, onde maçãs já estão prontas a amadurecerem...

Espreguiça-se e lembra-se da noite passada que terminou em alta madrugada...

Pietra viajou para uma cidade que fica no interior da França, Rouen, instalou-se na casa de um amigo que havia conhecido há alguns anos pela alta tecnologia do mundo virtual...

No início relutou, não gostava da idéia de estar na casa de um amigo, que muitas vezes fora mais que apenas um amigo... os dois na realidade tinham suas vidas, mas com os problemas dos desgates que os anos trazem aos relacionamentos, ela mantinha um relacionamento de aparências com seu marido e ele, com sua esposa...

De acordo com ele, a esposa e filhos estariam fora por dois meses resolvendo problemas familiares; ele não devia ausentar-se por atuar em empresa tecnologica como engenheiro...

Partindo de seu pais com um amigo, separaram-se em Milão, ela com destino a Paris, Rouen Boos e ele para Israel...

Pietra, desembarcou no aeroporto numa tarde linda de primavera.

Seu corpo todo tremia, apesar do lindo e tranquilo sorriso que esboçava e da aparente tranquilidade. Chegou quase a arrepender-se de não ter ouvido Levy:

- Fique num hotel, você não o conhece... Não devias instalar-se lá, encontre-se com ele, mas tenha cuidado.

Tarde demais... ouviu uma voz que a chamou pelo apelido carinhoso, que um dia ela revelou-lhe...

- Pepi!

Virou a cabeça e deparou-se com Fernando, falava um português com sotaque de Portugal, mesmo sua língua adotada sendo francesa, desde a adolescência, por ter se mudado de sua terra natal, Angola, com seus pais.

Fernando a observava e Pietra sentiu-se nua... e com medo, pois talvez tivesse sido insensata em aceitar tal convite.

- Vamos miúda!

Nossa! Não tem como confundir-te!

- E que susto é este em teu olhar? Acalma-te!

- Sou teu amigo... Esquecestes?!

Apesar do receio, Pietra pensou: - o que está feito, está feito!

Sorriu para Fernando, no intimo tinha vontade de abraçá-lo, tamanho amor que havia sentido e ainda guardava no coração por ele... Mulher... praguejou em pensamento por ser mulher e por ter deixado envolver-se.

Quanto sonhou com aquilo, quanto desejou este encontro... e agora, aí estava.

Fernando abriu a porta do carro para Pietra, acomodou sua bagagem e sentou-se no banco do motorista.

Por um momento, Pietra esqueceu as prevenções e brincou, sorriu como era seu hábito...

- Fizestes boa viagem, Pietra?

- Sim!

- Não gostei de teres vindo com teu amigo...

- Ara, Fernando! Ciúmes de quê?

- Não estou com ciúmes.

- Está bem, e nem eu sou loira...

No trajeto do aeroporto até a casa de Fernando, conversaram vários assuntos, Pietra contou sobre a cirúrgia de sua filha, que havia corrido tudo bem e apesar do desgaste emocional que havia a abatido nestes meses, tinha recuperado a sua serenidade e a sua rotina...

Contou-lhe que havia desistido da vaga que tinha conseguido por concurso público, pois a sua nomeação havia saído exatamente quando soube do problema da filha e para assumir o cargo, deveria instalar-se em outra cidade, bem longe de sua atual casa.

Pietra havia se afastado de Fernando... devido a desentendimento dos dois e quando se reaproximaram na época que surgiu a oportunidade para sua viagem para Rouen, não quis falar-lhe de seus problemas e sua vida, embora sentia nele seu porto seguro.

Contou-lhe que trabalhava como guia turística há cerca de um ano e meio, devido a sua formação em História e Turismo e por ter decidido deixar as salas de aula, motivo que tinha proporcionado sua viagem de merecidas férias...

Chegando à casa de Fernando, encantou-se com jardim, tão florido e bem cuidado, as árvores com frutos, a grama... tudo a encantava, tinha vontade de correr tirar seus sapatos de salto alto e balançar naquele balanço pendurado no meio do quintal.

Entrou, um pouco tímida, mas logo sentiu-se a vontade, seu amigo era cordial e não tinha agido como lobo mau faminto em nenhum momento.

Tomou um banho, vestiu um jeans, uma camiseta e é claro, uma sapatilha...

Fernando a aguardava na sala de estar e brincou com ela:

- Para que o sapato?

- Ah! Já sei: queres ir lá fora observar as estrêlas, sempre dissestes que amas a lua e as estrelas... mas acompanho-te só após comeres algo.

Foram para a sala de jantar e degustaram um lanche simples mas apetitoso e um vinho delícioso...

Após o lanche encaminharam-se para fora da residência e da varanda olhavam o céu, suas muitas estrelas e a Lua... tão cheia e linda!

Fernando a olhava... seus olhos brilhantes, sua face rosada devido ao vinho, duas taças, mas Pietra não era habituada a beber...

Pietra sorria e num momento sem pensar, rodopioou feito criança e deixou que sua alegria transbordasse...

Fernando que estava próximo sentiu o roçar do seu corpo em seu braço e os dois entreolharam-se...

Pietra sentiu seu rosto corar e seu sangue ferver, como vulcão a beira de uma erupção... Fernando mergulhou nos seus olhos e seu rosto, como todo o seu corpo deixava transparecer o desejo e o carinho que sentia por Pietra e que sempre tinha tentado esconder...

Inevitável...

Seus braços a enlaçaram pela cintura e a abraçou, mergulhando seu rosto em seus cabelos.

Pietra, com o coração descompassado, mergulhou neste abraço e ficarão assim por um tempo longo, até que a mão de Fernando puxou-lhe o rosto na direção do seu e a beijou seus lábios...

Suas bocas uniram-se, junção de tudo o que há de mais perfeito no Universo, num beijo esperado pela eternidade, talvez por várias vidas...

Os dois, esquecidos de suas vidas, mergulharam num mundo de sonhos...

Fernando olhou Pietra, suas mãos tremiam, seu coração batia descompassado.

- Pietra!

Não quero que penses que estou a brincar contigo... como me dissesses uma vez.

Pietra, olhou-o entre confusa e com um desejo que a consumia e pediu para que ele a deixasse ir dormir...

Fernando entendeu. A viagem, o encontro...

Os dois entraram na casa.

Fernando havia preparado o quarto de hóspedes para Pietra e dirigiu-se para seu quarto.

Despediram-se, como sempre, Pietra agindo como se fosse uma menina, disse:

-Até amanhã, então...

Fernando a olhou sorriu e ela fechou a porta.

No quarto, preparado com cuidado, Pietra não conseguia dormir... tomou outro banho, enrolou-se numa toalha e se viu pensando em Fernando...

Por quê? Por que não ouvir seus instintos?

Sentia que Fernando também pensava nela...

Colocou um pijama e tentou dormir...

O sono não vinha, apesar do cansaço.

Abriu a janela, respirou o ar da noite... mas seu corpo estava aceso, sentiu sede.

Encaminhou-se para a porta e quando a abriu, Fernando no mesmo momento estava saindo do quarto e disse:

- Não consigo dormir, preciso tomar água.

- Eu também, Fernando, disse Pietra...

- Nossa! Desculpe-me a falta de hospitalidade, eu pensei em deixar uma jarra com água no seu quarto e esqueci-me.

- Tudo bem, Fernando...

Os dois encaminharam-se para a cozinha e... ao retornarem para os quartos, quando, pararam no corredor... viraram-se e abraçaram-se.

A vida é para ser vivida, qual será o próximo ato da peça “vida”...

Mergulharam num beijo, primeiro terno, depois urgente...

Fernando a levou para o quarto em que ela estava instalada, a pedido dela... Não se sentiria bem usando o quarto em que ele dormia com a esposa...

Colocou-a na cama, tirou-lhe o pijama lentamente: short doll na cor rosa, cor preferida de Pietra e os olhos de Fernando brilhavam cada vez mais de desejo ao visualisar o corpo dela sendo descoberto...

Pietra acariciou seu rosto, seus cabelos, beijou-lhe o rosto, os lábios, suavemente...

Ele sentiu todo o carinho daquele momento e deixou-se levar... Puxou-a mais para si, beijou-lhe a face, os lábios, o pescoço e foi descendo em direção ao colo.

Acariciou seus seios e olhava atentamente para o corpo de Pietra, como criança que recebe o presente tão esperado....

Não aguentando mais de desejo, Pietra soltou um gemido e enlaçou-lhe pelo pescoço.

Beijaram-se várias vêzes e a cada beijo a paixão explodia mais feroz, mais urgente em seus corpos.

Passeio de línguas, batalha de pernas e braços... mergulho de corpos... suados, envolvidos, apaixonados...

Mergulharam um no outro como um rio que deságua suas águas no mar tão desejado, após longa viagem...

A Lua por testemunha, abençoou tal união.

Após muito se amarem, quando as estrelas começavam a ir-se do céu, exaustos e felizes embarcaram num sono reparador, abraçados, extasiados...saciados.

Sentindo o aroma das flores e aquele calor aconchegante do sol, Pietra sorri...

Fernando entra pela porta entreaberta com uma bandeja repleta de frutas, uma rosa e um suco e a saúda:

- Bom dia! Flor do dia!

- Bom dia! Amor meu...

Fernando deposita o bandeja na mesa de cabeceira, abraça-a e recomeçam a viagem ao paraíso de Vênus...

Kira Penha Gonçales
Enviado por Kira Penha Gonçales em 14/09/2009
Reeditado em 14/09/2009
Código do texto: T1810703
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.