MAISHA cap II

MAISHA

Enquanto esperava um grande amor, Maisha vivia o seu cotidiano. Acordava com a alvorada e diariamente percorria uma grande distância para cultivar a terra, pisando um caminho que seus antepassados também trilharam, sentindo o chão, cantando em coro com os pássaros e com os raios de sol, colorindo a manhã e levando alegria para a bela paisagem, alegria para a vida que se renovava a cada nascer do dia. Não se pode olvidar que Maisha vivia numa aldeia, era totalmente desprovida dos bens de consumo da atualidade, dos quais sequer conhecia a existência. Estava distante da nossa era tecnológica. Era de uma outra época da nossa história e o seu reino era o da simplicidade e do amor. Maisha, uma moça simpática e sempre bem humorada, molhava e regava a terra muitas vezes com o suor do próprio rosto. À noite, divertia a sua comunidade, contando belas histórias.

Para falar da linda moça Maisha, temos que primeiramente discorrer sobre o lugar onde a mesma morava, para melhor compreender e acompanhar o seu cotidiano de "trabalho e de "espera". Como já se sabe, ela acreditava na vinda de um grande amor para dar mais sentido a sua vida. Pensava também que não seria nenhum rapaz da sua terra. A aldeia de Maisha ficava no oriente, nos confins deste nosso planeta, pela distância que se encontrava de outros lugares, de outras aldeias, mas ao mesmo tempo era muito bem localizada, em ponto estratégico, sendo utilizada como passagem obrigatória de andarilhos, caravanas, famílias em migrações, cavalarias e muitos outros viajantes. Quase todos eram obrigados a passar por ali, a caminho de seus destinos. Sem que seus habitantes percebessem, a aldeia ficou sendo um lugar importantíssimo para as andanças de um incontável plantel de estrangeiros.

Se a aldeia era bem localizada, a casa da menina Maisha era a mais privilegiada. De todas as habitações da localidade, a dela era a melhor localizada, pois se uma ficava próxima ao rio, outra na montanha ou junto às dunas, a desta linda moça era a única que se situava mais próxima do importante caminho, ou seja, mais perto da estrada que trazia e que levava os sonhos de todos os que passavam por ali. Melhor expressando, a casa de Maisha ficava bem na beira da estrada onde passava o mundo do seu tempo. Passavam mercadores, passava o comércio, passavam as migrações, passavam os andarilhos, passavam as cavalarias e passavam também as guerras.

Na frente da sua casa havia uma arvore frondosa, a fornecer uma maravilhosa sombra. Nas suas proximidades, havia um poço, onde tanto os habitantes da aldeia se serviam com os seus cântaros, como também os que por lá passavam. Era a mais próxima e mais atraente para os traseuntes, que seguidamente a usavam como ponto de parada, muitas vezes como lugar de pernoite, porque sua familia sempre se revelou muito acolhedora. Todos os seus membros recebiam e tratavam a todos de forma igual, sem distinção, fossem ricos ou pobres. A linda moça nasceu e cresceu nesse contexto cultural, morando à beira de uma estrada e dessa forma convivendo com o mundo lá fora. Assistiu a conversas importantes, tanto negociações comerciais como decisões estratégicas sobre os rumos de batalhas, por parte de grandes chefes que por lá passavam. Assistiu guerreiros tanto indo para a guerra, como voltando dela. Viu a paixão em muitos rostos. Assistiu a triunfos e a frustrações, viu sorrisos, viu tristezas, viu esperanças...viu a escola da vida passar na porta de sua casa. A menina era o "elo" de amor entre a sua comunidade e o mundo. A menina integrava sua comunidade ao mundo e ao seu mundo particular.

Pode parecer que Maisha, por morar assim nos confins, fosse moça atrasada, considerando o conhecimento existente na sua época. Pode parecer que vivesse marginalizada do mundo e seria um engano pensar-se assim. A nossa personagem tinha acesso a tudo e a todos, no seu cotidiano, através do contato com o povo que circulava pelo chão de sua terra. Isso colaborou para que se tornasse bem informada a tal ponto que, sem o querer tornou-se uma importante "porta voz" de sua aldeia. A vida social da comunidade era baseada nas histórias que Maisha ouvia dos passageiros. E por isso mesmo não pensava em um amor dali do seu lugar mas em alguém que a fizesse sentir o que tanto via nos rostos apaixonados que passavam e que tantas vezes em versos cantavam odes as suas amadas. Ela tanto gostava de escutar que passou a sonhar.

Menina moça ainda, Maisha se tornou assim uma grande "contadora de histórias". Como a sua comunidade não tinha tanto acesso como ela aos passageiros e as suas histórias, Maisha então passou a contar o que via e ouvia. E devido a sua inteligência e criatividade, passou a temperar as histórias verídicas com a sua inspiração, tornando-se uma pessoa importante na sua comunidade. Maisha desde criança foi uma contadora de historias e cada vez mais solicitada. E assim, entre o "campo" e as suas "histórias", Maisha espera. Espera o seu grande amor. Acredita nele e nele espera. CRISTINRio,30/09/2009

Cristin
Enviado por Cristin em 30/09/2009
Reeditado em 20/10/2009
Código do texto: T1839796
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