Paixão de Busão

Consegui um emprego! Seis meses de uma intensa procura... Não é bem o que eu queria, mas estava bom pra quem ficou meio ano sem perspectiva de vida. Era no centro de São Paulo, trabalho de Oficce Boy em um escritório de advocacia, a velha rotina voltaria!

Morador do jardim guarani, meu itinerário já estava traçado; teria que acordar às seis horas, sair às seis e meia de casa, passaria pela rua do inverno e sairia em frente do final Jd.Guarani – Pça do Correio.

Dia quatro de janeiro de um ano qualquer, acordei cinco e quarenta, a ansiedade quase não me deixou dormir, levantei pensando que essa seria a melhor segunda feira de minha vida. Liguei o som baixo pra não acordar ninguém e ao fundo tocava a musica “Black Woman” de um cantor angolano. Fui me Banhei-me, tomei café e segui rumo ao meu destino. Adentrei o ônibus, vazio. No ponto final é assim mesmo..., ele deu a partida e lá fomos nós, rua do outono, Teresinha, Veiga, Parapuã, nossa!!!

No 3º Ponto da Parapuã o tempo parou pra mim, neste momento, com busão já lotado, uma linda mulher de um metro e setenta, cor negra um pouco clara, cabelo crespo escorrido, lindos olhos reluzentes, com as maçãs do rosto avermelhadas, invade aquele espaço, num estilo executiva urbana. Meu Deus, num ônibus com 30 pessoas sentadas e outras 20 em pé, eu somente a enxergava. A mesma desfilava sua beleza ancestral e eu com um fone, bombeta reta, camisa dos Black Panters, PASMEI!

Quando me dei conta estávamos na Avenida Itaberaba e uma voz doce, disse-me “- Com Licença moço, posso sentar?” Uma súbita gagueira me impediu de responder; “- Claro!” Lá estava ela do meu lado. Seu perfume era intenso, cabelos ainda molhados, cheirosos, e dela eu não tirava os olhos, quando percebi minha fixação fiquei envergonhado. Tirei o fone do ouvido na intenção de algum fato iniciar um diálogo, mas o máximo que consegui foi um sorrisinho, dentes alvos e similares, em sua face, buraquinhos na bochecha a deixavam mais linda, porém esse sorriso era de adeus, desceu na Barra-Funda. E eu acordei do melhor sono que já tivera nesses vinte e tantos anos de vida. No trabalho só era um o pensar: “- Quem era ela? Demais! Que Linda! Será que tem namorado? Minha Musa!” Trabalho que é bom nada, levei três repreensões por estar moscando pensando nela.

Essa rotina se repetiu por alguns dias. Rezava para ninguém sentar ao meu lado, pois assim o lugar da Musa estaria garantido. Quase trinta dias e nenhuma palavra dita, mas varia pensadas, em seus olhos eu ouvia ela falar;

“_ Oi, Tudo bem? Você é muito legal” e ouvia mais –“Sabia que você é muito especial, quero estar com você pra sempre”.

Dia três de fevereiro, tomei coragem, pelo menos um “Bom dia”, pensei, eu falo pra ela. Missa rezada, lá estava, seis e cinqüenta, terceiro ponto da Parapuã ela sobe, meio envergonhada, acanhada, acho que pressentiu o que ia acontecer, ela foi se aproximando, meu coração batia mais que coração de corintiano em jogo de libertadores contra time argentino.

Pediu para sentar, pirei. Vindo direto do camelô o som de Reflection de Mariah Carey invande o ônibus.... e às sete horas o sol invade minha vida. Viro-me e seus olhos cantam e inalo o ar que me dá vida. Vivo. Suas mãos aquecem o sol e apertam meu coração, e seus dedos, entre o meu, dançam liso e floreado...

Agora é tudo ritmo e poesia e meu coração com a-mor-te-ce-dor... solavanca...solavanca..

Israel Neto
Enviado por Israel Neto em 16/10/2009
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