Mais uma professia do N95

Em determinados estágios de nossa vida, acreditamos nas mais absurdas coisas. Quando somos crianças, acreditamos em Papai Noel, Boi da Cara Preta, Saci, Bicho Papão, etc. Nossa mãe nos quer por pra dormir. Quando somos um pouco mais velhos, acreditamos na independência, emancipação. Quantos de nós não sonhamos em estar fora de casa aos 18? Pensamos em casamento, filhos, alguns não, pensaram em sair com amigos, enfim, temos ilusões próprias para a idade, um bom emprego por exemplo.

Depois que vamos ficando mais velhos, nos deparamos com certas realidades que preferiríamos não conhecer. Descobrimos que Papai Noel não existe, Boi da Cara preta é só um boi babão, Saci é um mendigo perneta e O Bicho Papão é criado pelos nossos pais para trazer disciplina a nossos conturbados corações. Percebemos que morar sozinho não é tão fácil, arrumar um bom emprego também não. E, casar é dose, ou ao menos é muito difícil levar um relacionamento a termos.

Bom, qual o propósito disso tudo? Precisamos crer em algo, seja o que for, precisamos crer. A crença é o que fará nossa vida mais salubre, mais aceitável. Eu tenho as minhas e você tem as suas, todos temos, e sabemos que algumas não se realizarão. Ser astronauta eu já não posso, mas não tem problema, tenho medo de altura. Também não serei psicólogo e nem assistente social. Não serei veterinário e nem cardiologista, nem ginecologista. Serei engenheiro químico!

Terei um bom emprego, mas terei uma boa mulher? Creio que o amor seja tão transitório quanto as estações. Hora amamos, depois nem amamos tanto assim, mas ai depois amamos mais ainda. Nem sabemos o motivo de amarmos de desamarmos, mas amamos e desamamos. Mas na maioria das vezes estamos no sentido oposto. Amamos, mas não somos amados, ou somos amados e não amamos. Certas vezes precisamos quebrar a cara pra ver, mas... Experiência não se transfere se adquire.

Bom, na realidade o que acontece? Tenho uma ex que ainda gosto, gosto muito. Pensei várias coisas, duvidei de mim, dela, da vida. Minha cabeça se encheu e... Acabei com tudo. Ainda gosto dela, tentei me reaproximar, mas foi em vão. Na realidade, me aproximei de mim, e ela, continuou do outro lado do mar, a 3 ônibus de distância. Certa vez, marquei dentista, até ai tudo bem. Fui avaliar meu calendário do celular e qual não foi minha surpresa ao ver marcado no dia 04/01/2010 o seguinte lembrete: Volta com a Menininha. Será que é dessa vez? Poxa mas como isso foi parar lá? Dessa vez não cometi o mesmo erro que cometi na semana santa. Tive minhas dúvidas e fui pesquisar. Não sei o motivo, mas a data estava em 2008 e até 2015. Eu acreditei por um curto período de tempo que meu celular, na verdade, era um profeta e estava me dizendo o futuro. Meu celular é um Synbian, um N95 e só. Seu olho de 5M pixel não vê o futuro e apesar da lente ser redonda e de cristal, não tem poderes premonitivos.

Passado esse fato, me senti bobo, estúpido. Mas meu coração só acreditou pelo fato de estar apaixonado, de querê-la, e ainda sonhar com ela. Sabe, tentei um contato, um último contato, e ainda não obtive resposta. Me sinto como o náufrago que atira recados em garrafas ao mar, ou o navio que, a deriva, envia S.O.S e esmo. Ela não viu, se viu não ligou. Minha vida deve seguir, mas estou ancorado naquele porto. Fiquei muito tempo preso por besteira, e se ela não quiser vou lançar ao mar, mais uma vez minha barcaça, não a esmo, estarei no comando, mas deixando que sacuda ao sabor das ondas. Confesso que quero continuar aportado nesse porto seguro e belo, nessa terra que aprendi a amar, a essa mulher que me prende e me arrebenta contra as pedras.

Quero que minha vida siga, mas queria que fosse um rumo junto a Menininha. Se ela não vier será uma pena, uma perda irreparável, mas ainda assim meu navio partirá ao mar. Menininha, o apito do barco está tocando, que entrem os passageiros, quando zarpar não sei por que águas navegarei.

Símio
Enviado por Símio em 23/10/2009
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