Nunca mais deu notícias

Sentada de costas para ele, Maria soluçava, estava inconsolável, o término do relacionamento que durara seis anos, para ela, era inconcebível, e pior, até ontem tudo estava às mil maravilhas, como poderia aceitar assim numa boa?

Humilhou-se, muito, mas Pedro irredutível não vacilou, o caso até poderia parecer sem pensar, mas não era, ele tinha já a tinha avisado, claro que sem ser direto, de muitas coisas que não concordava no comportamento dela: como ser tão descuidada com a aparência assim? Como não pensar em economizar para o futuro? Como não estudar, melhorar sua cultura? Etc. Maria queria apenas comer, dormir e vegetar, letárgica, parecia sem alma.

Então, não foi da noite para o dia, os sinais vinham alertando, prevenindo, só que Pedro não era de fazer alarde, Maria já tinha presenciado algumas vezes, raras por sinal, em que o “namorido” desligara-se de alguma coisa ou pessoa e tinha sido de vez, para sempre. Tanto fez, e ele tanto avisou, que pronto, acabou mesmo.

Sabia que ele tinha personalidade calma, mas firme, às vezes até cruel. Pior é que ela estava se humilhando em prantos, no fundo tinha consciência de que não tinha mais volta.

E foi, entre uma lágrima embolada na outra, que lhe surgiu uma grande idéia, que poderia ser salvadora. Uma das coisas que mais ofendiam ou melhor, mais afetavam essa firmeza de Pedro era ele pensar que não tinha sido ele a decidir alguma coisa, ele precisava estar no comando sempre, ter o poder final de palavra e decisão. Se não fosse assim Pedro daria um jeito de ser.

De súbito, Maria melhorou a postura, enxugou as lágrimas, e disse: - Pedro você tem razão, eu já sabia do que você não gostava dos meus comportamentos e atitudes e mesmo assim não fiz esforço algum para melhorar ou para te agradar. Você também tem razão quando diz que a culpada fui eu e que agora tudo está acabado. Mas eu quero lhe dizer ainda uma última coisa Pedro: - fiz tudo isso porque tenho interesse em outra pessoa e vi que seria ruim continuar agora me fazendo de vítima, e pelo seu amor por mim, eu deveria ser sincera e contar toda a verdade, tenho amor por outra pessoa.

Pedro ouviu, suspirou e disse: - Certo, se é assim, poupou meu tempo em ouvir-te mais, passar bem. Foi-se e nunca mais deu notícias.

Dizem que as enchentes que por agora assolam a cidade, ocorrem por causa das lágrimas de Maria, que até hoje, passado anos, copiosamente ainda chora.