Lua de mel

O céu não era negro, mas sim azul marinho e também não tinha estrela alguma adornando a abobada celeste, somente a lua cheia com uma áurea prateada servia como luminária natural.

Alam estava sentado no chão da varanda do seu quarto de hotel, sempre quis passar alguns dias em Angra dos Reis e agora realizava este sonho da maneira mais especial possível.

O clima da noite estava tão agradável que o jovem foi para a varanda, sentou-se no chão e fechou a porta corrediça de vidro que dava para o quarto, que por sinal estava na mais completa escuridão. A única luz dentro do cômodo escapava do banheiro cuja porta estava entreaberta e banhava um pouco do breu do quarto com uma réstia de luz amarelada.

Do lado de fora o vento litorâneo tratava de deixar o clima ainda mais paradisíaco embora quente, mas não o suficiente para ser incomodo, pelo contrário, era extremamente agradável.

A varanda suspensa ficava localizada a alguns metros do chão estavam no quinto andar de um hotel espetacular de frente para a praia que durante o dia possuía as águas tão verdes quanto às do Caribe.

Ao lado dele estava colocado um balde de alumínio no tamanho médio com bastante gelo e uma garrafa de espumante sem álcool sendo refrigerada ali. Havia também duas taças ao lado do balde.

O vento soprava criando uma brisa suave e acolhedora que tornava aquela madrugada ainda mais inesquecível. Alam pensava:

“Finalmente um pouco de paz”.

Somente o vento, e o barulho das árvores ao longe quebravam o silêncio abençoado do lugar; aquele era um sonho se realizando. Todos os demais quartos tal como o dele tinham os aparelhos de ar refrigerado trabalhando, mas impressionantemente eles não causavam barulho algum; por causa dele foi que Alam fechou a porta corrediça de vidro que dividia o quarto da varanda. Queria que o quarto esfriasse.

Lá dentro, a luz do banheiro se apagou e uma silhueta veio caminhando, sinuosa, no meio das sombras do aposento, que não estava totalmente obscurecido, o brilho prateado entrava pelo vidro da porta e ao tocar o chão atribuía sua palidez quase sobrenatural a todo o lugar, não era o suficiente para iluminar totalmente, mas também não deixava o local entregue às sombras.

Ela caminhou de uma forma quase felina desde o banheiro, passando pela cama, em frente da televisão, uma cadeira próxima da porta, até que finalmente abriu e passou para a varanda onde o outro a esperava. Fechou suavemente a porta atrás de si.

Uma nova brisa soprou do mar como que para saudá-la.

Eliana; agora a esposa de Alam. Haviam acabado de se casar e escolhido aquele pedaço de paraíso para passar os primeiros dias de matrimônio. Estava trajada com uma camisola branca e justa, de tecido fino, e acabara de sair de um banho revigorante.

Alam olhava para ela banhada pelo prata do luar, a roupa dela parecia refletir os raios da lua e a varanda se encheu daquela luminosidade extra, aquela mulher parada ali parecia um anjo, com seus longos cabelos e formas perfeitas, só a falta de um belo e grande par de asas davam a certeza de que não tinha se casado com um anjo de verdade, mas sim com uma bela e doce mulher.

_O que está fazendo sentado no chão?_ ela perguntou.

Percebeu o balde com a Champanhe e as taças ao lado dele; caminhou até a amurada da varanda e olhou primeiro para baixo, em seguida para a linha do horizonte onde o mar do lugar chamado de Baía da Ilha Grande se encontrava com o céu azul marinho.

_ Aqui é tão bonito; até mesmo de noite._ Eliana estava verdadeiramente deslumbrada com tudo o que vira até aquele momento, muito embora eles tivessem chegado poucas horas atrás e só poderiam aproveitar de fato todas as belezas do encantador lugar no dia seguinte, mas a madrugada estava apenas no princípio.

_São duas da manhã_ disse Alam.

Ela se virou e ficou ali parada olhando para ele, a brisa ia e vinha, beijava-lhe a face e as roupas rebrilhantes e depois desaparecia. Ele por sua vez também ficou parado admirando-a como se estivesse vendo uma musa.

Ela riu e disse:

_ Champanhe é?!

Alam olhou para a garrafa; nem ele e nem ela bebiam, não tinham esse hábito, nem uma gota de álcool, mas como o hotel insistira em dar uma cortesia para os recém casados, Alam pediu que pelo menos fosse uma bebida não alcoólica, afinal tratava-se da noite mais especial de suas vidas até então e tudo tinha que ser perfeito.

_ Foi um presente do hotel. _Ele disse._ E sem álcool.

Ela virou-se novamente para a amurada e olhou para o céu, contemplou por alguns segundos o mais belo luar que já tinha visto. E disse quase que debilmente:

_ A lua cheia!

Alam tirou a tampa da garrafa, revelando que ela já estava previamente aberta, pegou uma das taças e derramou o líquido cintilante até a metade; fez o mesmo com a outra e levantando foi até sua amada. Entregou a ela uma das taças e brindaram.

_ Ao paraíso_ ele disse oferecendo um brinde.

Ao que ela acrescentou:

_ Ao nosso paraíso.

Tocaram a borda das taças, com os olhos fixos um no outro; um tinido fino se fez presente quando do toque das taças. Eles beberam um pouco e depois se debruçaram na amurada com as taças nas mãos, ficaram juntos ali admirando tudo o que podiam e assimilando o máximo daquele momento de perfeição absoluta.

Alam trocou a taça de mão e passou o braço direito nos ombros dela envolvendo-a na altura do pescoço, como num meio abraço; ela por sua vez fez o mesmo com ele na altura da cintura e assim ficaram os dois abraçados e bebendo o champanhe por mais um momento.

Todas as dificuldades tinham ficado para trás, todos os desafios haviam sido vencidos e as barreiras superadas, agora a vida lhes propunha uma nova etapa na qual um tiraria forças do outro.

Ao terminarem a bebida sentaram-se no chão e ambos sussurraram palavras doces um para o outro; ainda havia mais champanhe na garrafa e veladamente eles pretendiam voltar para o quarto assim que a bebida acabasse.

O ar tropical, e a brisa que os brindava seguidamente era um convite para dormirem ali mesmo na varanda, mas talvez fizessem isso no dia seguinte.

Ela colocou mais um pouco de champanhe em ambas as taças.

Sorriram. Alam estendeu a mão e tocou a dela, passou o dedo pela aliança dourada que era a única coisa destoando da atmosfera prateada do lugar. Ao olhar para a face da mulher, ele percebeu que haviam lágrimas aprisionadas nos olhos dela.

Eliana sorriu mais uma vez e uma gota correu desgarrada pelo rosto, como se fosse diamante líquido, filtrava a luz do luar com uma perfeição inimaginável. A emoção que emanava de Eliana já o tinha contagiado, seus próprios olhos também continham lágrimas que de forma tola ele insistia em deixar presas.

Ela segurou a mão dele e beijou a aliança do agora marido, mais lágrimas rolavam sobre sua face, ela sorria, pois as lágrimas obviamente não eram de tristeza e sim de alegria incontida. Uma felicidade incontrolável e imensurável que bombardeava o coração de ambos.

Finalmente eles beberam o restante do champanhe, levantaram-se; mãos dadas. Ele abriu a porta corrediça do quarto, um ar gelado os envolveu, entraram, fecharam a porta e puxaram a cortina deixando do lado de fora o balde com gelo, as taças, a garrafa vazia e o mais importante; uma vida inteira pela frente.

Luiz Cézar da Silva
Enviado por Luiz Cézar da Silva em 04/11/2009
Reeditado em 01/04/2013
Código do texto: T1903975
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