Ménage à Trois

Emi e Evalin

- Por qual motivo assistimos a este filme? Eu perguntei a Paulo, meu noivo - Caso você quis me mostrar algo para que eu ficasse interessada?

- Evalin, foi só um filme. Foi uma indicação da minha irmã. Eu nem sabia que tratava-se de uma temática lésbica. Desculpe se chateei você.

- Não chateou. Ao contrário, me fez ver com outros olhos. Já nem tenho mais tanto preconceito como antes. Percebi que as pessoas não têm culpa de se apaixonarem por alguém do mesmo sexo. O que não significa que eu faria uma coisa dessas.

- Não faria? Me perguntou Paulo direcionando o seu olhar para o chão enquanto arrastava seu pé direito para um lado e para o outro.

- Ficou triste em saber disso?

Sua boca disse não, mas seus olhos, sua expressão como um todo, disse sim. Que ficaria muito, mas muito triste. Eu o amava muito e faria qualquer coisa para deixá-lo feliz comigo. Quando ele via em filmes pornôs novas posições de sexo e queria testá-las comigo, eu as testava. Brinquedos novos no Sex Shop, nós comprávamos e usávamos. Ele dançava pra mim com cueca de elefante. Era divertido, mas não era excitante pra ser sincera. Mas essa dancinha me mostrava o quão ele me amava, afinal, era ridículo, mas o objetivo dele era me fazer sorrir, e ele conseguia. Eu o conhecia bem e percebi que a sua nova invenção naquele dia chamava-se Ménage à Trois, ou seja, amor a três. Eu não falei mais nada, não quis dar à ele a esperança de que faríamos isso. Queria um tempo pra pensar. Uma semana depois, num sábado, liguei para ele e o chamei para irmos à uma boate GLS.

- Tem certeza disso? Ouvi dizer que nessas boates só há homens com homens e mulheres com mulheres.

- Tenho certeza e, não só frequentam homossexuais. Há também simpatizantes. O S do GLS significa isso. Algumas amigas e amigos meus já foram. Dizem ser divertido. Então? Vamos ou não?

Chegamos à boate as 23h. Ainda na portaria presenciamos mulheres se beijando. Havia homens com homens também, mas não era neles que eu estava prestando atenção. E nem era o comportamento dos homens que eu fui com a intenção de observar. Paulo não falava nada e sequer observava as lindas mulheres que havia lá, apenas olhava pra mim com ar de alegria, copo de cerveja na mão, quase intacto, se movimentada apenas para mudar de posição. Provavelmente olhou enquanto eu fui ao toalete, e estava torcendo para que eu me interessasse por alguma mulher, ou, que alguma mulher passasse a dar em cima de mim e me despertasse interesse. Eu estava sim, observando e interessada. Fiquei imaginando como seria comigo. No toalete eu estava retocando minha maquiagem quando uma mulher estava apertando os lábios para forçar o batom que estava saindo de seus lábios. Pensei que ela estava sem um batom em sua bolsa e ofereci meu brilho labial. Ela, com um sorriso no rosto, aceitou, usou, pediu obrigada e se retirou olhando discretamente para mim. Eu também olhei para ela, até dos pés a cabeça. Ela era linda! Cabelos longos, lisos e pretos, pele branca, olhos negros de cílios enormes, boca bem desenhada e de um corpo de parar o trânsito. Modesta parte nossos corpos são, até hoje, quase idênticos, a diferença é que eu não tenho o mesmo tamanho, apesar que o salto alto dela era bem maior que o meu. Eu também tenho os cabelos pretos e lisos, mas menor que o dela. Sou um pouco menos branca e tenho os olhos cor de mel escuro. O relógio já marcava 3h e a boate parecia encher cada vez mais. Fui mais três vezes ao toalete, mas não vi a "mulher morena sem batom". Quando fui pela quarta vez, eu a encontrei ainda no caminho. Perguntei à ela se estaria precisando novamente do brilho labial, eu sequer havia percebido que ela estava de batom. Eu só queria mesmo puxar assunto.

- Não, obrigada. Mas aceito saber seu nome. Me falou ela, sorrindo

Eu sorri meio tímida, mas me apresentei. Ela achou meu nome lindo e incomum. Eu a achei de uma beleza linda e incomum, tanto que até me esqueci de perguntar o nome dela. Mas não fiquei sem saber por muito tempo, pois ela mesma se apresentou. Seu nome era Emi. Perguntei se era uma homenagem a Amy Winehouse, mas quando ela nasceu, Amy ainda não era reconhecida, então, ela me disse que seu nome na verdade era Emília, e Emi era um apelido carinhoso de infância, e também um diminutivo que a ajudava a esconder o quão era "ultrapassado e horrível" o seu nome. Fomos ao toalete juntas e saímos dele juntas´.

- Onde você está?

- Eu estou com meu namorado, Paulo, perto do bar com luzes azuis.

- Namorado?

- Sim, namorado.

Pensei que ela não iria mais querer conversa comigo, pois pensava que eu era lésbica ou bi, e estava só, mas na verdade estava com um namorado que, pela reação dela, parecia algo decepcionante. Depois de uns longos segundos, depois de eu ter por instantes até mesmo me arrependido de ter dito que estava com meu namorado, ou mesmo que eu tinha namorado, ela falou:

- Coincidência, eu também estou com meu namorado. Eu, ele e uma amiga. Eu posso ir até onde você está? Gostei de você, acho que poderemos ser amigas.

Claro que eu disse sim, mas o fato dela ter namorado e também de estar com uma amiga me deixou desencantada. Pensei: Ela, o namorado, uma amiga... só pode ser um Ménage à Trois. Mas fiquei a esperando e com poucos minutos ela apareceu, e sozinha. Me disse oi Evalin, sorrindo, e Paulo perguntou:

- Vocês se conhecem?

- Não, quer dizer... nos conhecemos a pouco. Esta é Emi.

Paulo gentilmente cumprimentou Emi, em seguida olhou para mim com um ar de riso, contente como criança e seus olhos me diziam: teremos uma noite maravilhosa. Não sei exatamente em quantos minutos depois chegaram o namorado de Emi e a amiga deles. Eu estava tão deslumbrada com a beleza de Emi que os minutos se passaram rápido demais, ou não passaram, mas eu estava despercebida quanto ao tempo. Eu estava me sentindo uma lésbica interiormente. De certa forma, eu estava encabulada com meus pensamentos. Mas eu não pude evitá-los. A amiga deles chamava-se Vivian, se apresentou como Vivi. Era linda também, mas não era um quarto de Emi. Paulo mudou a feição depois que Sandro chegou. Ele parecia achar que estava ao lado de um concorrente, mas mudou em seguida quando soube que ele era namorado de Emi. Ele viu em Sandro algumas respostas como, por exemplo: como Sandro convenceu Emi a ficar com outras mulheres. Já que ele - Paulo - assim como eu, estávamos pensando que Vivi era "namorada" deles. Eles conversaram bastante e eu não fazia ideia do que conversaram, pois eu estava distraida dançando com Emi e Vivi. Elas, por serem "namoradas", agiam de maneira estranha, pois ao contrário das namoradas que havia na boate, não se aproximavam uma da outra. O dia amanheceu, o relógio marcava 6h e nós nos despedimos. Antes que eu entrasse no carro, Emi veio até a mim e perguntou se nós não gostaríamos de ir à praia ainda naquele dia. Era muita disposição dela e eu não sabia se ia aguentar. Mas trocamos números de telefone e ela prometeu me ligar para me acordar as 10h, deste modo eu não teria como recusar o seu convite.

Fui dormir no apartamento de Paulo. Acordamos ao meio-dia. Fui me olhar no espelho assim que acordei, foi quando lembrei imediatamente do telefonema de Emi. Olhei no celular, mas não havia nenhuma chamada. Olhei para outro relógio para confirmar a hora, mas realmente era meio-dia. Ansiosa, eu tentei me segurar, mas não consegui e liguei para ela. Ela atendeu ainda com a voz rouca, sonolenta.

- Emi, é Evalin. Lembra de mim?

- Claro. Claro que lembro!

Eu a ouvi bocejar, então percebi que eu quem havia acabado de acordá-la. Me senti incomoda por aquilo e falei que ligaria depois.

- Não, não. Espere! Ah... Desculpe não ter te ligado como prometi. Quer dizer... Como ameacei. - Ela sorriu - Mas o carro de Sandro deu problemas, acabamos chegando em casa na hora em que eu disse que te ligaria. Fui tomar um banho, deitei só pra descansar os pés e acabei...

- Não precisa se desculpar. Eu só liguei para...

Eu não sabia ao certo o porquê que eu liguei. Eu não tinha a pretensão de chamá-la para ir à praia, tampouco para chamá-la para ir à algum lugar, ao menos não naquele momento. Eu só queria ter a certeza de que eu realmente tinha como encontrá-la. De que aquele número de celular era mesmo dela. Eu queria ter a certeza de que eu realmente havia conhecido uma Emília. Claro que eu não disse isso. Eu iria dar a entender que era uma lésbica. E eu não era!

- Eu liguei porque meio-dia ainda é dia, então... Achei que você ainda quisesse ir à praia.

Eu acabei a convidando e recebi um NÃO, seco e imediato. Fiquei de certa forma irritada comigo mesma, mas, em seguida ela pediu para que eu esperasse. Esperei por uns minutos, mas antes que ela voltasse ao celular, Paulo me interrompeu.

- Quem é no telefone? Sua mãe?

- Não é... Era a minha amiga da faculdade, você não conhece.

Desliguei o celular sem esperar que ela voltasse. Paulo começou a cheirar meu pescoço e a tirar minha roupa.

- Você acabou de acordar e já está com esse fogo?

- Foi um sonho que eu tive que me deixou assim. Vem cá...

- O que você e o namorado da Emi tanto conversaram ontem?

Ele, fazendo círculos lentamente em meus seios com os dedos, falou que Sandro havia dito para ele como era o relacionamento deles. Era aberto, eles ficavam com garotas, dentre elas, com a Vivi. Que era maravilhoso ter duas lindas mulheres na cama, e ter a certeza de que a mais linda delas, se referindo a Emi, era, de fato, só dele em ambas as partes; interiomente e fisicamente. Que ele gostava bastante de Vivi, mas que o gostar dele por Emi era inexplicável. Que ele jamais deixaria Emi para ficar com qualquer outra mulher. Que mesmo sendo bom estar com as duas em sua cama, também era simplesmente maravilhoso estar apenas com a Emi. Que ele só fazia com a Vivian o que a Emi permitia, e a Emi permitia tudo, pois ela era segura do amor que Sandro tinha por ela e, por isso, não tinha receio em deixá-lo explorar o corpo de Vivian. Emi sabia que Sandro era só dela e vice-versa, e isso os ajudava no relacionamento aberto. Vivian era grande amiga, mas jamais separaria os dois, pois ela não passava de amiga e fetiche.

- Hum... Interessante. Eu não havia percebido isso neles. Quer dizer... Eles estavam tão distantes...

- Mas é assim mesmo amor. Eles não se mostram pra todos, até porque há muito preconceito ainda.

- Sim, mas, estávamos num ambiente próprio pra isso.

- Bem, eu não sei. Só sei que eles são namorados. Ele, Vivian, e Emi. E vivem felizes!

Eu achei estranho, não como era o relacionamento de Emi com seu namorado e "sua namorada", mas a forma com que Sandro me contou. Deixei pra lá e fui tomar banho. Sandro teve que ir as pressas em seu trabalho a pedido do seu chefe. Quando eu estava preparando algo para comer, meu celular tocou. Era Emi.

- Você nem me esperou!

- Desculpa, a ligação caiu, daí pensei que você tivesse dormido novamente e eu não quis te atrapalhar.

- Não, eu fui correndo ao banheiro, eu tinha acabado de menstruar. Por isso que praia pra mim só no próximo fim de semana. É horrível usar O.B...

- Tem razão! Eu concordei, sorrindo

- Ei... O que vai fazer hoje?

- Nada programado!

- Não quer vir tomar um banho de piscina aqui em casa? Meus pais estão em Fortaleza, estou sozinha aqui. Sandro só vem me buscar a noite.

Eu não vi lógica em aceitar o convite de ir pra casa de alguém que eu havia conhecido poucas horas atrás. Isso seria loucura!

- Sim, eu vou! Como faço para chegar aí?

Não avisei à Sandro para onde eu estava indo. Mas eu também só o veria durante a noite. Quando cheguei a bela casa de Emi, me deparei com o seu cachorro linguiça pulando em cima de mim e latindo. Segundo ela, ele só fazia isso com quem gostava. Com quem não gostava, ele mordia.

- Como diz o ditado; "cão que late, não morde". Enquanto ele latir pra você, você estará salva.

Eu não tive como não rir do jeito cômico em que ela citou este ditado. Ela, além de linda, era engraçada. Isso me deixava com frios na barriga. O mais estranho nisso tudo é que, eu tinhas muitas amigas e a maioria delas eram lindas, capas de revistas, mas com elas eu não sentia esses frios. Fizemos lasanha juntas. Jogamos a lasanha juntas, pois, saiu tão ruim que a pipoca de microondas nos atraiu mais. Ela insistiu bastante para eu que eu entrasse na piscina, mas, eu não entraria sozinha, então, ficamos sentadas na beira da piscina, com os pés dentro da água, e começamos a conversar besteiras como, por exemplo: cor preferida dela, o que ela estudava, o que eu estudava, como era nossa família, sobre nossos pais, até que chegamos a falar sobre nossos namorados.

- O que você foi fazer com seu namorado numa boate GLS? Vocês... Estavam a procura de diversão, do tipo, rir dos homossexuais?

- Não, jamais!

Eu sorri e fiquei sem jeito para falar à ela qual realmente era a minha intenção em ter ido, que era a de tentar encontrar uma garota que me interessasse para satisfazer, além da minha curiosidade, mais uma vontade de Paulo.

- Eu só fiquei curiosa para conhecer o lugar, mas eu não tenho preconceitos, por isso jamais riria dos homossexuais.

- Eu só brinquei com você, ta?! Pelo pouco que te conheci, vi que você não é assim. Posso ser sincera com você?

- Claro.

Eu fiquei nervosa. Achei que ela começaria a me contar sobre o relacionamento aberto dela, e com certeza eu passaria a imaginá-la com outra mulher, logo, a imaginaria comigo.

- Eu pensei que vocês fossem um casalzinho em busca de outra garota para... Para mudar um pouco a relação. Dar mais uma apimentada.

- Não, nós... Nós nunca fizemos isso.

- Você nunca teve uma experiência com uma mulher?

Senti vontade de falar que eu nunca tinha passado e nem tinha tido vontade, até conhecê-la. Então respondi que não, com um sorriso tímido no rosto.

- Nossa... Não sabe o que está perdendo.

Ela falou super baixo, mas eu consegui entender só pelo sorriso irônico que ela deu em seguida. Mesmo se ela não tivesse falado nada, eu entenderia.

- Eu só... Eu só assisti um filme onde duas mulheres ficavam juntas e, passei a ver com outros olhos, então quis presenciar pessoalmente. Mas foi só isso.

Eu não consegui mentir muito bem. Aliás, eu nunca fui boa em mentir.

- Sabe, Evalin, alguns homens tendem a querer que suas mulheres fiquem com outras mulheres, mas na frente deles. E que eles façam parte de preferência. Muitas mulheres fazem isso e, fazem apenas por eles. Algumas gostam demais e acabam se apaixonando, largam os homes ou machucam as mulheres por não terem coragem de largar os seus namorados, ou maridos ou noivos. Outras não gostam de forma alguma, mas por medo de perderem os seus parceiros, fazem isso. E sabe qual o resumo da história?

- Não faço ideia!

- Ménage à Trois nunca dá certo. Alguém sempre se machuca. Na hora do ato, por ver seu parceiro ou parceira com outra, perceber que há uma preferência ali entre ele ou ela, ou entre ela e ela. Sempre há a preferência. E quando essa preferência faz com que o relacionamento volte a ser em apenas duas pessoas, mas não as duas pessoas que estavam antes...

- Nunca havia pensado nisso.

- No Ménage à Trois ou no resultado dele?

- Nas duas coisas. Você e seu namorado... Já aconteceu ou acontece isso?

- Nunca aconteceu e nem vai acontecer!

- Mas então... O resultado não é o mesmo para todos os casais que decidem ter um relacionamento aberto?

- Claro que é o mesmo! Ah... Espera... Você acha que eu e o Sandro... Nós...

- E não?

Ela riu para mim. Eu fiquei confusa, pois, ou ela estava mentindo, ou o Paulo mentiu pra mim, ou o Sandro para o Paulo. Se Paulo mentiu pra mim, então ela estava tentando me convencer a fazer o Ménage à Trois e por isso inventou tudo aquilo. Para que eu tivesse a certeza de que tudo era maravilhoso, e que eu e ele seríamos sempre eu e ele, independente de sairmos com outra mulher. E se Sandro mentiu, então, ele apenas é mais um dos tantos homens que fantasiam demais, nem que pra isso tenham que usar a imagem da própria amiga e namorada.

- Olha... Eu e Sandro não somos namorados, na verdade.

Ela mentiu pra mim, mas eu estava gostando da confissão.

- E não pense que menti pra você. Eu só omiti a verdade. Se bem que é quase a mesma coisa, mas... Eu não quis te falar que eu... Bem... Que eu gostava de mulheres pra que você não se afastasse de mim, ou mesmo me quisesse para fazer o Ménage à Trois. O Sandro é gay, nem parece não é mesmo?!

- Mas vocês se beijaram...!

- Dêmos uns selinhos. Fazemos isso sempre! Coisa de amigas. Você... Você tem algum preconceito em ser amiga de uma, lésbica?

Eu imaginava que todas as lésbicas eram masculinas, cabelos curtos ou sempre amarrados. Que agiam como homem, que falavam como tal, mas, Emi não era assim. Eu pensei que mulheres como ela no máximo eram bissexuais e só ficavam com mulheres pra se considerarem mente aberta, não por gostarem de fato. Eu realmente não sabia nada. Fiquei mais nervosa ainda, pois eu não tinha nenhuma amizade lésbica, a referência que eu tinha era só uma prima que, nunca se assumiu, mas todos na família desconfiam. E ela era masculina. Usava boné e sentava de perna aberta, mas a calcinha não aparecia, pois ela só usava bermudas e calças folgadas. Me lembrei do Paulo. Como ele foi cínico e criativo ao me contar tudo aquilo. Nem a Emi nem o Sandro mentiram, isso era certeza. Fiquei sem palavras por um tempo, até que ela interrompeu meus pensamentos.

- Pelo jeito você não está gostando da ideia de ter uma amiga como eu. Eu vou entender.

- Não, não é isso. É só que... Eu não esperava, mas... Mas está tudo bem.

- Mesmo?

- Sim, eu... Quero continuar sendo sua amiga. Juro!

- Que bom!

Ela suspirou e me abraçou. Meu nervosismo foi tão grande que, eu ainda não tinha percebido o quanto estava gelada a água da piscina, apesar que, minhas mãos não estavam na piscina, mas estavam mais geladas que a de Edward Cullen. O frio na barriga que senti pareceu ser provocado pelo cabelo dela encostando em meu pescoço. Ela se afastou pedindo desculpas, mas pediu que eu não agisse com ela como se estivesse com um homem, pois ela era tão mulher quanto eu, a diferença estava na mente, e nem era tanta diferença assim. Era só uma pequena parte. A parte da preferência que estava localizada em algum ponto do cérebro, ou do coração. Eu preferiria mil vezes que ela continuasse abraçada comigo, assim ela não veria, após ter me soltado, minha cara envergonhada e meus olhos perdidos que olhavam para todos os lugares, menos para ela, mas, era para ela que eles queriam olhar.

- Você quer comer algo? Aquela pipoca de microondas não segurou por tanto tempo a minha fome.

- Não, obrigada. Eu preciso ir. Já é noite e o Paulo irá passar em casa. Vamos à casa da mãe dele. E eu sequer fui à minha casa hoje, preciso mostrar aos meus pais que estou viva.

- Tudo bem.

Ela olhou fixo para mim como quem queria me dar um abraço, mas meus olhos virados para o chão a deixaram distante de mim. Culpa minha não ter ganho o abraço que eu tanto queria. Não falamos em ligações. Fiquei sem saber se ela me ligaria, e nem ela se eu a ligaria.

Ficou tudo muito estranho, mas com vontade de quero mais. Quando encontrei com o Paulo, falei pra ele sobre o meu dia. Ele pareceu não gostar.

- Emi? Mas o que foi fazer na casa dela?

Como se eu soubesse também.

- Passamos a tarde comendo pipocas de microondas, conversando...

- E o namorado dela? Vocês fizeram o Ménage à Trois?

Ele podia até ter inventado a história do relacionamento dos três, mas ele não sabia que eles não eram namorados.

- O que você está insinuando?

- Olha, Evalin... Eu já sei que você quer fazer o Ménage à Trois, e sei muito bem que com a Emi. Eu olhei pra você a noite toda enquanto a noite toda você olhou para ela e, provavelmente o dia todo também. O fato é que, eu jamais aceitarei que o namoradinho dela toque em você! E se ela ficar conosco, então ele vai querer ficar com você. E eu não quero essa troca, a não ser que ela "tope" escondida. O que acho que não porque, ela vai querer com o namoradinho dela também. E muito menos vou querer nós quatro. Nunca que ficarei nú em frente a outro homem e muito menos deixar que este homem olhe minha mulher nua, por tanto, esqueça Emi! Se você ainda quiser, nós saímos novamente, conheceremos novas pessoas, e quando encontrarmos uma mulher solteira nós...

- Pare! Pare por aí, Paulo! Eu não acredito que você pense isso de mim. Que eu tenha tido algo com os dois. Pra começo de conversa, ele nem estava lá, e...

- Então vocês duas começaram sem mim?

Ele mudou a feição, ficou contente por saber que estávamos só nós duas. Para ele, eu e outra mulher não seria nada demais, afinal, um homem jamais perderia para uma mulher. Ele tentou ser cômico, veio me abraçar, me chamou de danadinha e falou:

- Maldita hora que fui à reunião. Mas o bom é que você já está preparada.

- Quê isso, Paulo? Não pense uma coisa dessas, eu e Emi não tivemos nada. Só estamos construindo uma amizade.

- Não podemos nos envolver com uma inimiga, certo?! Mas também não com alguém que tenha namorado e que faça com ele Ménage à Trois.

Pensei em falar com ele sobre o relacionamento aberto que havia inventado de Sandro e Emi, mas para evitar discussão, deixei pra lá. Uns dias se passaram e nada de receber uma ligação de Emi. Pensei nela a semana toda. Na Segunda-Feira, na hora do intervalo, quando eu estava indo comprar uma salada de frutas na frente da portaria da faculdade, uma voz em meu ouvido que me deixou arrepiada disse oi. Era Emi, linda como sempre.

- O que faz aqui?

- Não gostou de me ver?

- Não!

- Não?! Poxa, desculpa, eu só pensei que...

- Não! Eu quis dizer que, não procede sua dúvida. Eu gostei sim, mas, só fiquei surpresa. O que faz aqui?

- Vim vê-la.

- E como sabe que... Ah, te falei onde eu estudava.

Ficamos na praça, conversamos bastante. Perguntei o porquê dela não ter me ligado. Ela disse que não queria me sufocar. Não queria me deixar com medo. O sinal tocou, eu precisava voltar à sala de aula, porém, eu não estava com nenhuma vontade disso.

- Bem, não quero te atrapalhar, pode voltar à sua aula. Nos vêmos depois se você quiser.

- Para onde vai?

- Não sei. Passear, talvez.

- Posso ir com você?

- E sua aula?

- Odeio o professor que entrará agora. Ficaria aliviada se pudesse evitar a aula dele ao menos por hoje.

- Ele é um mau professor?

- Não! É que ele sempre me dá nota 10, mas não para os meus trabalhos, mas sim para os meus seios. Ele nem sabe como é o meu rosto, só olha para baixo...

Eu não deveria ter dito aquilo! Isso fez com que imediatamente ela, sorrindo, olhasse para os meus seios. Me escapoliu. Tentei agir com se ela não tivesse olhando para admirá-los, apesar de ter sido isso. E sei que foi porque vi seus olhos brilharem e seu sorriso foi tímido. Fomos à beira da praia. Conversamos sobre diversos assuntos, mas em nenhum momento sobre eu, ela, sobre Ménage à Trois... Só sobre assuntos que me fez conhecê-la ainda mais e vice-versa. De repente o celular dela tocou. Ela atendeu falando oi meu amor. Aquilo me deixou inquieta. Me deixou com ciumes. Ela falou que já estaria chegando e desligou.

- Eu vou ter que ir daqui a pouco. Tenho visitas em casa.

- Sua namorada?

- Não exatamente.

Não pedi que ela entrasse em detalhes, mas bem que eu queria. Eu queria, mas ela, pelo jeito, não. Então fomos embora. Ela me deixou em frente ao apartamento de Paulo, olhou para mim e perguntou quando me veria novamente.

- Quando você estiver sem visitas, quem sabe.

- Então espere um minuto, vou ligar pra casa, pedir que a visita se vá e daí não estarei mais com visitas. Aí você vai lá pra casa pra fazermos lasanha, ou comer pipoca?

Ela riu, senti que foi uma brincadeira, mas que no fundo havia uma verdade. Eu disse que não poderia, pois eu já havia marcado com Paulo que dormiria com ele. Ela reagiu normal, me deu um beijo na bochecha que por pouco não pegou em minha boca. E eu bem sei que foi de propósito. Paulo estava com o carro atrás do carro de Emi e viu quando eu desci. Ainda no elevador ele me perguntou onde eu estava e o que eu fazia com Emi.

- Ela foi na faculdade, nos encontramos coincidentemente.

- Ela estuda lá?

- Não.

- Conta essa história direito então. Como... O que ela fazia lá? Onde vocês estavam até agora? Vocês estão tendo um caso?

Eu entrei no apartamento calada. Eu não queria discutir com ele. Ele entrou no quarto, tirou a camisa, eu praticamente corri pra cima dele. Ele era lindo, tinha um lindo corpo, e eu estava com um tesão inexplicável. Ele sorriu perguntando o que era aquilo, mas eu não estava muito a fim de conversar. Depois que fizemos amor eu virei para o lado e tentei dormir. Ele me lembrou de que eu não havia respondido as perguntas dele quanto a Emi.

- Eu já disse que nos encontramos coincidentemente na faculdade. Eu não tinha mais aula, então, eu aceitei o convite dela e fui tomar água de côco na beira da praia.

- Sei... E depois?

- E depois eu vim pra cá. E eu estou aqui, não estou?

- Sim, está, e fez um amor delicioso! Mas o que está me encucando é: eu fui buscá-la, eu disse à você que iria buscá-la na faculdade. Não te vi, perguntei ao Fred, seu amigo, e ele disse que você não havia assistido a última aula. Logo, teve a última aula, ao contrário do que você me disse.

- Você deveria ter me ligado.

- Meu celular estava descarregado.

- Eu disse que não teve aula, mas teve sim, só que você sabe que eu odeio o professor de Metodologia, então, eu não fui. Não disse à você porque sei que você reclamaria, como sempre reclama quando não quero assistir aula ou ir à faculdade.

Me levantei, coloquei uma blusa de botão de Paulo, perguntei se ele queria algo e fui à cozinha. Quando terminei de fazer os sanduiches fui levar um para ele no quarto, ele já estava dormindo. Murmurei. Eu não conseguiria comer dois. Dei meia volta e fui assistir tv, pois estava sem um pingo de sono. Sem contar que eu não parava de pensar em Emi e na sua "visita". Fui colocar meus pés sobre o centro que havia em frente ao sofá quando sem querer derrubei minha bolsa. Meu celular caiu. Quando o peguei percebi que estava descarregado. O coloquei pra carregar e quando o liguei, havia quatro mensagens. Duas avisando que Emi havia me ligado, e duas mensagens de texto de Emi que diziam: Minha visita não vai demorar. Estou sem... E então...? E a outra: Tentei te ligar, mas seu cel estava desligado. Acho que não quer ser atrapalhada. Boa noite!

Sem pensar duas vezes eu liguei para ela.

- Alô, Emi?

- Não, é Ana. Ela ta no banho. Quem quer falar com ela?

A visita dela não havia ido embora. Fiquei furiosa e nem sei o porquê. De repente Emi tomou o celular das mãos de Ana.

- Quem é?

- Evalin.

- Oi... O que foi?

Ela foi fria, seca. Isso me deixou ainda mais furiosa. Quando ouvi no fundo Ana falando: Amor, onde ta aquele pijaminha azul? Vou usar ele. Quando ouvi isso meu coração extremeceu. Eu senti como se estivesse perdendo algo, mas algo que nunca tive.

- Não era nada, eu só liguei porque tinha umas mensagens suas. Nos falamos depois.

- Espere. Eu... Eu liguei pra você várias vezes, mas seu celular estava desligado. Eu...

- Tudo bem, já não importa, o bom é que sua visita continua com você e eu é quem não quero atrapalhar.

- Ei... O que há?

- Você e sua visita precisam ficar a sós. Boa noite.

- Provavelmente terei uma boa noite sim, mas... Antes preciso saber o que você quer. Você precisa de alguma coisa?

- Eu precisava sim. Precisava de uma mulher pra fazer Ménage à Trois, mas já fizemos amor sozinhos mesmo, já que você estava com visita. Adeus e boa noite!

Eu estava irritada e nem sabia o porquê, ainda. Com certeza era ciúmes. Achei que ela havia me ofendido dizendo que teria uma boa noite, e ainda mentiu pra mim dizendo que sua visita havia ido embora. Achei que falando o que falei, sobre querer chamá-la pra fazer o Ménage à Trois e ainda dizendo que eu havia acabado de fazer amor, eu estaria a deixando irritada também, já que ela era contra o ato. Eu nem sequer parei pra pensar se ela estava sentindo por mim o que eu senti por ela; ciúmes. Fui infantil, mas só me dei conta disso minutos depois. Quis ligar para me desmentir e pedir desculpas, mas eu não estava com coragem, além de não querer ouvir e ter a certeza de que ela estava tendo uma boa noite com Ana.

Fui dormir. Passei a semana toda irritada, com vontade de ligar para Emi. Ela não me ligou, não apareceu na faculdade. Uns dias se passaram e, na Quinta-Feira, quando estávamos entrando no carro na saída da faculdade, Paulo me perguntou se eu gostaria de ir à boate na Sexta-Feira.

- Não sei.

- Não quer mais experimentar...?

- Eu não quero mais, Paulo. Eu não vou mais à boate GLS. Vamos esquecer isso.

- Mas... Amor... Eu ainda quero.

- Então arrume outra namorada.

Ela bateu forte a porta do carro e disse que não era má ideia. Eu ia para a casa dele, mas fomos tão calados no caminho que a única coisa que falei foi para irmos para a minha casa. Ele me deixou lá. Ainda pela noite ele me ligou pedindo desculpas, que eu não me preocupasse com isso, pois ele não iria mais falar no assunto. Que estava contente comigo, etc. Eu o amava muito, mas fazia tempo que eu não pensava no meu amor por ele. Os pensamentos em Emi eram mais frequentes a cada dia. Ele me disse que estaria me buscando na faculdade após a última aula, pois iríamos a um restaurante com uns antigos amigos nossos, e de lá iríamos à um show de Forró. Mas, no horário do intervalo, lá estava Emi, me esperando na portaria novamente. Fiquei surpresa, nervosa e sem palavras. Ela apenas disse que gostaria de falar comigo. Eu a segui até seu carro.

- Emi, eu... eu queria pedir...

- Eu aceito!

- Aceita o quê?

- Eu não percebi de início que sua intenção era... Era fazer um Ménage comigo. Eu pensei que você era diferente, e por isso eu me encantei por você. Eu não sei até onde vai o seu amor por Paulo, então por isso não quis lutar por você. Eu acreditei quando você disse que nunca tinha tido experiências com mulheres, agora já duvido. Mas isso não faz diferença. Eu estou tão louca por você que, mesmo com seu namorado ao lado eu quero tê-la. Sei que isso não vai dar certo, é o único resultado que acaba o Ménage. Mas eu não quero saber. Eu quero você e, se só posso ter dessa forma, que seja. Quando vamos? Vai ligar para seu namorado agora? Esqueci de perguntar o mais importante... É se você ainda me quer para o ato. Talvez tenham encontrado...

- Eu nunca quis fazer um Ménage à Trois com você, Emi.

- Mas você falou que...

- Podemos ir à outro lugar?

- Para onde quer ir?

- Pode ser sua casa.

Todo o caminho foi tenso. Entramos no carro, saímos do carro, chegamos a casa dela e ainda ficamos em silêncio por um longo tempo. Eu comecei a falar antes que a coragem fosse embora. Ela estava em pé, na sala, de costas pra mim. Ela passava a mão no queixo e em seguida nos cabelos diversas vezes. Eu estava sentada no sofá.

- Eu não quero e nunca quis fazer uma Ménage com você. Eu estava com raiva. Com ciúmes de Ana e nem sei porquê. Fomos àquela boate, quer dizer, eu fui em busca de uma experiência. Eu quis encontrar uma mulher que interessasse à mim e ao Paulo. Mas conheci você e esqueci totalmente do Paulo...

Ela se virou para mim e passou a me olhar nos olhos. Eu levantei, cheguei perto dela, segurei sua mão direita com a minha esquerda e com minha mão direita e gelada, alisei seu rosto e seu cabelo. Ela também estava com as mãos geladas e a respiração forte.

- Eu realmente nunca tive experiências com outras mulheres, nunca fiz um Ménage à Trois. Eu jamais faria isso com você, pois, iria acontecer o que você disse; ele iria perceber a minha preferência.

- O que você está querendo me dizer?

Nervosa, fui impulsiva, dei um "selinho" e voltei atrás, assustada. A olhei nos olhos esperando uma reação, ela agarrou levemente os meus cabelos, me puxou e me deu um beijo que deve ter durado pouco, pois, rapidamente já estávamos na cama dela. Eu nem lembro como chegamos lá. Eu estava na lua e, nem imaginei que eu ficaria na lua por tanto tempo. O beijo de Emi era suave, era excitante, me deixava louca. Seu rosto, macio como o meu, fez daquele beijo o melhor que eu já havia dado. A língua de Emi, quando explorou meu corpo, me fez ter a certeza de que é possível contar as estrelas. O corpo de Emi, junto e encaixado ao meu, me fez ter a certeza de que não necessariamente se vai ao céu só depois que se morre. O abraço de Emi, após eu ter voltado a terra e ter beslicado a mim mesma para ter a certeza de que ainda estava viva, me deu a certeza de que era ela quem eu queria ao meu lado pro resto da vida. Ela sabia o que eu queria, como eu queria, onde eu queria. Ela diz até hoje que é porque é igual a mim, se referindo ao sexo feminino e também a sensibilidade. Sensibilidade esta que um homem jamais vai admitir que não sabe o quão é grande e tampouco saberá como compreendê-la.

Quanto ao Paulo...

Já faz quase um ano e ele ainda continua a procura de uma namorada que queira fazer um Ménage à Trois. Ele ainda não se deu conta de que isso nunca dá certo.

Mais contos em (site em construção, mas já há conteúdos)

http://sites.br.inter.net/ladeira/

Juliana ladeira
Enviado por Juliana ladeira em 03/12/2009
Reeditado em 03/12/2009
Código do texto: T1959013
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.