NÃO HÁ FRONTEIRA

NÃO HÁ FRONTEIRA

Na estação Lívia aguardava ansiosa a chegada do trem.

Ouviu um apito sibilante denunciando que ele estava se aproximando.

Seu coração acelerou.

Alguns minutos se passaram, quando por fim eis que surge na curva.

O apito se repetiu agora mais nítido. Confusa não sabia definir o que se acentuava mais: se era o barulho das rodas do trem nos trilhos ou o tic-tac do seu coração com a aproximação dele.

Olhou o relógio e pensou.

Sete e trinta, está dentro do horário.

Verificou mais uma vez se estava tudo em ordem: a mala e a passagem. Ajeitou a mochila nas costas e com angústia aguardou o trem parar.

Os passageiros se aglomeravam perto dela, cheios de bagagem, esperando a hora para embarcar.

Mais um apito.

O ranger das ferragens denotava que o maquinista estava freando.

O trem foi parando devagar. Desesperada vê passar na sua frente o primeiro vagão... o segundo... e no terceiro pára completamente.

Nesse ínterim gerou um grande rebuliços entre os passageiros. Era um puxa e empurra, querendo todos ao mesmo tempo passar na roleta que dava acesso ao trem.

O guarda pedia calma. Depois de várias tentativas ele consegui com que todos fizessem uma fila e só então começou a pegar os bilhetes de passagem. Olhava e indicava qual o vagão deveria se dirigir.

Aos poucos as pessoas foram sendo liberadas.

Chegou a vez de Lívia. Ele verificou a passagem, destacou o canhoto e lhe entregou o ticket.

Ela passou a roleta da estação e seguiu para a plataforma de embarque.

Olhou o trem a sua frente. Depois lançou um olhar para um lado e depois para o outro.

_São tantos vagões como vou encontrá-lo? - perguntava – se. .......................................................................................................................................

Tudo começou quando duas semanas atrás Lívia tinha chegado a trabalho em Parauapebas, quando conhecera Augusto.

Um rapaz bem apessoado, brincalhão e que ao fitá-lo sentira –se enfeitiçada desde o primeiro momento em que foram apresentados. logo uma forte atração a envolvera.

Os dias foram passando, e Augusto com seu jeito gentil, brincalhão, carinhoso a cativava mais e mais.

Resguardou seu sentimento numa tentativa de não mais sofrer decepções.

Chegara o dia de ir embora, seu trabalho tinha terminado naquela cidade. Lívia arrumou sua bagagem e despediu-se de Augusto. Com coração despedaçado subiu no ônibus e quando este partiu, ela lançou um olhar pela janela dando vazão as lágrimas, que tentara a todo custo conter. Não sabia quando teria outra chance de encontrá-lo, apenas as lembranças dos bons momentos que tinham ficado juntos iriam com ela.

Em Marabá, procurou envolver-se no trabalho para esquecer.

Passados alguns dias eis que para a sua surpresa, recebeu um telefonema de Augusto, dizendo-lhe:

- Lívia venha ao meu encontro! Vou viajar daqui de trem. Irei comprar a passagem e telefonei para dizer-te, qual a classe que estarei viajando. Sei que até esse dia já terás terminado o teu trabalho. Quero viajar contigo. Vamos tirar umas férias juntos? O trem pára em Marabá.

- Mas eu nunca viajei de trem Augusto. Como é que faço ?

- Não se preocupe. Procurou acalmá-la. Pergunte onde é a agência de passagens, que alguém deve informar. Não deixe de ir. Vou estar te esperando no trem. Despediu-se eufórico.

No dia anterior a viajem Augusto lhe telefonou confirmando de que viajaria na poltrona 36 no vagão semi-executivo e que comprasse a poltrona 37 do mesmo vagão, dissera...

Quando chegou que recebeu o recado foi na empresa de venda de passagem logo, pois antes já tinha se informado onde funcionava.

Um pouco apreensiva se questionava. Será que daria certo eu estou numa cidade, ele noutra. Isso é muita loucura,- reflete.

Lívia ainda não tinha viajado de trem. Eram turbilhões de perguntas sem respostas, mais o desejo de encontrá-lo novamente levara a tomar a decisão. Sim, iria ao seu encontro em qualquer lugar, o seu coração falou mais alto que a razão.

Pegou a passagem e indagou a vendedora.

- Só tem esse trem?

- Neste dia é só ele, respondeu a vendedora.

- Bom, menos mal, assim eu não entro no trem errado.- Pensou ficando mais tranqüila.

Foi para o escritório, teria que arrumar alguns papéis e entregar o trabalho concluído, antes de sair de férias.

Já era noite quando foi embora para casa.

Passou a noite em claro, pensando.

“Será que ele não vai perder o trem? Ou quem sabe vai desistir? Como vou encontrá-lo?”

as perguntas se atropelavam em sua cabeça.

A madrugada chegou fria e a encontrou ainda acordada.

Amanhecera.

Era uma manhã cinzenta e friorenta. Havia chovido de madrugada.

Lívia pegou um casaco de lã, vestiu, segurou a mala de um lado, a mochila do outro, e foi para a calçada.

Chamou um táxi e pediu ao motorista que a levasse a estação.

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Agora estava ali... o trem parado na sua frente, atônita tinha a impressão que seus pés tinham chumbo. Não sabia qual direção seguir. Viera atrás do seu amor, movida apenas pelo desejo ardente de seu coração.

Será que tinha sido ingênua em concordar com essa aventura? Pensou.

Ficou olhando as pessoas entrarem nos vagões. E ela... parada esperando que algo acontecesse, para saber que rumo tomar.

Alguns minutos se passaram, quando percebeu, que algumas pessoas saiam dos vagões, que tinha passado anteriormente, notou que alguém acenava.

Olhou com mais nitidez e constatou que era Augusto.

Seu rosto iluminou num sorriso e acenou. Seu coração transbordava de felicidade.

- Ele veio, murmurou, carregou a mala e foi ao encontro.

- Ali estavam, um na frete do outro, ofegantes mas felizes. Ele abriu os braços e a envolveu carinhosamente como para Ter certeza que ela estava ali.

- Seus corações pulsavam num só ritmo.

- Tive medo que não viesse- disse.

- Eu também- retrucou Lívia.

- Carregando em seus braços a levou para dentro do trem, acomodando-a ao seu lado.

A alegria era visível em suas faces.

O trem apitou anunciando a sua partida.

Daquele momento em diante, não tinham pressa de chegar.

Já não existia a distância, nem tampouco barreiras para transpor.

Enfim estavam juntos.

O amor conseguiu ultrapassar todas as fronteiras...

Belém, 31/12/01 – 02:20

Angela Pastana
Enviado por Angela Pastana em 13/12/2009
Código do texto: T1975784
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