A Moça do Crochê

Desde que se dava por gente, Laurita sabia que a dança era uma das coisas mais prazerosas da vida, mas, pela idade jovem, ela não podia sair para se aventurar pelos luxuosos, brilhantes e animados bailes que a cidade oferecia.

Somente podia sonhá-los. E nesses sonhos toda a sua animação era o grande destaque da noite. Fossem onde fossem, ela era a rainha de todos eles.

Porém, infelizmente, tudo não podia passar de sonhos. De terça a domingo, pela manhã, ela ajudava a mãe na feira, vendendo artigos de crochê — de belas toalhinhas a charmosos vestidos — com intenção de vida melhor. Durante a tarde estudava e, quando não exercia essas outras atividades, Laurita cuidava da casa junto com a mãe.

Já durante a noite (ah, a noite!), quando devia descansar, Laurita sonhava... E foi seguindo esses sonhos que, ao completar 19 anos, desistiu de ser a garotinha comportada e produziu um belíssimo vestido de crochê para si mesma, desejando ser a mais bela: uma amiga a havia chamado para dançar.

Quando a grande noite chegou, Laurita pôs-se debaixo da coberta mais cedo e, enquanto todos já dormiam, foi ao banheiro, arrumou-se toda, colocou o lindo vestido que adaptou-se maravilhosamente bem em seu corpo formoso e, no pé ante pé mais sorrateiro de sua vida, pulou a janela. Finalmente, a tão sonhada liberdade dos bailes luxuosos...

Foi a noite mais espetacular que poderia imaginar: dançou como nunca, comeu como nunca, bebeu como nunca... Foi a dançarina mais perfeita da noite e todos reconheceram isso. Voltou à casa correndo quando já estava quase amanhecendo. Com o costume de sua família de acordar sempre cedo para a feira, ela devia estar atrasada. Mas, para sua surpresa, quando chegou, todos dormiam. Entrou num silêncio de gato e fingiu um sono profundo que se transformaria em verdade, não fosse sua mãe que adentrasse o quarto aos berros para acordar as filhas para a feira logo cedo.

Na noite seguinte, a mesma amiga que a havia chamado anteriormente, chamou-a sem pensar duas vezes: um rapaz ficara interessado nela ao vê-la bailar. Ela animara tanto a todos que ele resolveu chamá-la para animar sua festa de aniversário. E assim surgiu a fama dela pela cidade: ela sabia dançar como niguém e todo mundo se animava com seus passos empolgantes e inovadores e a chamavam para empolgar os convidados em suas festas.

O rapaz se interessou por ela e passou a procurá-la pela cidade, pois ela não revelava a ninguém seu nome nem qualquer informação pessoal, porque tinha medo que sua família descobrisse, e sua amiga mantinha sigilo absoluto. A única coisa que sabiam era que ela usava sempre deslumbrantes vestidos de crochê. Foi assim, também, que ficou conhecida como A Moça de Crochê. O moço procurava como um desvairado por ela, ficando, sempre que a encontrava, mais apaixonado.

Numa bela terça de manhã, a amiga de Laurita, pressionada pelo rapaz, deu uma dica: A Moça do Crochê vandia artigos semelhantes ao vestido na feira da cidade. Horas depois, o moço pedia Laurita em casamento na feira (depois de consultar sua mãe e decidir fazer uma surpresa). Ela, com medo, recusou, mas, à noite, em um novo baile, o moço a pediu em casamento na frente de todo mundo.

Laurita, que já nutria certa atração por ele, decidiu, enfim, aceitar. Os dois se casaram e Laurita, junto com seu amante, animou o casamento como nunca ninguém havia feito antes.

Tiaggio
Enviado por Tiaggio em 23/01/2010
Reeditado em 20/07/2010
Código do texto: T2045922
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.