Amizade Chuvosa (Parte 1)

Caía em Caxias uma chuva de verão, que alagava as ruas,remetia o tráfego ao engarrafamento, os bares e as lojas todas com água, alguns comerciantes fechavam as portas, porém havia uma pessoa muito feliz, não por essa situação, tudo porque havia nascido o seu sobrinho, esse era um rapaz solitário com poucas amizades,mas nesse dia ele estava muito feliz, ele se chamava Júlio César, e de livre e espontânea vontade quis molhar os seus sapatos recém comprados e toda sua roupa e seu corpo inteiro.

Mas o nível d’água aumentava já passava os seus joelhos,e então numa casa, sem muro, onde as plantas invadiam cada canto dessa abandonada beirando a rua, ele buscou refúgio, vendo bem próximo a rua que alagava cada vez mais e as coisas que a correnteza levava ou trazia, e dessas mesmas águas barrentas ele notou uma mochila que estava sendo levada pela água junto de galho de amêndoas. Júlio rapidamente conseguiu pegar a mochila, abrindo ele notou um caderno cor de rosa ainda novo, todo cheio de purpurina, reparou que era de uma menina lendo o nome que nele estava escrito, minuciosamente Júlio lia o cadernos quando ouviu um grito.Surgiu então uma menina com a água já no pescoço pedindo ajuda e desesperada.Com o mesmo galho de amêndoa júlio jogou para a menina nele se agarrar, mas não foi o suficiente para salvá-la, então ele não teve alternativas teve que entrar na água e puxar a menina trazendo até o refúgio da velha casa e indignada ela falava:

_ Que droga, bela estréia!

_ Você está bem?

_ To molhada, não te me vendo, você é cego?

_ E enxergo sim, mas certas pessoas que não vê a quem lhe deu ajuda sem ao menos dizer obrigado.

_ Mas você além de enxergar,não poderia notar a minha revolta, estou toda molhada eu odeio me molhar ainda mais por essa água de esgoto.

_ Não seja por isso, eu estava alegre e tomei banho de roupa manchando toda a minha roupa e os meus novos sapatos de camurça.

_ Você é louco?

_ Depois votei e te salvei me molhei, e estou mais feliz ainda.

_ Por que tal felicidade, perdeu a virgindade?

_ Não meu sobrinho nasceu.

_ Nossa, meus parabéns! Desculpe a minha grosseria, você nem merecia isso, se foi você que me salvou, desculpe-me mais uma vez.

_ Está bem! Você se chama Silvana?

_ Me chamo sim, como você sabe?

_ Acho que esse caderno é seu

_ Ah! Muito obrigado.Pode deixar que eu não vou dar mais nenhum ataque.

_ Você aprende rápido.

_ Isso sempre acontece com você?

_ Salvar cadernos escolares? Não só quando requisitado. – ironizou Júlio

_ Eu falo das piadas que o pessoal da escola faz com você.

_ Como você sabe, alguém te contou?

_ Eu vi.

_ Quando?

_ Hoje no nosso primeiro dia de aula, vi quando você chegou atrasado e se sentou lá na primeira cadeira.

_ É sempre assim.

_ E você aceita?

_ Mas eu sou lerdo mesmo!

_Mas você é um cara que sabe se expressar, é uma pessoa como qualquer outra isso ta errado, isso precisa mudar.

Chovia sem cessar, relâmpagos e raios amedrontavam as crianças que choravam e abraçavam seus pais, um ônibus que por ali passava quase molhou os dois novos amigos que trocavam palavras e se conheciam e quando perceberam já era noite e de dentro da casa saiu um filhote de gato, procurando comida, Silvana com pena do pobre filhote indefeso pegou-o e pôs enrolada em seu casaco, o colocando na mochila.

_ Cara como anoiteceu de pressa!

_ Tenho que ir logo, senão meu pai me mata, chegando em casa darei leite a ele, está todo molhado.

_ Quer que eu te leve em casa, onde você mora?

_ Moro na cinco, e você?

_ Perto do hospital

_ Então vamos, aproveito e pego uma camisa do meu pai e você troca essa camisa molhada.

_ Tá certo.

E assim foi o início de uma amizade, sendo que na aula do dia seguinte Silva chegou à classe com seu ar hippie, com suas roupas leves, os cabelos soltos e toda cheia de cor, assistiu a primeira aula de matemática, muito tempo se passou quando Júlio, como sempre chegando atrasado e sentou ao lado dela. A professora foi chamada por um instante, então um outro aluno marrento deu um tapa na nuca do Júlio, todos os outros alunos começaram a rir e fazer piada, tomada de um impulso raivoso Silvana levantou-se de sua cadeira enfrentou toda aquela algazarra e mandou que todos se calassem chamando o rapaz que deu o tapa no Júlio de idiota:

_ Seus animais, que graça há nisso.

_ Quem você pensa que é, chegando agora na escola e já quer mandar na gente.Esse

cara é um idiota! Se eu quiser dou um tapa na cara dele.

_ Se for bater nele, irá ter que bater em mim primeiro. –respondeu Silvana

_ Olha la a novata! Sabe com quem você está falando?

_ E você seu idiota, sabe quem sou eu, sabe de onde eu vir, sabe o que eu posso fazer com a sua vida seu verme, quer pagar pra ver?

Desconhecendo quem era a tal menina, o tal aluno foi saindo como um cão amedrontado e se calou. Júlio por sua vez saiu correndo da classe, assustada pela sua reação Silvana saiu atrás do seu amigo, antes falou a todos da classe:

_Que isso sirva pra todos vocês! Estamos entendidos? Acho bom que sim!

Silvana procurou Júlio por toda a escola, depois de alguns minutos o encontrou nos fundos da escola sentado num canto e chorando muito.

Por ser mais velha que Júlio, ela sabia muito bem o que o seu amigo estava sentindo e sabia o sentido de cada lágrima que descia dos seus olhos. Nunca teve ninguém, todo o colégio o excluía, até a sua chegada, ela era a amiga que ele nunca teve na sua vida, e ela por gostar muito dele o acolheu em seus braços, como um filhote indefeso:

_ Nós não podemos agradar a gregos e troianos,somente algumas pessoas que estamos pré destinados a conhecer, por isso elas são tão especiais.

Deu-lhe um abraço carinhoso e assim foi por muito tempo, trocavam cd’s, saiam juntos, bebiam juntos, foram ao rock in rio, quando Silvana fez dezoito anos ele sacou toda a sua poupança e comprou uma guitarra rosa pra ela, quem via de fora pensava que eram um casal de namorados, inclusive o pai de Silvana, o olhava com outros olhos e se preocupava quando viajava, mas no entanto, era a mais pura amizade.

Certa noite Júlio estava insone, quando já de madrugada toca o seu telefone, era Silvana falando que estava com febre, e muita gripe, sem saber o que fazer, pois seus pais estavam viajando.

Júlio encarou chuva, madrugada, e o frio que fazia, separou alguns medicamentos e foi correndo até a casa de sua amiga, lá chegando pulou o muro, escalou as paredes até chegar a janela dela. Se deparou com Silvana em cima da cama de camisola e sem nenhum problema e ao olhar para o seu amigo desesperadamente assustado ela disse:

_ Sabia que você viria!

E aí secou todo o corpo do seu amigo, preparou lhe um chá, enquanto ele tremia no sofá já agasalhado, um abraço apertado para conter o frio e começou até ensaiar uma musiquinha de ninar, então ela se pôs no mesmo lugar de Júlio quando excluído na escola, viu que com ele ela não estava sozinha, mas não era um amor de irmão, era uma amizade muito forte, que transcendia as outras amizades.Como um ímã, Silvana tocou os lábios do seu amigo, que tomou um susto, mas automaticamente fechou os olhos e continuou a beijar, aos poucos as roupas iam saindo do corpo, naquele canto da sala da noite chuvosa, por ser muito íntima de Silvana o carinho acontecia automaticamente assim como todo o resto das carícias, e assim foi por toda noite como se fosse um agasalho recíproco, feito à pele e fogo contido nos seus corpos. E como os pais de Silvana estavam fora e ela se sentia muito sozinha, Júlio passou todo o tempo com ela na sua casa.

Edilson Alencar
Enviado por Edilson Alencar em 01/06/2010
Código do texto: T2294362
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.