Morrerei Por Amor

Era tão pálida!Dormia embebida pela luz do luar , como se fosse líquido derramado pelo corpo frio, sem vida. Tão bela!

Por noites afora, vaguei a mercê da sorte pelas ruas de São Paulo procurando-a, tentando sentir seu perfume, gritando seu nome, em vão.

Seria ela mais uma vítima, dessa minha sede insana de sangue? Meus instintos carnais à flor da pele, teriam causado tamanho sofrimento à doce criatura do mundo desconhecido das ruas?

Antes fora meretriz, agora minha amada, minha doce amada!

Por que tudo que eu toco adoece? Por que tudo que eu amo morre?Aquela última gota de sangue, por que, Deus, por que eu a tomei?

Não sinto mais o calor em seus lábios, há um tempo tão rubros, tão doces, tão cálidos. O que eu fiz ?

Maldita imortalidade!Preferia a morte, preferia que os vermes devorassem minha carne assim como eu o fiz com seus seios pequeninos, sua face divina, angelical.

O que eu fiz? Por que o fiz?

Por tantas vezes tentei avisá-la, de que eu não era assim tão bom quanto ela figurava-me, eu não era, eu não sou!

Não consigo nem ao menos soltar meu pranto, uma vez que meu coração não mais bate, e minha’alma não mais vive. Apenas essa matéria inútil ficou , de todos os desgostos que enfrentei por tanto tempo.

Quando por fim consigo amar, sentir, quase por um minuto cheguei a ouvir um batimento do meu gélido coração no meu peito arfando, contorcido de prazer. Vil prazer !

Andei por horas, mas não encontrei uma razão para alegrar-me. Nem as virgens mais belas curariam essa culpa.

Werther não sofreu tanto quanto eu sofro agora!

Levaram o corpo de minha amada para longe. A última vez que a vi estava nua sobre o túmulo, com os olhos arregalados e os lábios entreabertos.

Desde então nada mais me sacia! Nada!Nem mesmo a escuridão me conforta.

Quando eu a vi pela primeira vez estava embebedando-se em com as outras, ria-se alto, mostrava os seios por debaixo do vestido.

-Você vem? –perguntou-me ao ver que estava encarando-a demasiadamente.

- Vou, se me prometeres que serás só minha!

Gargalhou escandalosa.

- Você fala esquisito, como se não fosse deste mundo. Quanto dinheiro você tem aí?

- O bastante para que aceites a minha exigência!

Cedi-lhe o braço e a conduzi até a minha casa.

- Estou vendo que não é só o seu jeito de falar que é estranho. Sua casa parece mais um cemitério. Por que nunca te vi por aqui, homem?

-Deveras, minha cara! Porém sou da noite, moça bela! Não me verás com frequência, somente quando quiseres.

E naquela noite fizemos amor, nunca esquecerei seu toque, sua face alegre, tão alegre quanto a minha.

- Você me ama como se eu fosse pura! Faz com que eu me sinta alguém de verdade e não um pedaço de carne como as outras.

-Qual dizer? Tu és alguém, as outras é que são ninguém a meu ver! Fecho os olhos e só consigo ver-te assim, como estás agora, semblante tranqüilo, nua, minha.

Deus! Por que não consigo olvidar essa dor? Pensar nela é uma doce tortura!

- O que está acontecendo? Percebi que você não me procura mais.

-Cale-se! Não estou passando bem.

-Sei, sei! É outra mulher não é? Alguma outra vagabunda que deve gostar mais dessas suas “esquisitices” do que eu!

- Já disse para calar-se! – gritei e ela se encolheu. Tão miúda ela era que pensei que fosse evanescer.

Foi embora e deixou-me só, com sede de sangue. Por que ? Por que não fiquei quieto em casa com meus pensamentos descontrolados?

Entrei no quarto dela, despi-a e a força enquanto abafava seus gritos com o travesseiro, tomei posse de seu corpo. Quando estava desacordada vi seu pescoço pálido à mostra. Tentei resistir. Tarde demais, quando dei por mim o gosto doce de sua carne estava impregnado em meus lábios.

“Dor vá-se embora! Eu não suportarei nem mais um resquício de ti!”

Espera meu amor, espera que quando o Sol aparecer eu estarei contigo, por onde quer que vague, eu estarei lá! Morrerei por ti, morrerei por mim, morrerei por amor.

Gabriella Ramos
Enviado por Gabriella Ramos em 04/06/2010
Código do texto: T2299864
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.