Conto ao dia dos namorados

- Vamos ao cinema?

Isso já se tornou comum entre amigos e até casais. Algo, que quando surgiu era novidade, virou rotina. E o que há de tão especial, já que é algo contínuo? Geralmente as pessoas usam isso com um certo interesse. Pode ser afeto, muita amizade, reunião de bandas, ou até encontro e possíveis discursões de casais. Por isso, tenho que desabafar com você, caro Uni. Falo, não apenas pelos erros que cometi, mas pelos bons momentos que passei com um certo alguém. Não leve pelo lado pessoal, estou, pois, contando-lhe algo que segura minha garganta e prende meu peito por alguns anos.

Vejo entre as paredes, figuras que me mostram alegria e esperança. Abro aquele sorriso, como se estivesse livre de todos os problemas. Livre até das armadilhas que a vida nos impõe. Se tudo fosse tão simples Uni, seria então um Cavaleiro Templário, servindo a essa pessoa satisfazendo todas as vontades dela, e encarando todos os desafios para me tornar um cara digno de dizer: “Sou um homem contemplado de ser o único na vida dessa pessoa.” E você me pergunta: “E o que está faltando?”, e eu te respondo: “Falta o cavalo certo para que eu possa virar um cavaleiro honrado.”

Uni, se eu te contar que eu sinto a presença dela a todo o momento! Vai pensar que é doença ou até loucura, mas não. O cheiro dela impregnou em meu aparelho olfativo, chegando ao ponto de ter alucinações. Ouço aquela voz suave, fazendo meu tímpano vibrar com emoção. Emoção é o que não falta quando a vejo, mesmo que seja por alguns segundos. Meu coração parece até querer sair pelo peito, de tanta intensidade que bate. Meu corpo treme, como se estivesse com frio, porém fazendo um calor de 40ºC.

Desculpe-me se uso termos inadequados para este fim: um simples desabafo. Mas é preciso fazer comparações com os desafios que a vida nos propicia. Ao mesmo tempo que ela me fortalece, ela também é minha fraqueza. E o principal problema, não é só restrito a mim, mas é geral: reconhecer nossos erros. A partir do momento que os reconhecemos, amadurecemos nossos corpos e nossas mentes.

Talvez eu até tenha cometido um erro gravíssimo. Declarar-me antes do tempo se tornou um problema, que só tem uma maneira de ser resolvido. Contudo, não é algo que depende apenas de um lado, e sim dos dois.

Então meu caro Uni, tenho uma coisa a te contar antes do desfecho desse desabafo. Perdoe-me se tomei muito do seu tempo. Mas foi preciso, antes que eu pirasse. Fiz coisas que, eu acho (tenho quase certeza), que ninguém teria coragem de fazer 10%. E fui esquecido pelos rumores do tempo, me isolando do mundo exterior e conversando com meu mundo interior. Jamais esquecerei, sem imaginar características amenas dos meus sonhos. Contudo, quando pensava que tudo estava perdido, veio uma luz no fim daquele túneo infindável. Meu corpo entrou em êxtase, sem perceber que não existia somente eu nesse mundo. Então fiz mais uma investida, com a esperança de um sim. Porém mais uma vez, o tempo ganhou e está sendo decisivo nesse momento de indecisão. Insônia e depressão, são apenas sintomas de alguém que correu (e ainda corre) atrás e é parcialmente esquecido. É nesse momento que dá vontade de sumir, beber, fazer loucuras que só eu sei. Mas isso não a trará para mim. Só destruirá minha vida, que sem ela se torna pacata.

Vejo-me no espelho para saber se estou cego para não enxergar novas vitórias. “Esse é o momento de se reerguer-me”, pensei em alto e bom tom. Procurei um lugar para poder por as idéias no lugar. Fui a um abismo, ver as ondas batendo naquele enorme paredão e o vento passando pelo meu corpo. Sentei sobre uma pedra e comecei a por tudo no lugar. Chorei, cantei, gritei, calei e caminhei. Até que ouvi uma voz dizendo: “Ei!” Era a voz dela. Permaneci de costas e em silêncio. Ela veio em minha direção e disse:

- Não é o local adequado para isso mas...

Ela pôs a mão em meu ombro e me abraçou. Viu meu estado, enxugou minhas lágrimas e disse:

- A esperança é a última que morre.

Ergui minha cabeça. Fiquei surpreso. O abismo se transformara em altar.

Everaldo Lucas

12/06/2010

Everaldo Lucas
Enviado por Everaldo Lucas em 13/06/2010
Reeditado em 30/04/2020
Código do texto: T2317920
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