Será a existência um sonho, ou um sonho de existência?

Naquela noite estava na praia, contemplava o mar. Os astros refletiam-se na água que ondulava, brilhando tanto que construíam um novo universo, mais imaculado, mais brando.

Embalada pelo som das ondas a embater nas rochas, não te escutei pôr-se mais próximo. O teu cheiro não se percebeu, por estar amalgamado naquela corrente de ar com cheiro a vida, que muito simpatizo na praia. O odor a areia, a sal, a mar. Cheiro a descobertas e tormentos, noites mal dormidas e instantes aprazíveis, muito agradáveis.

Dei por ti no momento em que, com um tom muito baixo, me chamaste à atenção. Só podias ser tu.

"Amor, cheguei...", pronunciavas-me, enquanto movias suavemente as pontas dos teus dedos desde a parte de trás da minha nuca até ao fim das costas.

A sensação da tua pele eriçou-me, mas sabia bem, matou as saudades (apesar de me dar ainda mais vontade de as extinguir totalmente, afligindo-as pouco a pouco pela noite afora).

Dirigi-me para ti, lentamente.

Esboçaste aquele sorriso que amo, que me corta a respiração, e contemplaste-me com o mesmo olhar provocante que já sabia de tempos atrás.

Fui prontamente atraída pelos abismos da violação, do desregramento, da sensualidade.

Ao longe espalhava-se uma canção, baixinho. A nossa música.

Provocaste-me de modo silencioso.

Agarraste a minha cintura e puxaste-me de maneira lenta em oposição a ti.

O teu toque, o teu corpo, foram como um ímã. Não pude distanciar-me, o coração não batia de cada vez que voltava a permanecer mais do que um milímetro longe do teu.

A tua mão direita agarrou a minha e, com a lua cheia acima de nós, bailamos horas e horas seguidas, descalços na areia, junto ao mar que era unicamente nosso.

Contemplamos o nascer do sol, unidos.

Era apenas essa tênue luz, do início da manhã, que nos clareava no momento em que decidiste que estava no instante correto.

Puxaste-me mais para ti e fizeste-me precipitar em cima dos teus braços, como numa daquelas danças que vimos nos filmes, de maneira a terminar a dança que já não se fazia acompanhar pela música de uma das residências localizadas nas encostas da praia. A melodia agora estava em nós, esculpida na lembrança.

Com o teu corpo em cima do meu, a tua mão na minha coxa, aproximaste a tua face da minha. Ainda mais.

Percorreste com os teus lábios gélidos cada centímetro de pele entre o meu pescoço e os meus lábios. Prosseguiste na linha do meu maxilar, mordeste-me a orelha suavemente no momento em que não estava à expectativa.

Pensei que nunca mais saberia viver sem ti, após aquela noite, da profundidade da química que nos unia, da paixão em chamas que experimentávamos.

"Está na hora de nos despedirmos", disseste, por fim, expressando os vocábulos que eu desejava acima de tudo que jamais tivessem aparecido.

Tinha conhecimento de que aquela noite tinha sido um adeus. Tinha sido a última fantasia verdadeira. Sentíramos a magia do último instante.

Voltei a olhar o mar, controlava as lágrimas que teimavam em querer escorregar pela minha face.

Encostaste-te a mim, tocaste nos meus ombros permitindo as tuas mãos descerem até tocarem de novo nas minhas.

"Adeus meu anjo, minha vida, meu tudo", foram os teus derradeiros vocábulos.

Despertei horas mais tarde, só, na tua cama.

Ao meu lado, uma área vazia, os lençóis mexidos. Uma frase e um lírio vermelho, a minha flor predileta.

"Grato pela noite, tanto por esta como por todas as outras. És tudo o que eu sempre desejei."

Como estava na tua cama, talvez jamais permitiremos os outros saberem.

Deixamos a intenção de que possa ter sido mais uma fantasia. Flashes da minha mente.

Ou então... Talvez o que mais queremos se torne concreto. Quiçá te tenha para sempre.

Quiçá já te tivesse.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 23/06/2010
Código do texto: T2336614
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