Este conto é um resumo do capítulo “Catharine” do meu romance “Vida de Minhas Vidas”.
 






Catharine.
 
Roberto Rodrigues Veras era um homem muito bem preparado, de físico bastante desenvolvido, cabelos castanhos escuros, pele alva e olhos castanhos bem claros. Havia se formado em medicina e namorava uma linda moça, Maria Luiza, que as suas famílias desejam bastante que se casassem. Mas o destino guardava uma surpresa para este romance.
Daqui por diante, relato este conto na primeira pessoa como sendo Roberto.



 
 
Catharine


 
 
Salvador - BA–1885.
 

Eu morava com meus pais e aos 28 anos continuava solteiro, mas preparava-me para casar-me dentro de alguns anos.
Uma tarde, quando retornava do hospital, pela janela da carruagem vi uma linda moça sentada diante do portão de minha casa. Deveria ter no máximo 15 anos. 
Poderia ter entrado em casa, mas senti vontade de saber o que ela fazia ali sentada perto do portão. Vire-me para o cocheiro e pedi que fosse até ela e se informasse. Não demorou e ele retornou com a resposta.
- Quer emprego. Diz está com fome e não tem para onde ir. 
- Qual seu nome?
- Disse chamar-se Catharine. Frisou bem que era com “C” me não com “K”.
Senti algo estranho quando o cocheiro pronunciou aquele nome. Parecia conhecê-la, como uma lembrança distante.
- Faça o seguinte, Francisco. Mande-a entrar e a leve pelos fundos para a cozinha e diga para Madalena que lhe dê comida. Vou falar com minha mãe e ver o que poderemos fazer por esta moça.
Fui falar com minha mãe e ela estranhando minha atitude levantou-se mostrando-se contrariada.
- Deveria antes ter falado comigo e mandaria alimentos para esta moça sem a necessidade de trazê-la para dentro de casa. Vamos lá ver esta sua protegida.
Já sabia que mamãe iria dar-lhe emprego. Conhecia bem dona Francisca. 
Eu estava certo. Quando mamãe viu Catharine senti de imediato que simpatizou com ela. Aproximou-se e perguntou:
- De onde você é minha filha?
Catharine estava comendo. Arregalou seus lindos olhos, levantou-se e de olhos baixos respondeu:
- Nós viemos de Aracaju para trabalhar na fazenda do Sr. Zé Mangueira. Nos fez de escravos e eu fugi. Há dois dias não como nada...
- Coitados! Pois pode continuar a comer e vai ficar abrigada aqui na minha casa.
Olhando para mim comentou:
- Este Zé Mangueira é terrível. Para ele não importa se é negro ou branco, escraviza qualquer um.
Mamãe fez sinal para Madalena e as duas saíram da cozinha. Fiquei ali de pé diante daquela moça olhando os detalhes de sua beleza. Tinha longos cabelos negros e uma pele morena com olhos castanhos bem escuros e puxados nos cantos sobressaindo naquele rosto angelical, que se completava com lábios carnudos. Seus seios eram pequenos, mas bem feitos. Senti-me atraído por Catharine. Havia algo nela que me atraia bastante.
Ela continuou a comer e vez por outra olhava-me sorrateiramente. Não demorou e mamãe acompanhada de Madalena, voltaram trazendo algumas peças de roupas e as entregaram a Catharine. 
- Pegue estas roupas. Agora são suas e depois providenciarei mais algumas. Madalena lhe mostrará seus aposentos.

Em poucos dias Catharine já dominava tudo dos trabalhos de nossa casa. Fazia questão para agradar a todos da casa e guardava no mais absoluto silêncio o amor que sentia por mim. Não me atreveria tocá-la, mas a desejava.
Dois anos decorridos e chegou o dia do meu casamento com Maria Luiza. Para Catharine foi uma enorme dor compartilhar daquela festa. Porém, mantivera firme seu amor. Na véspera, havia lhe dito que iria morar em minha nova casa quando voltasse da lua de mel.
Sentiu estas palavras como sendo uma esperança, e eu estava mesmo dando-lhe estas esperanças. Ela sabia que jamais iria aceitá-la como minha mulher, mas mesmo assim se entregaria, se eu a quisesse. Havia entre nós um colóquio mudo de amor.
Após 6 meses, Catharine vivendo em nossa casa, nos servia com toda dedicação. Sabia separar bem seus sentimentos de suas obrigações, e logo agora que Maria Luiza estava grávida e dependia mais dela, não media esforços para ajudar no que fosse possível. 
Numa noite de muita chuva e trovões, Maria Luiza havia saído para visitar os pais e diante do forte temporal, resolvera não correr riscos e decidiu passar aquela noite na casa dos pais. 
Quando Catharine estava quase dormindo, viu a porta de seu quarto abrir e segurando um candeeiro no umbral da porta ali estava eu pronto para viver uma paixão que por quase três anos mantive retida.
Catharine ao ver-me compreendera então que finalmente aquela seria a sua tão esperada noite.
Aproximei-me e fui sentar-me na beira de sua cama. Debrucei-me sobre seu rosto e a beijei. Ela nunca havia sido beijada antes e a emoção que sentiu parecia fazê-la flutuar acima do colchão. Minhas mãos acariciaram seus seios. Levei a boca a seus ouvidos e falei-lhe baixinho:
- Perdoa-me, mas não podia mais esperar para dizer que o quanto te amo.
Ela colocou a mão em minha boca e respondeu:
- Não fale nada. Não quero saber de nada, quero apenas que me ame e me faça feliz esta noite. Amo-te mais que minha própria vida.
Deitei-me ao seu lado e a possui. Amei tudo que vivi e a noite inteira nos amamos.
Catharine chova em silêncio de tanta felicidade vivendo a realização de seus sonhos. Eu acariciava seu rosto e não parava de beija-la. Sentia que meu amor vinha de dentro de mim, vinha de minha alma.
Sempre fugia durante a madrugada para deitar-me com Catharine, que matava toda a minha fome de prazer.
Quatro meses mais tarde, Maria Luiza ao dá a luz e tem sérias complicações no parto. Sente que não vai resistir e pede que chamem Catharine. Durante a gravidez, tornaram-se mais amigas e confidentes.  
Na minha frente e dos seus pais ela diz:
- Minha fiel Catharine, quero te confiar minha filha. Cuida dela como se fosse tua e cuide de Roberto como se fosse eu. Eu sei que tu o amas tanto quanto eu. Faça com que eles sejam felizes.
Foram suas ultimas palavras.
Catharine deixa cair algumas lágrimas e tenta dizer que não havia sido fiel como Maria Luiza imaginava, mas já era tarde.

  
  
  






Nota:
No romance, Roberto e Catharine
 vivem um romance não declarodo. Trocam olhares e palavras que são verdadeiras declarações de amor. Outras situações até seu casamento acontecer, inclusive a simpatia e amizade entre ela e Maria Luiza. 

Durante o periodo que Catharine vive junto ao casal, Maria Luiza sente que Roberto e Katarina se amam, mas não impede que este amor contimue a existrir. Ela sente que não viverá após o parto e por amar tanto o marido, aceita que este amor continue e se concretize após sua morte.

Roberto vive 10 anos ao lado de Catharine, e morre em consequencia de uma infecção, após ter sofrido um acidente. Antes de morrer, Roberto diz a Catharine que nunca a esquecerá, e que desajaria voltar a vida para poder novamente viver este grande amor.




  

 
Carlos Neves
Enviado por Carlos Neves em 06/07/2010
Reeditado em 30/03/2016
Código do texto: T2360877
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.