Desencontros III - A traição

- Traidor! Isso é o que ele é!

- Calma.

-Calma?! Como? Por quê? Nós sempre estivemos juntos. E a nossa viagem? E o nosso pacto? Ele quebrou! Ele me traiu!

Ninguém conseguia acalmá-la. Estava desesperada, inconformada. Na verdade, ela e o marido eram o que se podia chamar de casal perfeito. Invejados por todos. Queridos por todos. Estavam casados há 25 anos. Desde então, mantinham um ritual de voltarem à cidade da lua de mel, ficarem no mesmo hotel e renovarem os votos de fidelidade eterna.

É claro que muita coisa aconteceu durante esses anos. Tiveram filhos. Mudaram várias vezes de endereço por circunstâncias diversas. Ela já foi morena, ruiva, castanha, loira em vários tons. Ele engordou e emagreceu uma dezena de vezes. Brigaram sim. Quando compraram o primeiro carro. Ela queria outra cor. A escolha dos móveis da casa também foi responsável por brigas entre eles. E os filhos? Nossa! Como brigaram por causa dos filhos. Mas na hora da decisão sempre decidiam estar juntos. Amavam-se e ponto final. Ninguém esperaria vê-los separados.

O constrangimento era geral. Os amigos, os filhos... O que dizer? Ela não os ouvia.

- Traidor! Miserável! O que eu vou fazer agora?

- Tenha paciência... isso tudo vai passar.

- Não. Não vai. Eu o avisei. Pedi a ele que se cuidasse...

- Homem é assim mesmo. Não pensa muito nas consequências.

- Ele não pensou em mim.O que eu vou fazer agora?

Não havia resposta. A indignação dela entristecia, cortava o coração de todos.

Impassível diante da cena, o marido vestido num terno preto, jazia no centro da sala, vítima de um infarto fulminante.

Quebrara o pacto. Deixara-a no meio do caminho.

VALERIA DA SILVA
Enviado por VALERIA DA SILVA em 11/07/2010
Reeditado em 18/06/2021
Código do texto: T2372076
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