Menino Adam,

Quando eu era criança apenas, já acreditava em tudo o que está acontecendo hoje comigo.

Eu sempre quis a vida que eu tenho.

Quis quieto.

E quis muito.

Agora sinto a criança morrendo.

Ela dói um pouco a sair. Morre bela, como sempre foi.

Uma linda criança.

Um menino incrível.

Subia em árvore, falava sozinho, pichava muro, brincava com fogo, passava baton escondido, espantava pombas, caçava grilos, passava trote por telefone.

Tremia quando fazia um amigo novo ou amiga nova. Se apaixonava perdidamente e imediatamente, gostava de brincar com eles de cada coisa esquisita...

Entrar em casa abandonada, subir em telhado, tirar fotos idiotas, fazer vídeos toscos, dançar e cantar Roxette, beijar na boca, explorar o corpo um do outro, tomar banho junto, ou ficar só assistindo.

Ir em lugares perigosos de madrugada atrás de, enfim, certas coisas, colocar o dedo na cara deles e ficar falando um monte de coisas até o amigo chorar, ou o contrário, ou as duas coisas ao mesmo tempo, depois brincava de abraçar bem forte e dizer que amava pra sempre do fundo do coração, e depois chorava de novo, principalmente quando brincava de dizer tchau, às vezes adeus, às vezes pra sempre.

Essa criança em meus braços, morta, está queimada de sol, com um sorrisinho de canto de boca, de quem está dormindo gostoso, e sonhando o seu mais gostoso sonho.

De onde estou, os inocentes do Leblon, que não sabem de você, acompanham meu caminhar até a beira da praia.

Espero por uma bela onda e lhe entrego, meu menino, para seu lugar preferido: o mar.

Agora vai da maneira que tiver que ir, que eu aqui agora farei o mesmo, porém em terra firme.

Pode ir porque este homem que aqui ficou, forte, bonito, inteligente, corajoso e com muito Amor no coração, vai continuar fazendo exatamente o que você fazia antes, meu menino: este homem é igualzinho a você, o tamanho da roupa e dos sapatos é que não são os mesmos. Nem o do pipi.

Vai, que este homem agora descobriu seus poderes ocultos, e que uma vez revelados, revelou-se também sua missão.

A brincadeira agora chama-se abraçar: desafios, amores e causas.

Causas que sempre foram suas, e agora são minhas.

Por causa disso tudo,

Ele, Homem.

***********************************

Fala, Pacato!

Meu irmão, aqui é o gato Guerreiro, traquilidade? Pô, maneiro. Então, tenho umas paradas pra falar pra tu. Precisa ficar com medo não, maluco, que eu sou da paz, então ta relax.

É que o barato ficou loko, sacolé? Daqui por diante tu tem super poderes pra ajudar teu parceiro nas encrencas que ele vai se meter daqui pra frente, sacou?

Tu vai começar a perceber também, maluco, que teu shape vai dar uma valorizada no pedaço...

Quando tu tiver andando, tipo na praia, e tu ouvir alguém assoviando e dizendo: Gatão!, pode ter certeza, é contigo.

E já fica esperto que vai pintar de tudo querendo levar esse gatão pra casa: gata, gatinho, outros gatões também, e não se assuste se umas coroas pintarem também, todas trabalhadas na ousadia. É que “gata velha também mia”, sacô? Ahuauhahuahu Eu sou foda!

Aí fica a seu critério o tipo de presa que tu vai querer levar pro abate. Vai vivendo tua vida só na maciota, porque quando teu brother lá precisar de tu, ele vai levantar a espada dele, dizer que é o cara mais forte do pedaço e vai perguntar, com uma voz cheia de marra: PACATO, CADÊ TU, MEIRMÃO?

É nessa hora que eu assumo a dianteira:

-PACATO É O CARALHO! MEU NOME AGORA É GATO GUERREIRO, PORRA!