QUANDO ME DEI CONTA...

QUANDO ME DEI CONTA...

Flavio MPinto

Um belo dia...a encontrei.

Saímos a caminhar pelo centro histórico olhando pessoas, automóveis, vitrines. Entramos e saímos de lojas, ruas, escadas, elevadores, galerias, shoppings.

De braços, ela com a mão dentro do bolso de meu sobretudo por causa do frio, passeávamos sem maiores preocupações. Conversávamos, nos entendíamos.

Deu vontade e entramos num café.

Quando me dei conta a beijava, quase debruçado sobre a mesinha do café. Sentia sua reciprocidade num par de lábios doces e suaves. Suas mãos nervosas procuravam as minhas e quando encontraram nos entrelaçamos ante as xícaras de capuccino vazias.

Não queria que o momento acabasse. Ali estavam anos e anos de amizade fraterna e não desejava fazê-la ruir por uma atitude inconseqüente. Ávidos um pelo outro era o sentimento latente.

Passei a mão nos seus cabelos escorridos e com as costas da mão direita acariciei sua orelha e face, quando ela inclinou-se para o lado numa meiga atitude. Olhos nos olhos nem sentia o tempo passar. Uma eternidade.

Não podia dizer que a queria a tanto tempo. Temia sua reação negativa. Tinha de ser assim.

Levantamos e fomos parar defronte ao chafariz da praça e não nos demos conta que uma chuva fina, da água trazida da fonte pelo vento suave, vinha na nossa direção molhando os rostos felizes.

A protegi colocando-a na minha frente e a enlaçando. Continuamos a caminhar na direção do porto para apreciar o belo Pôr-do-sol que se avizinhava.

Por um instante, contemplamos o Sol que descia para seu descanso na lâmina dágua do Guaíba apresentando um espetáculo único. Do pequeno coreto de metal cinza trabalhado onde buscáramos refúgio, podíamos ouvir fantasmas de antigas canções e marchinhas tocadas por conjuntos musicais e bandinhas antigas. Um ambiente que nos remetia a tempos que não vivêramos, mas gostaríamos de haver estado lá.

O sol encerrava seu dia e nós temíamos pelo fim do encontro. Um derradeiro beijo selou a amizade que rejuvenescia.

No silêncio, fazíamos juras de um amor impossível.