A MULHER QUE NÃO QUERIA AMAR

Sonhos são presentes de Deus. Há quem diga ser o primeiro passo pra atingirmos nossos objetivos, e eu assino embaixo. Tudo bem, muito provavelmente não contornarei o Cristo Redentor em um voo à la Superman, como fiz em uma dessas madrugadas. Mas tão surpreendente quanto, meu sonho de semana passada, com o perdão do trocadilho, não me permite mais dormir sossegado; agora tenho uma missão.

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Sonhar com mulher é coisa banal pra qualquer homem. Basta aquela cochiladinha no horário de almoço para o cara ser transferido pra uma ilha deserta com aquela gostosa do Big Brother. Eu seria clichê. Meu sonho seguia essa linha, mas não se tratava de uma qualquer. Se tratava dela, a mulher dos meus sonhos, perfeição em forma humana, interna e externamente.

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Dos detalhes, pouco minha memória gravou, mas seria bem possível reconhecer seu rosto a metros e metros de distância. Acordei com uma sensação diferente, gostosa e angustiante ao mesmo tempo. Era alegria seguida de tristeza. Relutei, mas foi em vão. Demorei pra admitir a mim mesmo, mas era evidente que eu havia me apaixonado pela garota do meu sonho.

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Não havia um lugarzinho mais fácil pra se conhecer alguém assim, do que no meu subconsciente? Carreguei essa pergunta comigo por um bom tempo, e confesso que foi um martírio. Mas como não sou de fugir da raia, resolvi dar início à minha saga em busca dessa onírica deusa. Por ser oriunda dos meus sonhos, dei-me o direito de desenhá-la conforme bem entendi: Ela seria inteligente, mas não metida a esperta. Apreciaria bons filmes, mas saberia exatamente o momento de assistirmos um romance piegas. Iria gostar de frequentar bons restaurantes, mas não abriria mão de uma boa roda de samba às sextas. Tomaria cerveja naquele boteco sujo da esquina sem problema algum, e diria que, na minha presença, qualquer lugar se tornaria o mais luxuoso palácio. Apreciaria os meus textos, e não sentiria ciúmes das mulheres neles citadas, pois seria conhecedora de seus encantos. Gostaria de casar e ter filhos, mas não agora. Se chorasse, faria o mundo estremecer. Se sorrisse, estremeceria em dobro. Acho que não estou pedindo demais...

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Resolvi procurar em cada ruela, esquina, padarias, açougues, locadoras, sinais de trânsito e salas de bate-papo. Procurei em cinemas, boates, cemitérios, motéis, no fundo do mar, na lua, em Vênus, Marte e Júpiter. Anunciei em outdoors, jornais, estampei seu rosto em cada revista, até ofereci recompensa. Mas nada. Nem sinal, nem vestígio, nem fagulha. Porque a mulher do meu sonho não queria se mostrar pra mim? Mas veja só, ela invade a minha noite de sono, vira a minha vida ao avesso e faz eu me apaixonar por alguém que só existe quando estou em outro plano, e pelo que parece, acha isso extremamente normal. Nunca achei que se esconder fosse a melhor opção... Será que ela realmente existe? Acho que a mulher do meu sonho não é tão perfeita assim. Aliás, até a mulher dos meus sonhos não seria tão perfeita assim...

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A verdade é que o nome disso não é amor. Fiz dela a mulher dos meus sonhos, e eu poderia percorrer o universo inteiro, mesmo assim não a encontraria. Ninguém é dotado do poder de construir amor. Amor de verdade é explícito, escancarado, sem vergonha, sem joguinho de charme, sem esconde-esconde. Quem tem amor se mostra, quem não tem, inventa, torna-se esquizofrênico por opção, alude ao sonhos, faz que é quimera.

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Foi aí que, em vez de procurar a mulher dos meus sonhos, procurei a mulher da minha vida.

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