Luara, a Índia que queria ser Estrela!

Luara nasceu numa pequena aldeia às margens do rio Araguaia. Neta do Pagé da tribo e filha mais velha do grande Cacique Acauã, a indiazinha começou a ser treinada, já aos quatro anos, para ser uma corajosa guerreira e proteger a sua tribo em caso de guerra com possíveis inimigos.

O tempo foi passando e a índia crescendo. Livre como um animal selvagem, ela banhava-se nas profundas águas do ‘Araguaia’, conhecia aquele pedaço da Amazônia como a palma da sua mão. Sabia de cada regato e cada gruta que por ali tivesse. Ligeira feito uma lebre, Luara corria e o vento desalinhava-lhe os cabelos, negros como a noite e lisos como as águas do ‘Araguaia’, que caiam-lhe até a cintura, emoldurando seu rosto de traços delicados, porém marcantes.

Apesar de toda aquela liberdade, a bela guerreira sentia uma saudade de algo que ela não conhecia. Uma saudade tão grande, que às vezes dava um aperto no peito e uma vontade incontrolável de chorar. E Luara matava essa saudade sempre que escurecia. Ela deitava-se ao relento e ficava ali, por horas a fio, contemplando as estrelas, como se elas fizessem parte do seu ser, do seu próprio eu.

E assim os dias seguiam sempre calmos, numa tranqüilidade que chegava até a enjoar. Luara, com seus afazeres coletivos sempre prestativa para com a sua comunidade e nunca se esquecendo de contemplar “suas amadas estrelas”.

Sua mãe lhe questionava sobre a paralisia que a contemplação das estrelas lha causava, ao que ela, sorrindo, respondia:

- Ah, minha mãe, eu queria tanto ter esse brilho, ser admirada assim, de longe!

E a mãe, carinhosa, dizia:

- Minha filha, o brilho vem de dentro, vem da alma e você é pura feito as estrelas, seu brilho reflete através dos seus olhos!

E Luara sorria um sorriso misturado com uma melancolia que ela não conseguia explicar.

Catorze anos passados, desde o nascimento da menina. Luara já é quase uma mulher, e seu pai tratou de arrumar um noivo pra ela, porque guerreira que se preze não podia ficar sem um bom marido.

O Cacique Acauã viajou até a tribo vizinha para tratar do noivado de Luara com o índio Piatã, forte guerreiro e também filho de Cacique, o chefe Ubiratã. Visita feita, noivado tratado, festa anunciada. Todas as tribos da região estavam cientes do grande acontecimento, do casamento dos belos guerreiros, Luara e Piatã.

Os preparativos pro casamento corriam a passos largos, pois os Caciques não queriam maiores delongas. Luara, após o casamento, mudar-se-ia para a tribo do seu esposo, como mandava o costume local.

Tão ocupados estavam todos com a proximidade do casamento, que não perceberam a mudança de comportamento de Kaloré, um dos guerreiros da tribo que Luara nasceu e cresceu. Desde crianças eles eram muito amigos e Kaloré sempre nutriu um profundo amor pela índia. Guerreiro forte e destemido achava-se no direito de ser o preferido a casar com ela.

Chegado o dia da celebração, que seria realizada pelo avô de Luara, o Pajé Nhandeara, Kaloré desapareceu. A noiva ficou enclausurada o dia todo na oca de sua família, cuidando de sua beleza e preparando-se para receber seu futuro marido.

Assim que o por do sol chegou, todos já estavam reunidos na grande cabana coletiva, que era utilizada para celebrações de extrema importância na tribo, ansiosos para ver a bela Luara em seus trajes nupciais.

Porém, num momento de ausência de Maiara, a mãe da futura noiva, Kaloré entrou furtivamente na oca e imobilizou Luara pelas costas, impedindo-a sequer de dar um grito de socorro. E com a amada nos braços, o guerreiro embrenhou-se mata adentro a fim de cancelar a cerimônia.

A essa altura, todos na tribo já tinham dado pelo sumiço da noiva, e estavam a sua procura pelos arredores da aldeia. Refeita do susto, Luara tentou convencer seu amigo a libertá-la, a deixá-la seguir seu destino, mas ele não se conformava em perder.

Kaloré havia levado sua amada para o lugar em que eles costumavam brincar quando crianças, uma pedra gigantesca que ficava no alto de uma cachoeira que se derramava em um pequeno riacho que lá em baixo corria. Aquele lugar para ele era sagrado e tamanha foi sua emoção, que agarrou Luara e tentou beijá-la com todas as suas forças. Porém Luara era livre,era bicho selvagem, não admitia ser presa e, corajosa, a índia guerreira esquivou-se e, num passo falso, escorregou e caiu cachoeira abaixo, libertando-se daquela prisão imposta por Kaloré.

A tribo toda chorou a morte da índia Luara. Kaloré, desesperado com o ocorrido, fugiu e sumiu mata adentro. A jovem guerreira foi enterrada ao pé daquela rocha e, no mesmo dia em ela dali caiu, uma linda estrela no céu surgiu. A maior e mais brilhante de todas. E até hoje ela brilha, com mais intensidade nas noites de lua cheia. Nessas noites, ouve-se, bem lá do meio da mata, um choro triste e desconsolado. Choro de quem, por egoísmo, perdeu pra sempre o seu grande amor, tendo que contentar-se apenas de longe com aquele brilho, que agora pertencia a todos!

Mi Guerra
Enviado por Mi Guerra em 30/09/2010
Reeditado em 28/03/2011
Código do texto: T2528822