Neurose
Ali estava o homem, sentado na sala de espera, sua perna balançava impulsionada pelo ávido movimento do seu tornozelo, pressionando com a ponta do pé o chão branco. Estava recostado numa poltrona almofadada, branca como tudo naquela antessala. Seus dedos batiam freneticamente no braço de madeira, os olhos fixados nos ponteiros do relógio pendurado à sua frente. Havia tanta atenção no passar dos segundos que nem mesmo sentia o conforto do seu assento.
A porta do consultório se abriu, alguém cujo rosto sequer se importou em ver saiu fechando a porta e dirigindo-se à saída. O telefone da secretária tocou.
Educadamente a secretária, após desligar o telefone, chamou-o uma vez. Sua concentração em sua angústia tapou-lhe os ouvidos. Elevando um pouco o tom da voz, sem perder a polidez, chamou-o novamente.
Levantou como num susto, com olhar afoito e passo que não ficavam atrás do seu olhar, adentrou a sala do médico, fechou a porta e assentou-se numa poltrona ainda mais confortável que a da recepção.
Por um instante observou a sala, viu os quadros postos na parede, pinceladas leves, com tons frios e calmos, todos emoldurados por uma grossa madeira bem trabalhada pintada de branco. Um pequeno rádio que estava no canto da sala tocava uma música instrumental, tão calma quanto os quadros.
O doutor, assentado à sua frente, com um bloco de notas em sua mão, perguntou-lhe tão sereno quanto todo aquele cenário:
- O que lhe traz aqui?
- Doutor, creio que estou com algum tipo de neurose.
- Mas o que lhe leva a crer nisso?
- Há uma pessoa... Uma pessoa que conheço a pouco tempo, mas... Parece que me persegue! Persegue meus pensamentos!
- E como é essa perseguição?
- Eu ouço os pássaros cantarem e ela me vem à cabeça, eu vejo um belo quadro e me lembro dela, eu ouço uma música bela e me vem ela, eu vejo uma flor desabrochando e lembro dela, eu ouço o vento cantando em minha janela e novamente lembro dela, eu olho para o céu limpo e claro e belo e lembro dela! Parece que tudo que eu admirava de uma forma estranha está hoje ligado a ela!
- Pronto, você já está liberado, nossa consulta acabou.
- Mas como acabou? O senhor não me disse nada, não vai me receitar nada? Como posso continuar assim?
- Está certo, vou lhe prescrever um tratamento. Será rápido, simples e indolor, mas certamente lhe ajudará.
Muito grato e já mais calmo ele pegou a receita da mão do doutor, agradeceu e saiu do consultório, após alguns passos fora daquele ambiente lembrou-se de ler a receita e surpreendeu-se ao ler:
“Vá a uma floricultura, compre um belo buque de rosas, escreva num cartão tudo que você falou no consultório, não esqueça de uma palavra, entregue a essa pessoa de quem me falou e diga a ela o como você está apaixonado.”