Eu Senti
Teu cheiro ainda tão presente.
Acalanto.
E o adeus pareceu por um minuto mentira.
É o meu memento de fingir... Faço alusão ao teu nome sem pronunciá-lo, o que seria um pecado imperdoável, afinal foi nosso pacto, o de esquecer-mo-nos um ao outro.
Aquele sorriso manso, quase imperceptível e totalmente forçado, cravejado pela tua saudade e pelo não amor, agora desaparece da minha face, não preciso mais mentir. Não agora.
Paços trôpegos pela casa, e sento-me na sala.
No horizonte o arrebol se expressa sem precisar de palavras, entardecer.
A simplicidade da cena me conquista, tenho fascínio por coisas simples. Não consigo entendê-las. Eu que sou uma eterna e permanente incógnita.
Deveria ser tão fácil viver sem você, era essa a idéia, sempre fora.
Os fantasmas do passado ainda rondam nossa casa, em todos os cantos vejo você lívido, dançando, cantando e obrigando-me a segui-lo sob pena de um ataque fulminante de cócegas.
Eram tantos risos.
Sentada no chão, abraço os joelhos e cantarolo nossa musiquínha, amanhã estarei melhor.
Certamente.
É que já é noite, é o milagre do anoitecer sempre me traz uma vontade sua.
É que também tenho o direito de sentir sua ausência.
Ainda ontem corríamos afoitos pelo jardim, ávidos, como crianças repletas de inocência, de amor.
Permito-me uma lágrima.
Só uma.
É que também tenho o direito de chorar tua total ausência, já que fingir força tenha sido minha única escapatória, agora que não tem ninguém por perto, confessar um choro parece justo. É minha oração de vá em paz e nos reencontraremos um dia, certamente.
Pego no sono e sonho com você dizendo obrigado, e o acidente, apesar de mortal, pareceu por um instante insignificante, você esteve aqui hoje.
Eu senti.