Tereza era Santa Demais!

       Juvenal andava nas ruas da angustura, entre tropeços e desacertos, sossego era lenda para o seu já tão cansado e andante coração, e em se tratando desta máquina venosa, o mesmo andava sempre dentro dos ditames da não lamentação, da caridade pura, e do amar ao próximo, possuía ele um terno e amável coração, mesmo diante das tantas travessuras que vez ou outra o destino aprontava com o mesmo, quando se tratava exclusivamente das coisas ligadas a encontrar um complemento para seu já tão citado inconformado, porém, esperançoso coração. Santo Antônio com ele já não queria prosa, este por tantas vezes dependurado,afogado, ameaçado e importunado anos a fio,mas, não tinha jeito, Juvenal mesmo diante de tantas preces e crenças sem vãs ilusões, continuava só em meio às suas mais amargas amorosas decepções.
       Em meio a tantas descrenças, apareceu do nada um lindo ser, como este ser era belo, amável, caridoso, afetuoso, era a donzela Tereza, que pedaço de mau caminho misturado a tanta beatitude em tão pouco metro quadrado, Juvenal no começo duvidou de sua abundante sorte, Juvenal não ganhava nem coxinha batendo linha de Bingo, só poderia ser obra do divino, e o era, estaria o já tão castigado e flagelado Santo Antônio desesperado no fundo de uma bacia afogado no canto do seu quarto e amordaçado fazendo Juvenal reacreditar no que estaria por vir?,tudo leva a crer que sim, Tereza era a mulher que Juvenal queria para si, com todas as qualidades e até defeitos que o remeteram ao mais constante, diuturno e já que tanto represado, incontido e até debochado sorrir, Juvenal deu graças aos céus em brado inigualável, e com Tereza começou a dividir os seus desejados sonhos e mais que já desacreditados devaneios acerca de um melhor, pleno e feliz advir.
       Tereza além de muito atenciosa, era intensamente carinhosa, e como essa mulher era bondosa, participava de dezenas de novenas, encontros fraternais, visitava creches e fazia catequeses doando toda sua candura aos mais necessitados, e Juvenal, ser também demasiadamente necessitado admirava toda dedicação desse seu tão lindo amor, Tereza era uma mulher envolvente, Juvenal estava em um pedacinho do céu e repetia por diversas vezes sorridente: --- Tereza você é uma santa, obrigado por na minha vida existir!
      Porém, reafirmando seu solitário é árduo destino, Tereza mudou de repente, nos olhos dela Juvenal não encontrava mais aquele refúgio de outrora, que antes repousavam seus mais insanos desejos moribundos de não ser mais um ser só, Tereza ficou indiferente com Juvenal, e não havia motivo aparente para tal comportamento tão radical, Tereza não mais ligava como antes para o afetuoso Juvenal, fugia de suas mais angustiantes divagações, Tereza estava fria com Juvenal, o paraíso de outrora se transformara na mais que dilacerante constatação, teria Tereza arrumado outro amor?,esta indagação passou a consumir as insanas divagações daquele ser, que de um dia para o outro reacreditou que a vida valeria a pena ser vivida, e que agora apenas anseiava de Tereza uma convincente explicação para amenizar as já ardidas chagas de seu tão buscante coração.
       Juvenal conseguiu se deparar com a bela Tereza, quanta beleza misturada a mais que recente disfarçatez, e seguiu-se o derradeiro diálogo que marcou para sempre a vida de Juvenal:

       --- Tereza santa de minha vida, onde andará o brilho dos olhos teus que não mais os encontro?, e quanto aos nossos mais fervorosos sonhos de uma vida feliz e plena a dois?,jurava eu você ser a tampa de minha já tão sambada panela!

       Tereza arregalou os olhos como que tomada por uma corrente pura de divina anunciação e respondeu:

       ---Juvenal amor meu, não posso mais no meu caminho te conceber, me desculpe, isso explica as minhas fugas de você!

       Preocupado com uns incômodos recentes em sua frondosa testa, Juvenal exclama:

       Minha bela e tão bondosa Tereza, teria você outro homem?, me fale, acabe com esta minha penosa angustura, não quero eu ser o último ser vivente a saber!!


       ---- Sim Juvenal!!!


       Juvenal escureceu a vista, maldisse a imagem de Santo Antônio que havia sido carinhosamente colocada em um adorno dourado em seu quarto desde o surgimento de Tereza, e prostou-se de joelhos ao chão bradando:

      --- Me diga Tereza, quem é ele?, eu sempre fui tão fiel a você, tão dedicado e delicado, como pode outro homem nesta tua vida você querer minha princesa vistosa?

       Tereza em tom sereno e manso, enxugando as lágrimas que já vertiam do dolorido e enlouquecido pranto de Juvenal, afirmou com segurança:

       --- Recebi um chamado, eu me casei com cristo, sou serva do senhor, sou agora a sua mulher mais devota, e com Jesus de hoje em diante eu vou viver, é algo sem volta Juvenal,me perdoe, sou casada eternamente com Jesus e a ele sou fiel, serei noviça!!

       Juvenal percebeu no olhar de Tereza a veracidade daquela afirmação, e isso lhe causou calafrios nunca antes sentidos, de joelhos ao quente chão, perplexado, e em inédito debochado verso poético, Juvenal faz a sua derradeira e dolorosa exclamação:

       ---Santo Antônio traiçoeiro flagelado no meu quarto, sairás do adorno lindo e dourado feito com latão soldado unicamente para te abrigar,se afogarás no fundo do meu sanitário, e não há prece neste mundo que irá te resgatar de lá, quanto ao sogro do meu amor mais esperado sou agora um anjo rebelado, concorrência desleal tu fosses me arrumar, sempre fui um homem devotado, Tereza para mim era o meu mais valioso achado e a ela eu ofertei o meu mais puro e sincero doar, essa coisa de pão multiplicado, andar sob as águas que rival mais abusado, sou um corno agora pagão e descomungado, ovelha infiel eis o meu duro legado, relatarei para sempre essa traição singular!

       Tereza dedicou toda a sua vida a um Convento das Madres Samaritanas, esse foi o seu mais dedicado legado, Juvenal não mais quis saber nem de amores, nem tampouco de crenças, orações e coisas relativas à fé, andava alucinado pelas ruas de sua pacata cidade, contando a todos a sua mais que terrível expiação vinda dos céus, uns afirmam que é uma história inventada devido a alguma loucura tardiamente adquirida, já outros acreditam ter sido a mais verdadeira e tragicômica história real de amor, não se sabe ao certo, só o que se sabe, é que Juvenal estava muitíssimo certo quando eloqüentemente e até por ironia do destino afirmava:

       --- Tereza você é uma santa, obrigado por na minha vida existir!


       Só não sabia Juvenal, que Tereza era santa demais!!!!
O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas)
Enviado por O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas) em 05/01/2011
Reeditado em 28/09/2013
Código do texto: T2710200
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