O CAFÉ VERMELHO DE DONA LAURA

Na cidade de Carnavalis, reina as plantações de café; duas famílias se sobressaem: os Vieiras e os Souzas. São concorrentes, mas vivem harmoniosamente, até o caçula dos Vieiras se apaixonar pela viúva dos Souzas. Dona Laura era seu nome, mulher honesta, recatada, bem quista na sociedade, boa mãe, boa amiga, ótima administradora (tanto que aumentou os negócios da família após tomar as rédeas de tudo pela viuvez).

Era mãe de três filhos, os gêmeos Ricardo e Roberto, com 20 anos e da caçula Rafaela de 18 anos. Tinha ela 40 anos quando ficou viúva; com a morte do marido, não de seu amor (pois tinha secreto no coração seu amor por Carlos Vieira, amiguinho desde o primário até a faculdade, onde os caminhos tomaram outros rumos, por isso o carinho com os filhos do amigo...), seu Gabriel Souza que com 50 anos estava quando morreu vítima do acidente com seu trator que caiu no brejo lá existente.

O caçula dos Vieiras, Eduardo, tinha 22 anos e era amigo dos gêmeos freqüentava a casa e tinha liberdade nela; até era conversa na alta sociedade de Carnavalis que as famílias seriam unidas pelo enlace de Eduardo e Rafaela... Mas qual o que, o destino pregou uma peça.

Pela doçura e cuidados (de mãe), de Dona Laura com Eduardo (este não tinha bom convívio com a mãe, pois ela só pensava em roupas e ficar bonita pro seu amor, sabia ela da quedinha de Dona Laura por Carlos e o carinho dele por ela), este passou a confundir os sentimentos e zelo. Começou a sonhar com a doce Laura, imaginava beijando-a, amando-a e sendo o senhor daquele casarão... E assim foi por um longo ano. Dona Laura percebeu os olhares e as insinuações de Eduardo, tanto que se afastou o quanto lhe foi possível, até diminuiu seus cuidados e atenção para com ele.

Ele por sua vez, escreveu-lhe inúmeras cartas de eterno amor, fez poemas, versos e lhe entregou através de um empregado. Ela certa vez falou-lhe tentando por juízo nele; mas não deu, e ele se aproveitando do momento que a sós estavam, agarrou-a e a teve como mulher num louco e frenético êxtase de insanidade; depois sumiu por um tempo.

Ela de alegre ficou triste, todos perceberam a mudança de comportamento da mãe, mas nada se falava; o silêncio tomou conta daquela casa...

Após uns meses, como nada aconteceu, mesmo sem jeito, Eduardo voltou a freqüentar a casa, agora mais espaçado era o tempo das visitas, pois queria o perdão da amada! Ela por sua vez, percebendo que suas regras não vinham, então junto com a tristeza veio o nervoso, a preocupação, esquecimento e o descuido com a plantação e os negócios da família que cresceram tanto graças a sua administração...

Os três filhos, Ricardo, Roberto e Rafaela, nada sabendo se dedicaram mais aos negócios da família, pensavam ser uma fase de lembrança do querido marido Gabriel, pai deles... Mas quando Dona Laura passou a vagar horas e horas, dia a dia pelo cafezal (que agora se encontrava todo maduro, todo vermelhinho, esperando a colheita e a torra), absorta em seus pensamentos, ficando mais no meio do cafezal que em casa e quando ouvia o nome de Eduardo, tremia, não conseguia falar, nem vê-lo, fugia para seu quarto quieta em silêncio. Os filhos preocupados com ela, chamaram um médico que diagnosticou; gravidez e forte stress... Questionada pelos filhos que foi, fugiu para o cafezal carregando um punhal. Naquela casa encontrava-se Eduardo preocupado com a saúde da amada, ao saber que ela fugira para o cafezal, foi com todos a procura dela, era o momento de pedir perdão a ela olhando-a nos olhos, pois desde aquele dia infernal não tinha paz...

Dona Laura ao ouvir a voz de Eduardo, tremeu e um filme passou-lhe na mente; só que nele não estavam os filhos, seu marido, nem nada, a não ser os fatos daquele fatídico dia de cão! Num golpe de louca emoção, o punhal rasgou seu já rasgado coração... Caindo em meio aos pés de café, agarrou neles e seus frutos vermelhos caíram sobre ela se misturando com o vermelho de seu sangue. Esses frutos, tal qual o seu, guardado no ventre e na dor da violação de sua confiança, não vão mais germinar e a alguém agradar... Os filhos e os empregados também corriam em meio ao cafezal em busca dela, mas quem primeiro a achou foi Eduardo, seguido de Roberto, filho dela. Eduardo correndo para Dona Laura a abraçou e rogou por seu perdão; ela num último esforço de mãe, no seu último minuto de vida conseguiu perdoar Eduardo pelo seu ato e olhando para seu filho Roberto que de pé olhava a cena, pediu desculpas pela fraqueza, pois em seu trans-louco ato, havia matado aquela criança (antes de nascer) que de nada tinha culpa e que era meia parte dela, como Roberto o era...

Suspirando o último fôlego de ar dessa vida, gritou: Eu sou uma assassina! E golfando sangue junto com as palavras, morreu em meio ao cafezal... Eduardo soltou um grito de dor e culpa que foi ouvido em toda Carnavalis.

Roberto filho de Dona Laura que a tudo ouvia e via, chorava silencioso a morte da mãe... e do amigo... pois daquele dia em diante Eduardo vaga pela alamedas de Carnavalis, até hoje, rindo, chorando e contando a todos que se prestam a ouvir; sua história de horror!...

(PEREZ SEREZEIRO)

José R.P.Monteiro – SCSul SP serezeiro@yahoo.com.br serezeiro@hotmail.com

Perez Serezeiro
Enviado por Perez Serezeiro em 16/01/2011
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