Casa, coração;

Era uma casa vazia, o que não significava silenciosa.

Não havia flores, animais e nem vida. Apenas a falta dela.

Não que houvesse ossos, marcas de sangue endurecido ou corpos em putrefação. A sujeira era apenas poeira pelo meu descuido. Nem o pequeno cuco no relógio de pêndulo se sentia à vontade para sair de sua pequena máquina de engrenagens e jatobá.

Os barulhos sempre existiram. Talvez desde o primeiro tijolo posto no pequeno terreno abandonado, que um dia fora um parque de diversões. O ranger, os passos, os ruídos, e, algumas vezes, a música.

Raramente a casa era ocupada por algo além de mim mesma. Não sei se as visitas casuais se assombravam com o aspecto da casa, com os barulhos ou talvez com a minha solidão. Tudo que eu sei é que elas partiam muito facilmente, pela porta da frente ou pelos fundos, mas… Como era difícil realmente tirá-las de lá.

Parecia que cada pegada estampada no chão empoeirado jamais sairia de lá. Afinal, se eu tentasse limpá-la, o chão seria marcado de uma forma mais visível. E, ao olhar as pegadas, não era apenas o choro que vinha à tona. Os fantasmas trancados no quarto se debatiam, faziam escândalos.

Algumas vezes a poeira rapidamente recobria as poucas pegadas deixadas por uns ou outros. Mas outras pessoas limpavam o chão de uma forma que ele jamais seria o mesmo, e a poeira de anos e anos não conseguiria cobrir-los.

Até mesmo quando você entrou na casa, com sua disposição estampada em um sorriso e em uma vassoura, os fantasmas não pararam.

Quantas vezes o barulho pareceu mais forte que a sua canção… Quantas vezes a canção deles, que tantas e tantas vezes me fizeram dormir em minha solidão, me tirou o sono ao seu lado... Quantas vezes eu achei estar no paraíso, mesmo dentro daquela assombrosa casa, e eles me trouxeram de volta ao inferno da solidão...

São apenas fantasmas. Eles não podem me empurrar, não podem me esfaquear, não podem me enforcar e não podem me tocar. Mas por que com tanta facilidade eles conseguem derrubar a minha pequena casa que eu e você sempre tentamos consertar?

Um dia você vai se cansar de lutar contra eles, como eu cansei. E eles não nos deixarão em paz.

Em breve, você partirá. Levando consigo não apenas a vassoura, mas o seu – e o meu – sorriso, deixando-me novamente com meus rangidos.

Que, quem sabe, aumentarão quando você se for.