MARTINHA

MARTINHA

A temperatura estava super alta. Leonel suava abundantemente. Seu lenço já estava completamente úmido. Tomou mais um copo de limonada gelada, voltou sua cadeira em direção ao sofá onde Martinha, estava esparramada, com seus cento e vinte quilos, com a blusa encharcada de suor, abanando-se furiosamente com uma revista de receitas culinárias. Acabara de dar ao esposo a notícia que ele seria papai. E de imediato foi avisando que estava com desejo de tomar sorvete de chocolate.

— E pode comprar uns dois potes de sorvetes.

¬¬— ¬Como foi que você foi se descuidar do anticoncepcional?

— Em três meses você me procurou somente uma vez, por que então iria usar pílulas?

Leonel tinha de concordar que sua libido diante do corpanzil de Martinha, resolvia andar nua na Sibéria. Gelava. Pela falta de uso, já vinha acreditando numa precoce impotência. Um dia, após uns uísques, ligou pra a loiraça da residência próxima da sua rica mansão que ao cuidar do seu jardim a tarde, dava para ele “umas democráticas bandeiras’. Esta após ter ouvido a melodramática história de Leonel e de sua falta de tesão pela esposa, com voz grave e incisiva pergunta:

— O senhor está pensando que sou uma mulher fácil?

— Desculpe, não era minha intenção ofendê-la — responde Leonel, certo que havia pisado na bola.

— Tudo bem, tudo bem. Sua sorte é que sou partidária dos combinados insertos no volumoso tratado da política de boa vizinhança. Assim, tão logo meu marido viaje, mando avisar e vou te quebrar o galho. Não me interprete mal. Repito, é só para te quebrar um galho, não sou mulher fácil.

“Ufa! Era tudo o que eu queria ouvir”. Respirou aliviado. Com esta resposta, seu corpo já começara a dar sinal de que ele estava vivo. Meteu a mão esquerda no bolso, tentando evitar que o mastro desse bandeira, tal quais aqueles adolescentes dos anos sessenta, após dançar um bolerão agarradinho.

Foi o revigoramento de Leonel e o nascimento de um insano relacionamento.

Ele já arquitetava planos para abandonar a tudo e a todos para continuar a viver aquela abrasadora paixão. Seu emocional era um show pirotécnico de final de ano.

Um dia Leonel tomou uma insana decisão. Encheu a Martinha de bebidas alcoólicas e conseguiu que ela assinasse um cheque em branco. Tinha certeza de que com o dinheiro que iria surrupiar da conta bancária de Martinha ele quadruplicaria nas roletas de cassinos. Assim ele e sua amada, teriam uma vida de milionários nos badalados balneários do planeta.¬

Ao som de “Emoções” Leonel, viajou no tempo. Martinha ao vê-lo olhando para ela com aquele olhar, não teve nenhuma dúvida. Leonel a amava. Em seus pensamentos, Leonel estava recordando de quanto Martinha era bonita no tempo de faculdade. Não era magra, mas, se cuidava e possuía um corpo muito atraente. E possuía um enorme atrativo, era milionária. Requisitos fundamentais para conquistar ele, o moço mais bonito da faculdade. Leonel, jogador inveterado, havia perdido todos seus bens em um cassino no exterior. Ao notar que agradava a bela ricaça, partiu para o golpe do casamento. Martinha, após alguns meses de casamento, divorciou-se da sua dieta e entrou com toda a volúpia em cima dos calóricos alimentos. O ponteiro da balança era megalomaníaco. Adorava três dígitos. Martinha aceitava comodamente o implacável resultado. Não dava folga ao prazer mastigatório. Adorava o cardápio italiano. Dia sim, dia não, fartas massas.

Leonel lembrou os últimos dias, quando recebeu a notícia que seria papai. Refeito o susto, Leonel até pensou na possibilidade de sugerir um aborto, mas, o pouco de dignidade que ele tinha, o impediu de mencionar esta possibilidade. Ao contrário, resolveu dar uma de marido realizado. Imediatamente chamou Graziela, uma bichona que fazia o papel de mordomo e chefe de cozinha em sua residência e por coincidência irmão gêmeo da sua amante, a vizinha loiraça. A bichona adorava Martinha e tinha por Leonel uma paixão secreta. Amava desesperadamente o patrão.

— Graziela, providencie um champanhe frances da adega, iremos brindar ao nosso futuro herdeiro.

— Oquêêê ???...Nãããão! não me diga que madame está gestante? Hippy Hurra vinte e quatro vezes!

— Ouí, meu amor! Estou gravidíssima. Agora apanhe o champanhe e nos faça companhia no brinde.

Uma semana depois, Graziela escuta por acaso, na extensão do telefone, uma conversa de Leonel com sua irmã. Ele comunicava a bela loira que já tinha retirado do banco uma vultuosa soma em dinheiro; que os passaportes e passagens aéreas compradas para a noite seguinte para o Japão, estavam tudo em ordem. Bastava ela fazer o check in; e para não despertar suspeitas eles deveriam viajar em bancos separados. Avisou ainda que Graziela iria ao entardecer levar à ela o passaporte. Graziela quase teve um chilique. Passou a noite em claro.

Dois dias depois, o avião aterrissou em Tóquio com dois brasileiros com alguns trocados na carteira e sem passagem de volta.

Graziela no dia seguinte ao da conversa telefonica, retirou todo o dinheiro da mala do patrão, com o dinheiro deixou, também uma carta para Martinha de despedida. Escreveu outra para sua irmã gêmea, informando-lhe que o sono repentino que a irmã tivera na noite que ela recebeu o passaporte, foi devido a um sonífero colocado na bebida quando esta a convidou para um cafezinho.

— Mana, com sua peruca loura e uma bela maquiagem e de óculos escuros, nem nossa mãe duvidaria que eu não era você. Adeus minha irmã, agora terei todo o tempo do mundo para tentar seduzir nosso homem, porradas já levei aos montes, to toda roxa!

Beijinhos mil!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Luiz Celso de Matos
Enviado por Luiz Celso de Matos em 16/02/2011
Código do texto: T2796189