Era uma vez um namorado

Nosso amor já não era mais o mesmo há algum tempo. Eu e o Beto havíamos caído em uma rotina irritante e o nosso namoro ía de mal a pior. Por isto fiquei surpresa quando ele me convidou para irmos a um barzinho. Enchi-me de esperanças. Achei que o Beto estava afim de revitalizar nosso relacionamento.

Encontramo-nos em um bar perto de casa. Logo que cheguei já vi que a cara dele não era das melhores, mas não desconfiei de nada. Ele pediu as bebidas e ficamos em silêncio até o garçom se afastar. Então minha curiosidade gritou mais alto.

- E aí? O que você tem para me dizer?

O infeliz foi direto:

- Me apaixonei por outra.

Meu suco fez uma parada na garganta e depois desceu goela abaixo com alguma dificuldade.

- Ah é? - comentei, fingindo pouco caso.

O Beto perdeu a linha. Ele devia ter vindo preparado para um surto meu e agora eu estava ali, encarando-o com uma expressão blasé. Por dentro eu me consumia, mas eu preferia perder a mão do que demonstrar o tamanho da minha rejeição.

- Bem, eu... Foi mais forte que eu.

Tomei um pouco mais do meu suco de melancia, fazendo de conta que estávamos levando uma conversa normal.

- Obrigada por ter me dito antes que eu soubesse por outras pessoas.

- Na verdade, sua mãe iria revelar tudo. Mas preferi eu mesmo contar.

- O que minha mãe tem a ver com isto? - perguntei, sem entender bem.

- É que... é ela.

- Ela o quê? - minha compostura estava indo pelo ralo.

- É com ela que vou me casar.

Pela minha mente passaram os vários adjetivos que meu pai sempre chamara minha mãe, principalmente depois do divórcio. Agora eu estava querendo concordar com cada palavra dele.

- Bem - disse eu, respirando fundo e controlando a vontade enorme de tocar o suco na cara do Beto - acho que vocês fazem um belo par.

Ele não se deu conta do meu deboche. O sorriso do meu agora ex-namorado foi de orelha a orelha.

- Ela é uma mulher incrível. A gente se sente super bem um com o outro. É impressionante como fechamos em tudo.

- É mesmo?

- Mas veja bem - disse o Beto, colocando a mão no meu braço, preocupado - nós sempre respeitamos você. Podíamos ter feito tudo escondido, mas não! Nosso jogo é limpo.

- Bom, muito obrigada pela informação - agradeci, pegando minha bolsa e tentando sair com alguma dignidade daquele bar - Passar bem.

- Espera! - pediu ele, fazendo com que eu sentasse de novo - Puxa, nossa maior preocupação é não magoar você. Vamos continuar amigos, afinal vou entrar para sua família.

- Sim, papai - ironizei, encarando o Beto, para mentir em seguida - Mas na verdade eu tenho aula de para-quedas agora e estou um pouco atrasada.

- Tudo bem. Eu respeito você. Boa aula. Eu... nem sabia que você saltava de para-quedas.

- Ah, mais uma coisinha - e peguei um pedaço do guardanapo onde, com uma caneta, anotei meu nome e celular - Quando teu pai se separar da chata da tua mãe, diz para ele me ligar. Sempre achei aqueles cabelos grisalhos um charme.

Saí do bar de nariz empinado, jogando meus cabelos para trás, tentando me sentir o último gás da Coca Cola. Recebi alguns olhares masculinos, o que muito me encheu de orgulho.

Garotos, estou na área.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 23/02/2011
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